PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
616.
O direito de escutar
Dentro
do quadro das virtudes refletimos hoje sobre a virtude do diálogo. Tudo em nós
é continuação da eterna comunicação que existe entre Pai, Filho e Espírito.
Fomos introduzidos nesta comunicação porque Deus, sendo comunhão, quis se
comunicar conosco e nos deu o dom de nos comunicarmos com Ele. A comunicação
está no ser humano constituindo sua identidade. No universo há uma linguagem que
nos une a todos os seres e nos abre ao diálogo. “O homem não é uma ilha”. Nós
nos comunicamos. “Só encontramos nosso verdadeiro eu, quando nos dirigimos ao
tu dentro do “nós” comunitário”. Sem o espelho do ‘tu’, não conheceremos a face
do “eu”. O ser humano é diálogo, por isso o diálogo é também uma virtude a ser
acolhida e desenvolvida. Exige maturidade e aproveitamento dos dons de escutar,
falar e tocar. Temos o direito de escutar. O que percebemos pelo ouvido não é o
mesmo que entra pelos olhos. São sentidos diferentes. Diz-se que pelo ouvido
chega-se ao coração. Quem mais aprende é quem mais ouve. Todos gostam de falar.
Poucos sabem ouvir. Trata-se do respeito à pessoa do outro. Essa virtude é um
condutor da caridade. Por isso é virtude. Saímos de nós mesmos e deixamos que o
outro entre e se torne presente a nós. Escutar não é só ouvir os sons. É uma
forma de acolhimento. Na educação, nas instituições, de modo particular na
Igreja, escutar é o fundamental para que as pessoas se encontrem e vivam. Se não escutarmos as pessoas, como escutar o
Espírito que fala em nós? Na orientação das pessoas é fundamental ouvir. Dentro
de casa, nas instituições, nos sofrimentos, todos precisam ser ouvidos. Ouvir
com atenção total é a melhor forma do diálogo. Não há necessidade de muitas
respostas. Quem não escuta não tem direito de ser escutado.
617.
O dom de falar
Para
exercer bem a virtude do diálogo é preciso saber falar. Às vezes falamos muito
e não dizemos nada pois produzimos sons e não nos transmitimos. Só comunicamos
quando nós somos a palavra. Jesus falava com autoridade porque falava com
totalidade. Ele era a Palavra que se transmitia por palavras e gestos (milagres).
Nós nos comunicamos quando falamos com amor e com a vida que temos dentro de
nós. Nossa palavra é o dom de nós mesmos. Jesus dizia: “Minhas palavras são
espírito e vida” (Jo 6,63). Poucas palavras
mas que nasçam da vida e produzem um diálogo consistente. A palavra que tem
sentido de vida não é distinta de nós. Todos têm direito a uma palavra com
sentido e com vida. Deste modo poderemos abrir aos outros a capacidade de falar
com sentido. A gratuidade de nosso falar e escutar confere transparência ao
diálogo. A Igreja deve mais ouvir que falar. Deste modo fortalece sua palavra.
618.
O prazer de tocar
O
tato é um sentido que completa o diálogo e às vezes é o único meio. O prazer de
tocar, antes de ser um dado sensual, é uma expressão do amor divino presente em
nós. Jesus tocava as pessoas e as pessoas procuravam tocá-lo, pois dele saia
uma força que curava a todos. A força de comunicação de Jesus brotava de uma
vida doada, que vai culminar na Cruz e na Eucaristia. Ele é o “Corpo dado, Sangue
derramado” (Lc 22,19-20). O toque atinge a
comunicação maior na entrega matrimonial que só será autêntica e completa se
trouxer consigo a capacidade de ouvir e falar. Uma vida doada nessa comunicação
é o amor em totalidade. O diálogo matrimonial é um prazer que santifica.
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