Evangelho segundo S. Mateus 6,24-34.
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ninguém pode servir a dois senhores,
porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o
outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso vos digo: «Não
vos preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem, quanto ao
vosso corpo, com o que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o
corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu: não semeiam nem
ceifam nem recolhem em celeiros; o vosso Pai celeste as sustenta. Não valeis vós
muito mais do que elas? Quem de entre vós, por mais que se preocupe, pode
acrescentar um só côvado à sua estatura? E porque vos inquietais com o
vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao
forno, não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos inquieteis,
dizendo: ‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que havemos de vestir?’ Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai
celeste que precisais de tudo isso. Procurai primeiro o reino de Deus e a
sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo. Portanto, não vos
inquieteis com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã tratará das suas
inquietações. A cada dia basta o seu cuidado».
Da Bíblia
Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Rafael Arnaiz Barón (1911-1938),
monge trapista espanhol
Escritos espirituais, 04/03/1938
«Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será
lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca
fé?»
Em nome do Deus santo, tomo hoje a pena para
que as minhas palavras, que se imprimem sobre a folha branca, sirvam de louvor
perpétuo ao Deus bendito, autor da minha vida, da minha alma, do meu coração.
Gostaria que o universo inteiro, com os planetas, todos os astros e os inúmeros
sistemas estelares, fosse uma imensa extensão, polida e brilhante, onde eu
pudesse escrever o nome de Deus. Gostaria que a minha voz fosse mais potente que
mil trovões, mais forte que o estrépito do mar, e mais terrível que o bramido
dos vulcões, para dizer apenas: Deus! Gostaria que o meu coração fosse tão
grande como o céu, puro como o dos anjos, simples como o da pomba (Mt 10,16),
para nele pôr Deus! Mas, dado que toda esta grandeza com que sonhaste não se
pode tornar realidade, contenta-te com pouco e contigo, que não és nada, Irmão
Rafael, porque o nada deve bastar-te [...].
Por quê calar? Por que
escondê-lO? Por que não gritar ao mundo inteiro e bradar aos quatro ventos as
maravilhas de Deus? Por que não dizer às pessoas e a todos os que quiserem
entender: vêem o que sou? Vêem o que fui? Vêem a minha miséria que se arrasta na
lama? Pouco importa: maravilhem-se; apesar de tudo, possuo Deus. Deus é meu
amigo! Deus ama-me, a mim, com tal amor que, se o mundo inteiro o compreendesse,
todas as criaturas ficariam loucas e bramiriam de assombro. Mas isso ainda é
pouco. Deus ama-me tanto, que nem os próprios anjos o compreendem! (cf 1Ped
1,12) A misericórdia de Deus é grande! Amar-me, a mim, ser meu Amigo, meu Irmão,
meu Pai, meu Senhor, sendo Ele Deus, e eu o que sou!
Ah, meu Jesus,
não tenho nem papel, nem pena. Que posso dizer! Como não enlouquecer?
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