Santo Papa Paulo VI escreveu: “É no meio das suas desgraças que os nossos contemporâneos precisam de conhecer a alegria e de ouvir o seu canto”. Hoje, Jesus convida-nos a voltar às fontes da alegria, que são o encontro com Ele, a opção corajosa de arriscar para O seguir, o gosto de deixar tudo para abraçar o seu caminho. Os Santos percorreram este caminho.
Fê-lo Paulo VI, seguindo o exemplo do Apóstolo cujo nome assumira. Como ele, consumiu a vida pelo Evangelho de Cristo, cruzando novas fronteiras e fazendo-se testemunha d’Ele no anúncio e no diálogo, profeta duma Igreja extroversa que olha para os distantes e cuida dos pobres.
Mesmo nas fadigas e no meio das incompreensões, Paulo VI testemunhou de forma apaixonada a beleza e a alegria de seguir totalmente Jesus.
Hoje continua a exortar-nos, juntamente com o Concílio de que foi sábio timoneiro, a que vivamos a nossa vocação comum: a vocação universal à santidade; não às meias medidas, mas à santidade.
Papa Francisco – Homilia de canonização
14 de outubro de 2018
O Papa Paulo VI, Giovanni Battista Montini, faleceu em 6 agosto de 1978 depois de um pontificado de 15 anos iniciado em 1963.
O milagre que permitiu a beatificação ocorreu nos Estados Unidos em 2001, quando um feto no quinto mês de gravidez entrou em condições críticas pela ruptura da bolsa, a presença de líquido no abdômen, e a ausência de líquido na bolsa amniótica. O diagnóstico médico previa a morte do bebê ainda no ventre materno e, caso sobrevivesse ficaria com má-formação inevitável. A mãe foi aconselhada a interromper a gravidez, mas ela se negou a fazer um aborto. Acompanhada por uma religiosa italiana recorreu à intercessão de Paulo VI.
Depois, a situação foi melhorando e o menino nasceu bem aos oito meses em um parto por cesárea. A consultoria médica da Congregação para as Causas dos Santos certificou a cura inexplicável do ponto de vista da ciência médica e os teólogos do dicastério reconheceram que o milagre aconteceu pela intercessão pedida a Paulo VI.
Ele protagonizou importantes mudanças na Igreja. Algumas de natureza ecumênica, como o seu inesquecível abraço com o patriarca Atenágoras e o mútuo levantamento das excomunhões. Outras mudanças de índole pastoral, como ter iniciado a era moderna das viagens pontifícias com as suas visitas a Terra Santa, a Índia ou a ONU. Além disso, promulgou em 1969 a reforma litúrgica.
Giovanni Battista Montini nasceu em Concesio, próximo da Bréscia, em 26 de setembro de 1897. Desde pequeno ele nutriu grande amor pelo estudo, acolhendo o chamado sacerdotal, ingressou aos 19 anos no Seminário de Bréscia.Ordenado aos 23 anos, dirigiu-se a Roma para aperfeiçoar seus conhecimentos teológicos.
Ali mesmo realizou estudos também na academia pontifícia de estudos diplomáticos e, em 1922, ingressou ao serviço papal como membro da Secretaria de Estado. Em maio de 1923 foi nomeado secretário do Núncio de Varsóvia, cargo que por sua frágil saúde, teve que abandonar no final do mesmo ano. De volta a Roma e trabalhando novamente na Secretaria de Estado da Santa Sé, o padre Montini dedicou grande parte de seus esforços apostólicos ao movimento italiano de estudantes católicos (1924 – 1933), exercendo ali um importante trabalho pastoral. Em 1931, aos seus 32 anos, lhe era concedida a cadeira de História Diplomática na Academia Diplomática.
Em 1937 foi nomeado assistente do Cardeal Pacelli, que então desempenhava o cargo de Secretário de Estado. Neste posto de serviço, Monsenhor Montini prestaria um valioso apoio na ajuda que a Santa Sé brindou a numerosos refugiados e presos de guerra.
Em 1944, já sob o pontificado de Pio XII, foi nomeado diretor de assuntos eclesiásticos internos e oito anos mais tarde, pró-secretário de Estado.
Em 1954, o Papa Pio XII o nomeou Arcebispo de Milão. O novo Arcebispo haveria de enfrentar muitos desafios, sendo o mais delicado de todos o problema social. Entregando-se com grande energia ao cuidado do rebanho que se lhe confiava, desenvolveu um plano pastoral que teria como pontos centrais a preocupação pelos problemas sociais, a aproximação dos trabalhadores industriais à Igreja e a renovação da vida litúrgica. Pelo respeito e confiança que soube ganhar por parte da imensa multidão de operários, Montini seria conhecido como o “Arcebispo dos operários”.
Em dezembro de 1958 foi escolhido Cardeal por João XXIII que, ao mesmo tempo, lhe outorgou um importante rol na preparação do Concílio Vaticano II ao nomeá-lo seu assistente. Durante estes anos, prévios ao Concílio, o Cardeal Montini realizou algumas viagens importantes: Estados Unidos (1960); Dublin (1961); África (1962).
