Gostamos de ter amigos e de receber amigos. O que vale mais
ser amigo ou ter amigos? É bonito ver as crianças dizerem: Meu amigo,
referindo-se a um colega. Sabemos que temos muitos conhecidos, mas poucos
amigos. Há muitas descrições de amigos, muitas afirmações, como por exemplo:
Amigo é aquele que é capaz de mostrar quando estou errado. Ou chega sempre nos
momentos difíceis. Outra afirmação: Só se conhece um amigo depois de comer
muito sal com ele. A amizade não exclui e nem domina as pessoas. Amigo é nome
de liberdade. Amigos que se veem raramente quando se encontram, parece que se
viram ontem. Amigo vai além daquele que está junto sempre. Esses passam. O
amigo fica. Na verdade, temos poucos amigos. Ou nenhum. Há muita reflexão e
palavras bonitas sobre a amizade. O que vale não é ter amigos, mas ser amigo.
“Amigo” é uma palavra que está muito ligada à realidade do amor como Jesus
ensina: por-se a serviço. Amigo não cobra presença, não exige atitudes nem
impõe modelo. Não admite exclusão. É uma atração para construir juntos um modo
de vida de liberdade que se dedica. É
amigo, quando os amigos são amigos do amigo. Amizade é liberdade. Ser amigo
como Jesus era amigo. Era capaz de exigir vida, sem impor modelo. Cada apóstolo
era diferente do outro. Jesus não exigiu que fossem iguais, não impôs. Ele era
o amigo. Quando Judas o trai, chama-o de amigo. Não deixou de ser amigo, quando
ele não foi amigo.
1967.
Amizade espiritual
É de se perguntar
o quanto sou amigo. Além da amizade humana, cheia de riquezas e maravilhas, temos
a amizade espiritual. Esse é o desafio. O que é um amigo espiritual? Aquele que
divide comigo o caminho espiritual. Crescemos juntos em Deus e na Igreja. É
aquele com quem partilho minhas experiências de Deus. Buscamos juntos o
espiritual. Amamos o mesmo Deus e nos dedicamos à Igreja e seus ministérios com
o mesmo entusiasmo. Somos capazes de partilhar as fragilidades e pecados. Não é
um ente fora de outro mundo, invisível, que nos acompanha, protege e abençoa.
Mesmo aqui continuamos amigos de nós mesmos procurando quem nos cuide. Não é um
que passa a mão na cabeça, mas que se estimulam ao crescimento. É triste sermos
isolados, solitários no caminho espiritual. Pior ainda quando na vida de
Igreja, como sacerdotes e religiosos, religiosas, vivemos a solidão espiritual.
É um sinal claro de que não aprendemos o amor de Jesus. Ele é o amigo que vamos
amar juntos. Não dispensa que tenhamos amigos. Assim cresce nosso vigor
espiritual. Temos um Amigo em comum. Os redentoristas têm dois santos que eram
amigos espirituais: São João Neumann e Beato Francisco Seelos. Faziam juntos o
caminho de dedicação a Deus.
1968. Amigo dos inimigos
Somos
ainda marcados, no campo da amizade, com a figura dos inimigos. Esses são
aqueles que nos amam de modo diferente. É doloroso quando temos essa cruz na
vida. Não amar não é bom, não ser amado não pode nos perturbar. Acaba provando
dor e mesmo levando ao pecado por causa de nossa fragilidade. Vemos essa chaga
dentro das famílias. O melhor remédio é não levar aos outros o que sentimos e
prejudicar a pessoa. Quando se abrir a porta à amizade, ao bom relacionamento, não
se deve fugir. Não se pode deixar que o mal nos faça mal. É muito bom não
entrar na briga dos outros e não tomar partido. Ficamos em dúvida quando
comungamos com esses problemas de “raivas”. O importante é rezar por esses
“inimigos”. Onde não chegamos, chega nossa oração. A comunhão cura nosso
coração.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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