Marcos,
na composição de seu evangelho, colhe dos primeiros cristãos ou das pregações
de Pedro os ensinamentos de Jesus. Marcos não quer fazer um relato de milagres,
mas mostrar que o Reino de Deus implantou no mundo sua energia (Mc 1,15-16). Os milagres são expressão e
anúncio. Não se trata de um novo médico, mas de um Salvador. Se não fosse assim
haveria injustiça em Jesus que não curou a todos. A liturgia deste domingo
proclama a grande fragilidade do povo, sujeito a tantos males e a força
salvadora de Jesus. Na primeira leitura ouvimos o lamento dolorido de Jó. Mais
que um personagem histórico, representa a humanidade que pergunta por que o
justo sofre. O texto escolhido quer mostrar a que estado de sofrimento chega a
pessoa humana. Jó, depois de tanto sofrimento, lamenta: “Não é uma luta a vida
do homem sobre a terra? Seus dias não são como do mercenário?” (Jó 7,1);
“A vida é um sopro (7). A partir do
sofrimento de Jó entramos no texto do evangelho de Marcos. Num sábado, dia
santificado, Jesus sai da sinagoga e vai à casa de Simão. Falam-lhe da sogra de
Pedro que estava com febre. Pegou-a pela mão, ajudou-a a levantar-se. E a febre
a deixou (Mc 1,30). Ao entardecer todo
povo veio trazendo seus doentes e endemoniados (32).
Ele os curou. Vemos aí a procissão de dores da humanidade. Na sociedade há uma
grande chaga de dor, que de tantos modos, corrói o corpo e a mente das pessoas.
Ele sara os corações
Diante
de todos os sofrimentos, Jesus anuncia o Reino que cura os males na sua raiz,
por isso diz o texto: “Tirou muitos demônios” (34).
A cura dos males e a purificação dos doentes tem um sentido em vista do Reino. É
o que lemos na cura da sogra de Pedro. Ela foi curada e pôs a serví-los. A cura
não é para si, mas para o serviço do Reino, na pessoa dos discípulos. As forças
do mal reconhecem o senhorio de Jesus. Nosso relacionamento com Jesus, em
nossos sofrimentos, é uma busca de vida, de cura e superação de nossos males.
Mas se ficarmos só nisso e não formos produtivos e serviçais pelo Reino, não
seremos renovados. Usamos o Reino egoisticamente, o que não nos traz salvação.
A atitude de Jesus ao curar as pessoas é integrá-las em sua obra redentora. Ele
convida a ir a outras aldeias e aí anunciar. A pregação de milagres é um grande
prejuízo para o conhecimento de Jesus. Ele não veio para isso, mas para mudar o
homem por dentro.
Alegria de evangelizar
Na
carta de Paulo aos Coríntios podemos entender o que ocorre em quem teve sua
fragilidade curada por Jesus: evangelizar para mim é uma necessidade. Sua
pedagogia e prática é fazer-se escravo de todos, eu me fiz tudo (1Cor 9,22). Desde Pentecostes, até hoje, contemplamos
o alegre vigor apostólico dos discípulos de Jesus, curados pela fé. Como o
próprio Jesus, os discípulos encontram o vigor apostólico no diálogo íntimo com
o Pai (Mc, 1,35). Percebemos nas comunidades muito vigor apostólico, mas não seguimos
Jesus em sua busca do Pai. Esse diálogo era o alimento de seu apostolado.
Precisamos fazer uma grande revisão de nossas Eucaristias que ficam na
superfície e não nos penetra para curar do mal que nos isola do Reino. Nem sempre são fontes de oração.
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