O Cardeal Montini contava com 66 anos quando foi eleito sucessor do Pontífice João XXIII, em 21 de junho de 1963, tomando o nome de Paulo VI.
Três dias antes de sua coroação, realizada em 30 de junho, o novo Papa dava a conhecer a todos os programa de seu pontificado: Seu primeiro e principal esforço se orientava à culminação e posta em marcha ao grande Concílio, convocado e inaugurado por seu predecessor. Além disto, o anúncio universal do Evangelho, o trabalho em favor da unidade dos cristãos e do diálogo com os não crentes, a paz e solidariedade na ordem social – esta em escala mundial -, mereceriam sua especial preocupação pastoral.
O pontificado de Paulo VI está profundamente vinculado ao Concílio, tanto em seu desenvolvimento como na imediata aplicação.
Em sua primeira encíclica, a pragmática Ecclesiam suam, publicada em 1966 ao finalizar a segunda sessão do Concílio, estabelecia que eram três os caminhos pelos que o Espírito Santo lhe impulsionava a conduzir a Igreja, respondendo aos “ventos de renovação” que desenrolavam as velas da barca de Pedro.
Dizia ele mesmo no dia anterior à publicação de sua encíclica Ecclesiam suam: “O primeiro caminho é espiritual; se refere à consciência que a Igreja deve ter e fomentar de si mesma. O segundo é moral; se refere à renovação ascética, prática, canônica, que a Igreja necessita para dispor-se à consciência mencionada, para ser pura, santa, forte, autêntica. E o terceiro caminho é apostólico; o temos designado com termos hoje em voga: o diálogo; quer dizer, se refere este caminho ao modo, a arte, ao estilo que a Igreja deve infundir em sua atividade ministerial no concerto dissonante, volúvel e complexo do mundo contemporâneo. Consciência, renovação, diálogo, são os caminhos que hoje se abrem ante à Igreja viva e que formam os três capítulos da encíclica”.
Paulo VI deixou um rico legado em seus muitos escritos. Dentro dessa longa lista cabe ressaltar a encíclica Populorum progressio, a qual trata sobre o tema do desenvolvimento integral da pessoa. Esta encíclica foi a base para a Conferência dos Bispos Latino-Americanos em Medelim.
Também merece ser especialmente mencionada a exortação Evangelii nuntiandi, carta magna da evangelização, que põe enfaticamente o anúncio de Jesus Cristo no coração da missão da Igreja. Para muitos, esta carta veio de algum modo, completar e aprofundar a Gaudium et spes. Além disso, constituiu o pano de fundo da III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Puebla.
São muito significativos também todos os ensinamentos dados por ocasião do Ano Santo da Reconciliação, em 1975, o que se manifesta em uma importante exortação apostólica: A Reconciliação dentro da Igreja.
Por outro lado, é também de especial importância O Credo do Povo de Deus. Nele, o Papa Paulo VI faz uma formosa profissão de fé, que reafirma as verdades que se crê e vive no Corpo Místico de Cristo, tomando assim uma firme postura diante de não poucos intentos de agressão que sofria a fé cristã. A herança que deixou à Igreja com todos os seus escritos é muito importante e valiosa.
Após seu incansável trabalho em favor da Igreja a que tanto amor mostrou, morreu em 6 de agosto de 1978, na Festa da Transfiguração (que curiosamente foi também a data da publicação da encíclica que anunciava o programa de seu pontificado).
Ele deixou escrito para todos em seu “Testamento”:
«Fixo o olhar no mistério da morte e do que a ela segue à luz de Cristo, o único que a esclarece; olho, portanto, para a morte com confiança, humilde e serenamente. Percebo a verdade que esse mistério projetou sempre sobre a vida presente e bendigo ao Vencedor da morte por haver dissipado em mim as trevas e descoberto a luz.
Por isso, ante a morte e a separação total e definitiva da vida presente, sinto o dever de celebrar o dom, a fortuna, a beleza, o destino desta mesma fugaz existência: Senhor, te dou graças porque me chamaste à vida e mais ainda porque me regeneraste e destinaste à plenitude da vida».
O que inspirou o Papa Paulo VI a viver como Pastor universal do rebanho do Senhor, o resume o Papa João Paulo II em um valiosíssimo testemunho, pois ele – como ele mesmo disse – pôde “observar de perto” sua atividade:
“Me maravilham sempre sua profunda prudência e valentia, assim como sua constância e paciência no difícil período pós-conciliar de seu pontificado. Como timão da Igreja, barca de Pedro, sabia conservar uma tranquilidade e um equilíbrio providencial, inclusive, nos momentos mais críticos, quando parecia que ela era sacudida por dentro, mantendo uma esperança constante em sua compatibilidade” (Redemptor hominis, 3).
“em quinze anos de pontificado, este Papa demonstrou não só a mim, mas a todo o mundo, como se ama, como se serve e como se trabalha e sofre pela Igreja de Cristo”.
Foi beatificado em 19 de outubro de 2014 e canonizado em 14 de outubro de 2018 pelo Papa Francisco.
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