sábado, 24 de dezembro de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Crescer em idade e graça”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
843. Jesus é modelo de crescimento
            A Vida Divina em nós exige um permanente crescer em Cristo. A vida é sempre nova num desenvolvimento integral, nas diversas áreas do ser humano e espiritual. Religião é uma estrutura. Fé está sempre em movimento. Jesus é sempre o exemplar. Quando Ele se extraviou na festa em Jerusalém, não está relatando um acontecimento. É uma instrução sobre sua ligação com o Pai: “Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai? (Lc 2,49). Por outro lado, o texto ensina sua profunda condição humana ligada a uma família: “Meu filho, porque agistes assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos” (Lc 2,48). Jesus era de condição divina, mas humana que é seu ser. Por isso, Lucas conclui a infância de Jesus com as palavras: “Desceu então com eles para Nazaré, e era-lhes submisso... E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 1,51-52). “Cresce na consciência e no exercício da própria missão. Sofre a prova e a fraqueza da condição humana, fora o pecado; aprende a experiência do amar, obedecer e morrer” (Hb 4,15;5,8). Ele faz o caminho da vida e ao mesmo tempo é o caminho para seus seguidores. Ele se chama de caminho: “Eu sou o caminho” (Jo 14.6). Sendo caminho, Ele é o modelo de se fazer o caminho, conduz no caminho e é a força ao caminhante. Se até Jesus cresceu, porque nós temos dificuldades em aceitar mudar, crescer, procurar novos caminhos espirituais. Não se pode parar nem na glória eterna: “Todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2Cor 3,18). Nunca estamos prontos. Parar é regredir. Se estamos bem, achamos que não temos o que melhorar. Isso mostra nosso desconhecimento da fé.
844. Contínua revisão
            Se no Céu nós estaremos crescendo e em uma velocidade eterna, quanto mais devemos ter esforço, quando ainda somos frágeis e ainda pequenos. O crescimento faz parte da grandeza do cristão. Maria também cresceu no conhecimento de seu Filho e em seu amor. Também ela experimentou as noites da fé, como vemos em Jesus. O dom do discernimento dado pelo Espírito toca nossa capacidade de autocrítica e de saber discernir sobre nossa própria vida espiritual. O primeiro passo é sempre ter consciência de que não estamos completos nem somos perfeitos. Não podemos ter a atitude doentia do escrúpulo ou da insegurança sobre nós mesmos. Discernindo o que somos sob a luz do Espírito e da Palavra de Deus, podemos ter uma segurança humana, não absoluta onde estamos. Um segundo passo é tender a maior perfeição, sem ficar nos martirizando, mas procurando com serenidade o melhor. Outro passo é não ter medo da fragilidade. Saber-se fraco é crescer.
845. Configurando-se a Jesus
            Nossa preocupação deve ser configurar-nos a Cristo. O Pai nos quer sempre mais semelhantes e parecidos com seu Filho: “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho...” (Rm 8,29). Nós conhecemos a pessoa de Jesus nos evangelhos e não em revelações, em livros de piedade, e mesmo em certas colocações de pregadores. Se estiverem de acordo com a Palavra, são muito bons. Às vezes usamos o Evangelho para provar nossas idéias e interpretamos a partir de nosso modo de ver. Assim fazemos um Jesus a nossa imagem e não nós a sua imagem. Há muito de política em nosso modo de interpretar o Evangelho. Puxamos a sardinha para nossa brasa.

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