Evangelho segundo S. Lucas 5,17-26.
Certo dia,
enquanto Jesus ensinava, estavam entre a assistência fariseus e doutores da Lei,
que tinham vindo de todas as povoações da Galileia, da Judeia e de Jerusalém; e
Ele tinha o poder do Senhor para operar curas.Apareceram então uns homens,
trazendo num catre um paralítico; tentavam levá-lo para dentro e colocá-lo
diante de Jesus. Como não encontraram modo de o introduzir, por causa da
multidão, subiram ao terraço e, através das telhas, desceram-no com o catre,
deixando-o no meio da assistência, diante de Jesus. Ao ver a fé daquela
gente, Jesus disse: «Homem, os teus pecados estão perdoados». Os escribas e
fariseus começaram a pensar: «Quem é este que profere blasfémias? Não é só Deus
que pode perdoar os pecados?» Mas Jesus, que lia nos seus pensamentos, tomou
a palavra e disse-lhes: «Que estais a pensar nos vossos corações? Que é mais
fácil dizer: ‘Os teus pecados estão perdoados’ ou ‘Levanta-te e anda’? Pois
bem, para saberdes que o Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os
pecados, Eu te ordeno — disse Ele ao paralítico — levanta-te, toma a tua enxerga
e vai para casa». Logo ele se levantou à vista de todos, tomou a enxerga em
que estivera deitado e foi para casa, dando glória a Deus. Ficaram todos
muito admirados e davam glória a Deus; e, cheios de temor, diziam: «Hoje vimos
maravilhas».
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
São Pedro Crisólogo (c. 406-450),
bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 50; PL 52, 339
«Que estais a pensar nos vossos corações?»
Por causa da fé de outrem, a alma do
paralítico ia ser curada antes do seu corpo. «Ao ver a fé daquela gente», diz o
evangelho. Notai aqui, irmãos, que Deus não Se preocupa com o que querem os
homens insensatos, nem espera encontrar fé entre os ignorantes [...], ou entre
os que se portam mal. Pelo contrário, não recusa vir em socorro da fé de outrem.
Esta fé é um presente da graça e está de acordo com a vontade de Deus. [...] Na
sua divina bondade, este médico que é Cristo tenta atrair à salvação, mesmo
contra a vontade, aqueles que foram atingidos pelas doenças da alma, esmagados
até ao delírio pelo peso dos seus pecados e das suas faltas. Mas eles não querem
deixar-se mover.
Ó meus irmãos, se nós quiséssemos, se quiséssemos todos
ver até ao fundo a paralisia da nossa alma! Notaríamos que, privada de forças,
ela jaz num leito de pecados. A ação de Cristo seria para nós uma fonte de luz.
Compreenderíamos que Ele olha todos os dias para a nossa falta de fé, que nos é
tão prejudicial, que Ele nos conduz para os remédios da salvação e pressiona
veementemente a nossa vontade rebelde. «Meu filho», diz Ele, «os teus pecados
estão perdoados.»
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