A vida do Padre Tous foi uma vida cheia de provações e dificuldades, externas e internas, como a saúde delicada que sempre o acompanhou. Mas ele, em meio à adversidade e cruzes, foi fazendo o seu caminho e dando frutos de virtudes heróicas cristãs. Portanto, para ele, vamos aplicar, com a alegria da Páscoa, estas palavras que diz o autor do livro do Apocalipse: "Estes são os que vêm da grande tribulação, lavaram as suas mãos no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus adorando-O dia e de noite no seu templo "(Ap 7,14-15).
Certamente não faltam tribulações na vida do Padre Tous. Embora arrancado da vida de clausura, pelas disposições civis de seu tempo, conseguiu ser em todos os momentos de sua vida um fiel seguidor das observâncias da espiritualidade franciscana e da Ordem dos Capuchinhos. Nunca se deixa vencer pelo amargura ou ressentimento, pelas acusações ou ataques. Nada o impediu de seguir a sua primeira vocação do capuchinho. Ele era um homem de grande caridade, com uma grande capacidade de suportar e compreender as falhas dos outros. Muitas situações na vida também mostram a sua grande disponibilidade para acolher e perdoar. Na verdade, ele passou pela vida fazendo o bem, como seu Senhor, e promover a "paz e bem", como seu professor e pai em espírito, São Francisco de Assis.
Cardeal Tarcisio Bertone – Homilia de Beatificação –
25 de abril de 2010
O Beato José Tous y Soler nasceu no século XIX e viveu a maior parte de sua vida em Espanha. O século XIX caracterizou-se pela instabilidade política, social e econômica, pela supressão das Ordens religiosas e algumas perseguições contra a Igreja, com prisão, expulsão dos religiosos dos seus conventos, e, para muitos, a experiência do exílio forçado. Nos anos mais dramáticos houve tumultos e violentos conflitos, com a destruição de igrejas. A Espanha iniciou o século sendo invadida pela França e encerrou-o com guerras de além mar e a perda das últimas colônias do império.
Nesta intricada situação político-social e num ambiente fortemente anticlerical, a Igreja espanhola caracterizou-se, em todo o século XIX, por um florescimento de fortes personalidades, que souberam enfrentar com a audácia da fé e um intenso empenho no âmbito educativo e caritativo, os desafios advindos das mudanças culturais e sociais, particularmente na Catalunha, onde viveu o nosso Beato.
José Tous y Soler, nasceu na província de Barcelona a 31 de março de 1811, ele era o nono dos doze filhos de Nicolás Tous Carrera e Francisca Soler Ferrer, uma família abastada, de profundas raízes cristãs. O papel da família na vida e na formação do pequeno José foi fundamental. Foi ali que ele recebeu os primeiros germes da fé, do amor e do temor de Deus, que com o tempo haveriam de produzir nele frutos de autêntica santidade.
Em 1820, a família de José transferiu-se para Barcelona, em busca de uma melhor situação de trabalho. Foi ali que o futuro Beato conheceu os capuchinhos e pediu para ser admitido na Ordem. Aos 16 anos de idade, vestiu o hábito capuchinho no noviciado de Sarriá, convento conhecido como "o deserto". Desde os anos de sua formação inicial revelou-se um religioso de grande virtude. Os testemunhos dos irmãos falam da sua exemplaridade no recolhimento, da sua sólida piedade, da sua pronta obediência, da humildade, da pureza e da sua plena fidelidade ao carisma franciscano-capuchinho.
No dia 24 de maio de 1834 foi ordenado sacerdote e pouco depois foi enviado ao convento Santa Madrona em Barcelona, onde se distinguiu pela fidelidade ao ministério sacerdotal e por uma profunda vida interior, alimentada por uma íntima relação com Jesus crucificado, com Jesus Eucaristia e com Maria, a Mãe do Bom Pastor, devoções que marcaram profundamente a sua vida.
