segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Santa Gertrudes, a Grande - 16 de novembro

Gertrudes, a Grande
     É certo que Gertrudes era de uma família abastada, mas sabemos apenas que ela nasceu em Eisleben, Alemanha, no ano 1256. Não era de família nobre, como acreditaram alguns, confundindo-a com Gertrudes, a Abadessa de Helfta. Seus pais a colocaram como aluna das beneditinas de Roderdorf quando tinha apenas cinco anos.
     Muito piedosa e culta, Gertrudes de Hackeborn vendo a estupenda inteligência de sua homônima, incentivou-a muito não apenas na observância monástica, mas também nas atividades intelectuais que Santa Lioba e suas freiras anglo-saxãs haviam transmitido às suas fundações na Germânia.
     A pequena Gertrudes encantava a todos. “Nessa alma, Deus reuniu o brilho e o frescor das mais belas flores à candura da inocência, de maneira que encantava todos os olhares como atraía todos os corações”, diz sua biógrafa e contemporânea.
     Como vimos acima, a comunidade transferiu-se para Helfta e a Abadia seguia na época a regra cisterciense. Para uma jovem de seu tempo, não era coisa tão comum, mas Gertrudes recebeu uma cultura universal e clássica. Estudou latim, filosofia e teologia; se comprazia com a leitura de Virgílio e Cícero, e a filosofia de Aristóteles.     A educação de Gertrudes foi confiada à irmã da priora, Matilde de Hackeborn, muito adiantada na via mística e na santidade. Esta procurava incutir nas almas de suas alunas o fogo do amor de Deus que devorava seu coração. E encontrou em Gertrudes um campo propício para isso.
     A narração das experiências místicas de Matilde, Lux divinitatis, constitui um elegante texto poético. Por volta de 1290, Matilde tivera uma visão relacionada com a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Estas religiosas eram influências decisivas na vida interior de muitas jovens que delas se aproximavam, e certamente devem ter influenciado Gertrudes.
     Em 27 de janeiro de 1281, depois de um mês de terrível provação, Nosso Senhor apareceu-lhe e fez-lhe compreender sua falta: “Provaste a terra com meus inimigos e sugaste algumas gotas de mel entre os espinhos. Volta a mim, e te inebriarei na torrente de meu divino amor”.  E, como dirá ela mesma, o Senhor "mais brilhante que toda luz, mais profundo do que qualquer segredo, docemente começou a aplacar aquela perturbação que havia entrado em meu coração".
     Nessa visão, não de modo visível externamente, foram-lhe impressos os sagrados estigmas de Cristo Senhor Nosso, e em seguida foi agraciada com êxtases.
     Após tais acontecimentos, que ela chama de “sua conversão”, entregou-se com ardor ao estudo da teologia escolástica e mística, da Sagrada Escritura e dos Padres da Igreja, sobretudo de Santo Agostinho, São Gregório Magno, São Bernardo e Hugo de São Vítor.
     No mosteiro ela não exercia outra função senão a de irmã-substituta da irmã-cantora, Santa Matilde. Apesar de sempre doente e lutando tenazmente contra suas paixões, atendia às inúmeras pessoas que a vinham consultar. Gertrudes desejaria viver na solidão, mas as notícias correm e pessoas chegam ao mosteiro para fazerem confidências, para interrogá-la, ou simplesmente para vê-la.
     E esta contemplativa enferma tem momentos de assombrosa atividade no contato com as pessoas e no empenho em divulgar-lhes a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e o culto a São José. A outros mais distantes auxilia com seus escritos, a exemplo de Matilde, e o faz com elegância que é fruto de seus estudos. O empenho da adolescência e da juventude na disciplina escolástica preparara Gertrudes para ser uma apóstola do modo adequado ao seu tempo. E é uma precursora de Santa Teresa d'Ávila e de Santa Margarida Maria Alacoque.
     Santa Gertrudes foi objeto das complacências divinas, como mais tarde haveria de ser Santa Margarida Maria Alacoque. Ambas penetraram no amor íntimo de Jesus, embora de maneira diversa.
     Santa Gertrudes é a Santa da Humanidade de Jesus Cristo e a teóloga do Sagrado Coração. Ela vê o Coração Divino não com a coroa de espinhos e a cruz; não se sente chamada à vocação especial de vítima expiatória pelos pecados do mundo. A chaga do peito que Jesus lhe apresenta é uma porta dourada por onde ela entra. Como São João Evangelista, ela repousa sobre o peito de Jesus, onde seu Coração é para ela um banho de purificação, um asilo e um descanso.
     Um dia Gertrudes não pôde assistir com as Irmãs uma conferência espiritual. Apareceu-lhe o Senhor e lhe disse: “Queres, minha queridíssima, que o sermão o faça Eu?” Ela aceitou e Jesus fez que ela descansasse sobre o seu Coração e ela ouviu duas pulsações: “Com estas duas pulsações opero Eu a salvação dos homens”, disse-lhe Ele. A primeira pulsação servia para tornar o Pai propício aos pecadores, para lhes desculpar a malícia e movê-los à contrição; a segunda era um grito de alegria e congratulação pela eficácia do sangue de Jesus na salvação dos justos. Era um grito que atraía os bons para trabalharem constantemente na obra de sua perfeição.
     Num ano em que o frio ameaçava os homens, animais e colheitas, durante a Missa Santa Gertrudes implorava a Deus que desse remédio a esses males. E teve a seguinte resposta: “Filha, hás de saber que todas tuas orações são ouvidas”. Ao que ela replicou: “Senhor, dai-me a prova desta bondade fazendo com que cessem os rigores do frio”. Ao sair da igreja, a santa notou que os caminhos estavam inundados pela água produzida pela neve derretida. O tempo favorável continuou, e começou mais cedo a primavera.
     A fama de santidade acompanhava Gertrudes já em vida e perdurou no tempo. As suas obras, o Arauto da bondade divina e os sete Exercícios, em belíssima prosa latina, foram editadas no século XVI pelo cartuxo João Lamperge e foram logo traduzidas para várias línguas europeias.
     Os especialistas afirmam que os livros da Santa Gertrudes, junto com as obras de Santa Teresa d'Ávila e de Santa Catarina de Sena, são as obras mais úteis que uma mulher tenha dado à Igreja para alimentar a piedade das pessoas que se dedicam à vida contemplativa.
     Santa Gertrudes havia escrito uma preparação para a morte, para proveito dos fiéis. Consistia em um retiro de cinco dias, o primeiro dos quais consagrado a considerar a última enfermidade; o segundo, a confissão; o terceiro, a unção dos enfermos; o quarto, a comunhão; e o quinto a dispor-se para a morte. Certamente ela se preparou desse modo para seu falecimento, que ocorreu no Mosteiro de Helfta, em 17 de novembro de 1302.
     Gertrudes já era considerada santa no momento de sua morte; Clemente XII incluiu o seu ofício no Calendário Romano em 1677. Mas somente em 1739 o seu culto foi estendido à Igreja Universal.
     Santa Teresa de Ávila e São Francisco de Sales promoveram muito o culto a essa santa extraordinária. Gertrudes é uma das padroeiras dos escritores católicos.

