“Não
contamos as horas pelo número, a não ser as serenas” (horas non numero nisi
serenas). Esse provérbio latino nos diz que o que valem são as horas boas,
serenas e gostosas de viver. Bonito, mas nem tanto, pois a vida se compõe de
claro e escuro. Se todo dia for festa, nunca haverá festa. A vida é composta de
momentos alegres, momentos tristes e momentos do cotidiano. Vivemos nessas três
modalidades que nos equilibram. O tempo litúrgico que vivemos me estimula a uma
reflexão sobre o sentido do cotidiano. A liturgia tem grandes festas e depois
volta ao “pão nosso de cada dia”. Temos Tempo do Natal, Tempo Pascal e Tempo
Comum. Este, também chamado de Ordinário segue uma ordem. São 34 semanas que se
seguem, sendo uma parte antes da Quaresma e, a maior parte, depois da Páscoa. Nesse
tempo não se celebra um mistério específico de Cristo, como o Nascimento, a Morte
ou a Ascensão. Mas o mistério de Cristo como um todo, acompanhando um dos
evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). João é lido em alguns tempos
definidos. Seguimos o caminho do evangelho, vivendo o mistério no seu todo,
lido em cada domingo. Durante a semana há outro esquema: Lê-se todo evangelho e
textos das epístolas e do Antigo Testamento. No arco de três anos lemos 90% da
Bíblia. Desse modo a vida também requer que se viva intensamente o momento
presente com aquilo que ela oferece. É um ensinamento sobre a vida. Como nosso
organismo tem um ritmo contínuo e sereno, assim, o dia a dia é uma oferta de
vida. Jesus diz: “Não vos preocupeis com o amanhã, pois o dia de amanhã se
preocupara consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal” (Mt 6,34). Cada dia é completo.
1910.
Aproveite o dia
Igualmente
temos o provérbio “carpe diem”. Essa expressão vem das odes de Horácio, que
significa, aproveite o dia. Não queira viver amanhã. Isso Jesus já diz quando
ensina o adequado modo de viver buscando hoje o essencial: “Buscai em primeiro
lugar o Reino de Deus e sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas”
(Mt 6,33). Dá
ainda a explicação mais aprofundada, pois o sentido da vida não só está em
aproveitar o máximo de prazer que possa ter, mas dar sentido pleno ao dia
porque, vivido a partir do Reino, será completo eternamente. Como cremos na
Ressurreição, temos uma direção. Se não temos o sentido, então poder-se-á dizer
“comamos e bebamos porque amanhã morreremos” (1Cor 15,32). O dia nos traz a riqueza de
todo o universo. O Reino de Deus está plenamente presente. Podemos dizer que a
eternidade está presente para nos fazer completos. Ela não é algo que vem
depois da morte, mas nos preenche de sentido. A presença do mistério de Deus em
nossa vida é silenciosa como a vida é silenciosa. Aproveitar é viver na
serenidade que usufrui o dom da vida e da eternidade. Fácil viver. Basta viver
o momento presente. Ele dá base para o futuro. Se viver bem hoje, o amanhã já
está preparado.
1911.
Nada é perdido
Temos o defeito de ver a vida como
produção de coisas, como uma empresa que procura lucros e acumula bens. A vida
está primeiro no ser, depois do ter e no produzir. Não perdemos tempo quando
estamos dedicados aos outros. O tempo que perde com o outro é o tempo bem
aproveitado. Ser para, é ser completo, pois temos tudo a ponto de poder dar aos
outros. As pessoas que mais saíram de si, foram as que mais se conquistaram. O
que nos faz perder é querermos só ganhar. Jesus sempre coloca sua mensagem ao
avesso da nossa. A melhor vantagem é não procurar vantagens.
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