Evangelho segundo S. João 20,2-8.
No primeiro
dia da semana, Maria Madalena foi ter com Simão Pedro e com o discípulo
predileto de Jesus e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos
onde O puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao
sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se,
correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto,
chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras
no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as
ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara
primeiro ao sepulcro: viu e acreditou.
Tradução litúrgica da
Bíblia
Comentário do dia:
Orígenes (c. 185-253),
presbítero, teólogo
Comentário ao Evangelho de São João, I, 21-25
«E o Verbo fez-Se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a
sua glória, [...] cheia de graça e de verdade» (Jo 1,14)
Considero serem os quatro evangelhos os
elementos essenciais da fé da Igreja [...] e penso que as suas primícias estão
[...] no evangelho de João, o qual, para falar daquele de quem outros fizeram a
genealogia, se inicia precisamente por Aquele que não a tem. Com efeito,
escrevendo para judeus que esperavam o descendente de Abraão e de David, Mateus
diz: «Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão» (Mt 1,1); e
Marcos, sabendo muito bem o que escreve, traz: «Princípio do evangelho» (Mc
1,1). Já em João encontramos o fim do evangelho: é o Verbo que era no princípio,
a Palavra de Deus (cf 1,1). Também Lucas reservou ao discípulo que repousou
sobre o peito de Jesus (Jo 13,25) os maiores e mais perfeitos discursos sobre
Ele. E nenhum mostrou a sua divindade de modo tão absoluto como João, que O faz
dizer: «Eu sou a luz do mundo» (8,12), «Eu sou o caminho, a verdade e a vida»
(14,6), «Eu sou a ressurreição» (11,25), «Eu sou a porta» (10,9), «Eu sou o Bom
Pastor» (10,11), e, no Apocalipse: «Eu sou o alfa e o ómega, o primeiro e o
último, o princípio e o fim» (22,13).
Por isso me atrevo a dizer que os
evangelhos são as primícias de toda a Escritura e que, dos evangelhos, as
primícias são o de João, cujo sentido completo ninguém seria capaz de abarcar se
não tivesse descansado sobre o peito de Jesus e recebido dele Maria por Mãe (Jo
19,27). [...] Quando Jesus diz a sua Mãe: «Eis o teu filho» e não: «Eis o homem
que também é teu filho», é como se lhe dissesse: «Eis o teu filho, gerado por
ti», porquanto quem chega a viver em perfeição, não é ele quem vive, mas Cristo
que vive nele (Gal 2,20). [...] Será preciso ainda dizer de que inteligência
temos necessidade para podermos interpretar dignamente a palavra depositada,
como um tesouro (2Cor 4,7), nos vasos de barro do uso comum da linguagem, numa
caligrafia que todos podem ler, a palavra que todos podem ouvir se alguém lhe
der voz e compreender se prestarem atenção? Assim, para interpretarmos
devidamente o evangelho de João, em boa verdade basta-nos ser capazes de dizer:
«Quanto a nós, temos o pensamento de Cristo, para podermos conhecer os dons da
graça de Deus» (1Cor 2,16.12).
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