segunda-feira, 17 de julho de 2017

REFLETINDO A PALAVRA - “A força do cotidiano”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
1909. Não muitas, mas serenas
            “Não contamos as horas pelo número, a não ser as serenas” (horas non numero nisi serenas). Esse provérbio latino nos diz que o que valem são as horas boas, serenas e gostosas de viver. Bonito, mas nem tanto, pois a vida se compõe de claro e escuro. Se todo dia for festa, nunca haverá festa. A vida é composta de momentos alegres, momentos tristes e momentos do cotidiano. Vivemos nessas três modalidades que nos equilibram. O tempo litúrgico que vivemos me estimula a uma reflexão sobre o sentido do cotidiano. A liturgia tem grandes festas e depois volta ao “pão nosso de cada dia”. Temos Tempo do Natal, Tempo Pascal e Tempo Comum. Este, também chamado de Ordinário segue uma ordem. São 34 semanas que se seguem, sendo uma parte antes da Quaresma e, a maior parte, depois da Páscoa. Nesse tempo não se celebra um mistério específico de Cristo, como o Nascimento, a Morte ou a Ascensão. Mas o mistério de Cristo como um todo, acompanhando um dos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). João é lido em alguns tempos definidos. Seguimos o caminho do evangelho, vivendo o mistério no seu todo, lido em cada domingo. Durante a semana há outro esquema: Lê-se todo evangelho e textos das epístolas e do Antigo Testamento. No arco de três anos lemos 90% da Bíblia. Desse modo a vida também requer que se viva intensamente o momento presente com aquilo que ela oferece. É um ensinamento sobre a vida. Como nosso organismo tem um ritmo contínuo e sereno, assim, o dia a dia é uma oferta de vida. Jesus diz: “Não vos preocupeis com o amanhã, pois o dia de amanhã se preocupara consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal” (Mt 6,34). Cada dia é completo.
1910. Aproveite o dia
            Igualmente temos o provérbio “carpe diem”. Essa expressão vem das odes de Horácio, que significa, aproveite o dia. Não queira viver amanhã. Isso Jesus já diz quando ensina o adequado modo de viver buscando hoje o essencial: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,33). Dá ainda a explicação mais aprofundada, pois o sentido da vida não só está em aproveitar o máximo de prazer que possa ter, mas dar sentido pleno ao dia porque, vivido a partir do Reino, será completo eternamente. Como cremos na Ressurreição, temos uma direção. Se não temos o sentido, então poder-se-á dizer “comamos e bebamos porque amanhã morreremos” (1Cor 15,32). O dia nos traz a riqueza de todo o universo. O Reino de Deus está plenamente presente. Podemos dizer que a eternidade está presente para nos fazer completos. Ela não é algo que vem depois da morte, mas nos preenche de sentido. A presença do mistério de Deus em nossa vida é silenciosa como a vida é silenciosa. Aproveitar é viver na serenidade que usufrui o dom da vida e da eternidade. Fácil viver. Basta viver o momento presente. Ele dá base para o futuro. Se viver bem hoje, o amanhã já está preparado.
1911. Nada é perdido
            Temos o defeito de ver a vida como produção de coisas, como uma empresa que procura lucros e acumula bens. A vida está primeiro no ser, depois do ter e no produzir. Não perdemos tempo quando estamos dedicados aos outros. O tempo que perde com o outro é o tempo bem aproveitado. Ser para, é ser completo, pois temos tudo a ponto de poder dar aos outros. As pessoas que mais saíram de si, foram as que mais se conquistaram. O que nos faz perder é querermos só ganhar. Jesus sempre coloca sua mensagem ao avesso da nossa. A melhor vantagem é não procurar vantagens. 

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