A liturgia da Igreja no ofício das leituras da
Liturgia das Horas do Sábado Santo traz uma homilia do século IV, de autor
desconhecido. Reflete esse momento da vida, ou melhor, da morte de Jesus, o
tempo em que esteve na sepultura. O Sábado Santo parece estar fora de nossa
reflexão. Não passa de um feriado agitado. Viver esse dia é retomar o silêncio
de Cristo morto e sepultado. O silêncio sagrado não é por causa de Cristo que
morreu, mas por causa de nós mesmos que entramos nessa nuvem misteriosa que é o
silêncio de Deus. Silenciar não é calar os sentidos, mas despojar-se de tudo
que nos impede de acolher Deus em nossa vida. É entrar na nuvem da presença
misteriosa de Deus. Cristo morto no sepulcro se entregara totalmente ao Pai,
como dissera na cruz: “em vossas mãos entrego o meu espírito”. Por isso tem a
energia de ressuscitar, pois quem O ressuscita é o Pai ao qual se entregara,
não considerando a morte como um fim. Despojar nos leva sempre a buscar ouvir.
Nessa condição, tudo o que é agitação não atinge o coração. Jesus morto não é só um fato,
mas um momento de se viver a fé: “Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado,
morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos”. Como é um dado da fé,
corresponde a um modo de viver. Dormir pode também significar repousar. Com a
vitória de Cristo a morte não é um fim, mas uma passagem. Acompanhar o Cristo
em sua sepultura é entrar em seu relacionamento de entrega a Deus. Jesus o explica
quando ensina amar a Deus e ao próximo. Este é o modo de fazer morrer o egoísmo
e entrar na nuvem onde age Deus. É certo que silenciar também é um resultado.
Poucas coisas serão necessárias para quem vive o silêncio de Jesus. O Senhor
nos absorve as atenções e nos ocuparmos com Ele.
1553.
Acorda tu que dormes
Na
oração do Creio se rezava “desceu aos infernos”. Não se tratava do Inferno, mas
da condição dos justos que esperavam a Ressurreição. Jesus entra nessa condição
para mostrar que a redenção é para
todos, também os justos que já morreram. Nesse sentido o texto citado fala do
encontro de Cristo com Adão, simbolizando todo ser humano. Cristo é a Vida dos
mortos. As pinturas sobre esse momento mostram Cristo arrebentando as portas
que impediam a entrada no Reino da Glória. Saindo da mansão dos mortos entram
para a mansão eterna, o Céu. Estão abertos os tesouros de todos os bens e o
Reino dos Céus preparado para o homem desde toda eternidade. O que se perdeu
pelo pecado, ganhou-se com a graça da Ressurreição. Também a nós é dirigida a advertência “acorda
tu que dormes... pois sobre ti Cristo resplandecerá” (Ef 5,14).
1554.
A noite da Passagem
Esse sono não obscurece nosso coração. Por
isso é necessário entrar na obscuridade da nuvem da presença de Deus e
despertar-nos para Ele. Os judeus passaram a noite na vigília da Páscoa,
prontos para partir para a libertação, vendo a sua volta a morte dos
primogênitos egípcios. O silêncio de morte que reinou, agora reina como
silêncio de vida na espera da Ressurreição que nos dá a vida nova. A bela
simbologia da Ressurreição se inicia com a cerimônia do fogo novo que, símbolo
de Cristo Ressuscitado, ilumina as trevas de nossa mente. O silêncio grandioso
da morte continua no silêncio do Ressuscitado. Ele se manifesta sem rumor
abrindo os corações dos discípulos à fé e à força do Espírito que é silencioso.
A Páscoa nos convida a não perder de vista o Deus que se manifesta na suave
brisa. Mesmo no rumor do mundo, o coração que conserva a paz e o silêncio terá
condições de ver o Ressuscitado.
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