sexta-feira, 19 de outubro de 2018

REFLETINDO A PALAVRA - “O rei está dormindo”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
50 ANOS CONSAGRADO
1552.Uma nuvem poderosa nos encobriu
A liturgia da Igreja no ofício das leituras da Liturgia das Horas do Sábado Santo traz uma homilia do século IV, de autor desconhecido. Reflete esse momento da vida, ou melhor, da morte de Jesus, o tempo em que esteve na sepultura. O Sábado Santo parece estar fora de nossa reflexão. Não passa de um feriado agitado. Viver esse dia é retomar o silêncio de Cristo morto e sepultado. O silêncio sagrado não é por causa de Cristo que morreu, mas por causa de nós mesmos que entramos nessa nuvem misteriosa que é o silêncio de Deus. Silenciar não é calar os sentidos, mas despojar-se de tudo que nos impede de acolher Deus em nossa vida. É entrar na nuvem da presença misteriosa de Deus. Cristo morto no sepulcro se entregara totalmente ao Pai, como dissera na cruz: “em vossas mãos entrego o meu espírito”. Por isso tem a energia de ressuscitar, pois quem O ressuscita é o Pai ao qual se entregara, não considerando a morte como um fim. Despojar nos leva sempre a buscar ouvir. Nessa condição, tudo o que é agitação  não atinge o coração. Jesus morto não é só um fato, mas um momento de se viver a fé: “Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos”. Como é um dado da fé, corresponde a um modo de viver. Dormir pode também significar repousar. Com a vitória de Cristo a morte não é um fim, mas uma passagem. Acompanhar o Cristo em sua sepultura é entrar em seu relacionamento de entrega a Deus. Jesus o explica quando ensina amar a Deus e ao próximo. Este é o modo de fazer morrer o egoísmo e entrar na nuvem onde age Deus. É certo que silenciar também é um resultado. Poucas coisas serão necessárias para quem vive o silêncio de Jesus. O Senhor nos absorve as atenções e nos ocuparmos com Ele.
1553. Acorda tu que dormes
            Na oração do Creio se rezava “desceu aos infernos”. Não se tratava do Inferno, mas da condição dos justos que esperavam a Ressurreição. Jesus entra nessa condição para  mostrar que a redenção é para todos, também os justos que já morreram. Nesse sentido o texto citado fala do encontro de Cristo com Adão, simbolizando todo ser humano. Cristo é a Vida dos mortos. As pinturas sobre esse momento mostram Cristo arrebentando as portas que impediam a entrada no Reino da Glória. Saindo da mansão dos mortos entram para a mansão eterna, o Céu. Estão abertos os tesouros de todos os bens e o Reino dos Céus preparado para o homem desde toda eternidade. O que se perdeu pelo pecado, ganhou-se com a graça da Ressurreição.  Também a nós é dirigida a advertência “acorda tu que dormes... pois sobre ti Cristo resplandecerá” (Ef 5,14).
1554. A noite da Passagem
 Esse sono não obscurece nosso coração. Por isso é necessário entrar na obscuridade da nuvem da presença de Deus e despertar-nos para Ele. Os judeus passaram a noite na vigília da Páscoa, prontos para partir para a libertação, vendo a sua volta a morte dos primogênitos egípcios. O silêncio de morte que reinou, agora reina como silêncio de vida na espera da Ressurreição que nos dá a vida nova. A bela simbologia da Ressurreição se inicia com a cerimônia do fogo novo que, símbolo de Cristo Ressuscitado, ilumina as trevas de nossa mente. O silêncio grandioso da morte continua no silêncio do Ressuscitado. Ele se manifesta sem rumor abrindo os corações dos discípulos à fé e à força do Espírito que é silencioso. A Páscoa nos convida a não perder de vista o Deus que se manifesta na suave brisa. Mesmo no rumor do mundo, o coração que conserva a paz e o silêncio terá condições de ver o Ressuscitado.
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