No Tempo do Natal temos diversas celebrações que continuam a memória do Mistério da Encarnação que acompanha toda a vida de Cristo. Se por um lado há uma tendência em acentuar tanto sua Divindade que perdemos de vista sua Humanidade, por outro acontece acentuar tanto o aspecto humano que esquece o Divino. Pela fé cremos na união das duas naturezas e na sua total unidade e integridade: Homem-Deus. Maria e José vão ao templo para os ritos após o nascimento do primogênito. Ele pertence a Deus e tem que ser resgatado: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor” (Lc 2,23), conforme está escrito na lei do Senhor (Ex 13,2). Trata-se de um rito de família. Ali estão os pais reconhecendo a propriedade que Deus tem sobre o Filho. Jesus pertence ao Pai. Nesse momento é reconhecido por Simeão que vivia a esperança de Israel, isto é, a vinda do Messias. Quem assim vivia era movido pelo Espírito Santo. Notamos que os filhos pertencem a Deus e, se temos o Espírito, vamos reconhecer neles a presença de Deus que age para o bem. Criamos os filhos para Deus. Na profecia deste ancião está indicada sua missão: salvação para os que creem e perda para os que não acolhem. É o mistério da recusa. Diante de Cristo não há meios termos ou indiferença. A Igreja participa dessa condição de Jesus e sofre também a espada que atravessa o coração por ver a recusa do Evangelho e o sofrimento dos filhos perseguidos. Cumpre também a profecia feita por Simeão a Maria: Uma espada atravessará tua alma (Lc 2,35).
Revestir-se das virtudes
A Palavra de Deus convida a nos revestirmos de Cristo. Revestir-se não é uma atitude exterior, mas ação da graça. Quando Paulo estimula a nos revestirmos das virtudes, está mostrando os efeitos da presença de Cristo em nós que gera um procedimento coerente. Não há o que mais destrua a força de Cristo em nós que a incoerência, isto é, crer e não agir como crê. O apóstolo, conhecedor da vida de família, enumera as virtudes na família e na comunidade: Revestir-se de misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência, suportar-se e perdoar-se mutuamente. E retoma o fundamento: “Amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição”. Reine a paz e sede agradecidos. Viver a vida cristã é viver a Palavra. Um ajude o outro admoestando para superar os males. A oração é a costura de todas essas virtudes. Todas as atividades sejam feitas em Cristo, dando graças a Deus por meio dele. O relacionamento familiar insiste na preocupação de uns pelos outros no mútuo acolhimento e dedicação. Quando se diz imitar a Sagrada Família, é realizar na vida esse projeto.
Envelhecer no Espírito
O próprio Jesus é apresentado como modelo a ser seguido: “E o Menino crescia e se tornava forte, cheio de sabedoria; a graça de Deus estava com Ele” (40). É um projeto formativo para as famílias cristãs: Crescimento integral: físico, intelectual e espiritual. Sem isso temos a degradação da sociedade. Simeão e Ana, as duas figuras apresentadas hoje, mostram que envelhecer no Espírito é saber encontrar e identificar Messias e sua ação. O livro do Eclesiástico mostra a força do quarto mandamento, que é o primeiro da segunda tábua, colocando como condição para ter o perdão dos pecados e força da oração o respeito e atenção aos pais, sobretudo, envelhecidos. Celebrar o Natal do Senhor é deixar Jesus nascer em nossas casas através das virtudes do Redentor, tão bem vividas por sua Mãe.
Leituras: Eclesiástico 3,3-7.14-17ª;
Salmo 127;
Colossenses 3,12-21; Lucas 2,22-40
1. O Evangelho quer, mostrando os ritos a apresentação de Jesus no templo, acentuar sua pertença ao Pai e sua humanidade. Ele deve ser resgatado, segundo a lei. Como Simeão, se tivermos o Espírito reconheceremos a presença do Messias. Na profecia desse ancião está a missão de salvação e a queda de muitos. A Igreja sofre também a recusa.
2. A Palavra nos convida a nos revestirmos de Cristo. Paulo ensina que esse revestir-se acontece através das virtudes. Elas se resumem no amor. A oração é a costura de todas as virtudes. Viver a vida cristã é viver a Palavra.
3. O crescimento de Jesus como homem é o modelo a ser seguido. É o crescimento integral. Simeão e Ana mostram como envelhecer cheio do Espírito. A obediência ao quarto mandamento é condição para o perdão dos pecados e a força da oração. Celebrar o Natal é deixar Jesus crescer em nossas casas através das virtudes do Redentor, tão bem vividas por sua Mãe
A vez dos velhos
A celebração da Sagrada Família não é só uma lembrança, mas um projeto de vida como lemos no evangelho da celebração: Unidos realizam os ritos necessários para a vida da comunidade; Ouvem a Palavra de Deus através da experiência do velho Simeão e de Ana; Aprendem que o valor de viver sob a inspiração do Espírito Santo; Entendem que Jesus é o Messias, mas que deve ser educado como homem, pois cresce em todos os sentidos; Sabem que Ele deve crescer na ciência de Deus.
A sociedade atual descarta os velhos. Na cultura africana, que conheci, ter um velho é ter um tesouro. Diziam: quando morre um velho, queimou-se uma biblioteca. É uma sabedoria que a sociedade perdeu. Com isso perdemos valores e a formação nas virtudes anunciadas por Paulo. Ali está o modo de viver cristão.
Este é o primeiro mandamento na referente ao próximo. E é o único com uma promessa de vida boa e longa (Ex 20,12 e Ef 6,1-3). Deus recompensa quem cuida de seus pais. Examinemos se alguns dos males que sofremos não provêm da desobediência a esse mandamento! O Eclesiástico põe aí a condição de sermos perdoados dos pecados e ouvidos em nossa oração.
Homilia Sagrada Família Jesus, Maria José (28.12.2014)
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