A
espiritualidade da Unção dos Enfermos estimula-nos a estar próximos e presentes
aos doentes e moribundos. Um jovem médico belga Michel Englebert, dos Médicos
sem Fronteira, que trabalhava em Angola, também no Kwito-Bié, contou-me sua
experiência de médico no hospital na Bélgica: “Eu ia para junto daqueles que
estavam ali, sem esperança de vida, velhos, sozinhos. Eu pegava na mão deles e
ficava conversando para que se sentissem amados”. É o que acontece com tantas
pessoas: abandonadas nos hospitais, ou clínicas, ou asilos. Em um hospital
psiquiátrico, uma velhinha ficou anos, olhando para a porta, esperando seus
filhos chegarem para uma visita. Isso dói. E quantos casos. A espiritualidade
nos convida a ir até esses solitários. A medicina se desenvolveu tanto, mas a
sensibilidade para com o doente decresceu vertiginosamente. As pessoas, na
doença, sentem muita necessidade de ter alguém por perto, pois perdem-se as
forças interiores de resistência. Uma presença amiga, tanto de familiares como
de amigos, se faz muito importante. Por esse gesto, Jesus se faz presente junto
ao doente. O sacramento do irmão é fundamental nesse momento. Jesus dirá no
juízo final: “Estive doente e me visitastes?... Todas as vezes que fizestes
isso, foi a mim que o fizestes”. O doente é, para quem o visita, a pessoa de
Jesus. Realiza-se uma extensão do sacramento do encontro com Cristo no momento
da dor e sofrimento. Anotamos aqui o valor do ministério da distribuição da
Comunhão aos doentes. Tantas vezes é a única visita que recebem, a de Jesus. É
maravilhosa essa inovação da Igreja. Os doentes saíram ganhando e ganharam
Jesus. E quanto de vitalidade esses ministros recebem, eles próprios, para sua
espiritualidade. São beneficiados também.
329. De mãos dadas no caminho
Não
somente os doentes acamados necessitam da graça abundante desse sacramento,
como também os que vivem situações de sofrimento interno ou em sua vida. São
doenças ou sofrimentos que a presença amiga pode aliviar. “Quem encontra um
amigo, encontrou um tesouro”. A amizade espiritual é um caminho magnífico para
o alívio de tantos males e instrumento de crescimento espiritual e humano. É
uma das funções dos sacerdotes. Saber ser amigo como Jesus sabia ser. Jesus era
amigo de Lázaro e suas irmãs Marta e Maria. Lázaro é chamado de amigo amado:
“está enfermo aquele que Tu amas” (Jo 11,3). É uma amizade que gera vida. É
necessário ter amigos que, mais que companheiros do dia a dia, sejam
companheiros ou companheiras da vida espiritual. Falamos de direção espiritual.
Poderíamos dizer melhor: amizade espiritual, para crescer junto no caminho
espiritual. É uma medicina preventiva da vida espiritual.
330. Repartindo a dor
Podemos
dizer que, se nós sacerdotes visitássemos mais as famílias enlutadas, teríamos
igrejas mais cheias. São abandonados à própria dor. É o momento em que mais necessitam. É
justamente o momento em que mais são abandonados pelos da igreja. Há outros que
se aproveitam. É um momento privilegiado da missão da Igreja. Jesus se
compadecia muito daqueles que haviam perdido entes queridos, como vemos no caso
da ressurreição do filho da viúva de Naim, na ressurreição de Lázaro e da
menina. Na morte de Lázaro Ele chora ao ver a dor das irmãs. Se ele ressuscitou
esses e não os outros, está a nos dizer da importância de estarmos junto aos
enlutados, pois esse é um caminho de ressurreição. O sacramento da unção cura a
dor da morte.
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