A famosa Abadia de Helfta foi fundada por Gertrudes de Hackeborn. Gertrudes pertencia à dinastia dos Hackeborn e era irmã de Santa Matilde de Hackeborn (¹).     Bem jovem entrara na abadia cisterciense de Roderdorf e foi eleita abadessa em 1251. Em 1253, fundou o convento de Hederleben com a ajuda de seus dois irmãos, Alberto e Luís, mas, como faltasse água ali, deram-lhe o Castelo de Helpeda (Helfta), próximo de Eisleben (moderna Alemanha) e as terras ao seu arredor. Em 1258 ela mudou-se para Helfta com toda a comunidade.Durante o período em que Gertrudes foi abadessa, Helfta tornou-se famosa em todo o Sacro Império Romano-Germânico, devido às práticas de ascetismo de suas monjas, ao misticismo de algumas e da grande capacidade intelectual que abrilhantou a vida monástica feminina da Idade Média. Gertrudes exigia que suas religiosas fossem educadas nas artes liberais, mas acima de tudo tivessem amplo conhecimento das Escrituras. Era considerada um modelo de abadessa, mais especialmente por sua conduta durante o ano de enfermidade que precedeu o seu falecimento.Gertrudes de Hackeborn nunca escreveu, nem recebeu qualquer revelação de Deus, nem tão pouco foi canonizada. Não deve ser confundida com Santa Gertrudes, a Grande. http://heroinasdacristandade.blogspot.com/

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