No convento de Santa Madrona o surpreendeu a revolta social de 1835. Em junho desse mesmo ano, por causa da supressão dos conventos decretada pelo governo, ele foi encarcerado com seus confrades na fortaleza de Monjuic, em Barcelona. Libertado depois de 18 dias, iniciou o duro caminho do exílio, que o levou primeiro à França e em seguida ao norte da Itália. Em 1836 retornou à França, residindo em Grenoble, Marselha e na diocese de Tolosa. Ali completou os estudos de moral, conseguindo o título de pregador, segundo as normas então estabelecidas pela Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Neste período exercitou o ministério sacerdotal como capelão das monjas Beneditinas da Adoração Perpétua.
Frei José, embora obrigado a residir fora do convento e empenhado em intensa atividade pastoral, permaneceu sempre um autêntico frade capuchinho, vivendo como pobre, cultivando a humildade, o amor ao silêncio, à vida de oração e dedicando-se às necessidades materiais e espirituais de quantos encontrava.
Dois testemunhos excepcionais do seu apostolado e a sua vida de piedade nos anos de exílio na França:
bispo de Tolosa, Dom Paul D'Artrós, em um atestado de 28 agosto de 1842, assim escrevia: "Atestamos e certificamos que o nosso dileto em Cristo, José Tous, presbítero espanhol, residente em nossa cidade metropolitana há cerca de seis anos, pela pureza de fé, integridade de costumes e a excelência nas virtudes eclesiásticas, mereceu a estima de todos, por este motivo afirmamos que o dito sacerdote, seja acolhido da melhor maneira possível, de modo benigno seja onde for e admitido à celebração da Santa Missa, salvo a permissão do Superior competente”.
Igualmente as religiosas Beneditinas, das quais foi capelão, atestam com firmeza no seu livro das Crônicas a sua vida de devoção, a piedade e o amor à pobreza. Elas escrevem: "Ele leva consigo o nosso afeto".
Em 1843 ele retornou à Espanha com a esperança de reintegrar-se na vida conventual capuchinha, mas as leis 'liberais' do tempo o impediram. Foi então residir com a sua família, permanecendo sempre fiel ao estilo austero e penitente da vida capuchinha. Exerceu o ministério sacerdotal na paróquia de Esparragure (Barcelona), e a partir de 1848, na paróquia de São Francisco de Paula, também em Barcelona. Mostrou-se sempre alegre no viver a sua consagração a Deus, mesmo quando teve de enfrentar tribulações, angústias e até injúrias à sua pessoa de sacerdote e religioso.
Foi na paróquia de São Francisco de Paula que o nosso Beato compreendeu o quanto a infância e a juventude de seu tempo estavam em estado de abandono, tanto espiritual como material, exatamente "como ovelhas sem Pastor" (Mt 9,36). Assumiu então o serviço de Diretor espiritual da "Pia Associação da gloriosa e pequena mártir santa Romana", promovendo a veneração à Mãe do Bom Pastor.
Solicitado por algumas jovens da Associação, que lhe pediam para empenhar-se no serviço de educação cristã das crianças e das jovens, em março de 1850 ele fundou o Instituto das Irmãs Capuchinhas da Mãe de Deus do Divino Pastor.
Frei José redigiu pessoalmente as Constituições do Instituto que fundou e apresentou-as ao bispo de Vic Dom Luciano Casadevall. Nelas estão bem claros os dois pontos de apoio sobre os quais surgiu a nova família religiosa: a devoção a Maria, Mãe do Divino Pastor e o serviço educativo à infância e à juventude.
O Instituto cresceu e se desenvolveu rapidamente acompanhado pela constante solicitude pastoral de frei José, que dedicou-se em particular à formação espiritual das religiosas. Em 1888 o Instituto recebeu o Decretum laudis e em 1897 a aprovação. Em 1905 ele foi agregado à Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.
Frei José encontrou a irmã morte no dia 27 de fevereiro de 1871, enquanto celebrava a Eucaristia no colégio da Mãe do Divino Pastor em Barcelona. Podemos dizer que a sua vida, verdadeiramente foi a celebração contínua do Mistério da Santa Missa. Com a sua morte apagava-se a luz de um "santo religioso", autêntico filho de Francisco de Assis.
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