De uma pureza angelical e enorme devoção a Nossa Senhora, essa jovem participou, de modo místico, de praticamente todos os atos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo
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Santa Gema Galgani, que faleceu no início do século XX, aos 25 anos, foi favorecida por toda sorte de carismas, como os estigmas da Paixão, a coroa de espinhos, a flagelação e o suor de sangue. Teve freqüentes êxtases, espírito de profecia, discernimento dos espíritos e visões de Nosso Senhor, de sua Mãe Santíssima, de São Gabriel e da Virgem Dolorosa, e uma incrível familiaridade com o Anjo da Guarda. Foi constantemente atacada pelo demônio, que lhe aparecia em forma humana ou de animais. Enfim, teve o matrimônio místico com Nosso Senhor Jesus Cristo e morreu como vítima expiatória pelos pecados do mundo. “Toda a vida de Gema foi em síntese uma vida de união com Deus, de sofrimento com Jesus Cristo e de zelo ardente pela salvação das almas. No trabalho e no estudo, à mesa e nas conversas, no passeio e até no sono, Deus não se afasta um ponto de sua mente”.
Santidade, apesar de tudo e de todos
Gema nasceu na aldeia de Camigliano, perto de Luca, na Toscana, no dia 12 de março de 1878, filha de Henrique Galgani, farmacêutico do povoado, e Aurélia Landi. Ambos eram tementes a Deus, tendo a esposa uma piedade incomum. Gema foi a quarta dos oito filhos do casal e a primeira menina.
Dona Aurélia, vendo a boa índole da filha, quis pessoalmente educá-la na piedade. E a menina correspondeu além das expectativas.
Certo dia, por exemplo, tendo apenas quatro anos de idade, ajoelhou-se diante de um quadro do Coração de Maria na casa da avó paterna. Com as mãozinhas postas, ficou absorta rezando. A avó, passando pelo aposento, ficou encantada com o espetáculo, e correu a chamar seu filho para que também o visse. Este, depois de ter contemplado detidamente aquela oração, não achou nada melhor do que interrompê-la:
— Gema, o que está fazendo? ― perguntou-lhe.
Como quem sai de um êxtase, a menina olhou-o e respondeu com a maior seriedade:
— Estou rezando a Ave-Maria. Saia, que estou em oração.
Desde seus primeiros anos, Gema queria ser santa e o dizia explicitamente. Já mais crescida, escreveu:“Apesar de tudo e de todos, hei de ser santa”. Essa expressão mostra bem as contrariedades que já então sofria.
Nosso Senhor ratificou esse desejo, afirmando-lhe: “Dentro de alguns anos tu serás, por obra minha, Santa, farás milagres e serás elevada à honra dos altares”.
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Sem nada, carecendo de todos os bens materiais
Gema perdeu a mãe quando tinha sete anos. Como fizeram outros santos, pediu à Santíssima Virgem que a substituísse. A partir daí, sua devoção à Mãe de Deus tornou-se mais terna. Ela a invocava sempre com o carinhoso apelativo de “mamãe”.
Inteligência viva e memória feliz fizeram com que Gema tivesse muito sucesso nos estudos, sendo geralmente a primeira aluna da classe. Quando terminou o colégio, com a idade de 16 anos, o pai quis muito, por causa de seus êxitos, que ela entrasse na universidade. Mas Gema aspirava a entregar-se totalmente a Nosso Senhor em alguma congregação religiosa.
Nessa época o pai de Gema, que gastara muito na prolongada doença da esposa, não mais conseguiu equilibrar as finanças, e acabou indo à falência, perdendo todos os bens. A família caiu assim na mais negra miséria. O bom homem não suportou o golpe e sucumbiu pouco depois. Gema afirma em sua autobiografia:“Morto papai, nos encontramos sem nada, carecendo absolutamente de meios de vida”.
A família se dispersou, indo cada irmão para a casa de um parente. Gema foi para a casa de um tio em Camayor. Naquela localidade surgiram alguns pretendentes à sua mão. Desgostosa, resolveu voltar então para casa, apesar da miséria.
Santa Gema padeceu muitos sofrimentos não só morais, mas também físicos, e teve que passar por duas intervenções cirúrgicas sem anestésicos.
A virtuosa família Gianini a recebeu em casa nos últimos anos de sua vida. Essa família considerava Gema como filha e a venerava como santa, ocultando aos olhos do mundo os favores celestiais de que ela era cumulada. Graças a Da. Cecília, irmã do dono da casa, muitos êxtases e outros favores celestes de Gema foram registrados.
Quando Gema sentiu necessidade de um diretor espiritual, o próprio Nosso Senhor lhe encaminhou um, mostrando-o numa visão. Era o Pe. Germano de Santo Estanislau, virtuoso e prudente sacerdote que guiará os últimos anos de Gema, os mais pródigos em favores sobrenaturais. Apenas quatro anos após a morte dela, publicará uma biografia da Santa e sua Autobiografia. Isso muito ajudou o processo de beatificação.
Santa Gema e seu Anjo da Guarda
Gema via constantemente seu Anjo da Guarda, que a guiava e repreendia quando necessário. Ela confiou ao seu diretor: “Jesus não me deixa estar só um instante, mas faz com que esteja sempre em minha companhia o Anjo da Guarda”. Este lhe afirma: “Eu serei teu guia seguro e teu inseparável companheiro”. Em sua inocência ela pensava que todo mundo via o próprio Anjo da Guarda, principalmente as criancinhas inocentes. Foi só aos poucos que se persuadiu de que isso não era assim.
Ela via seu anjo às vezes em adoração à soberana Majestade; outras, estendendo suas mãos sobre ela em sinal de proteção; no ato de defendê-la contra os ataques do demônio; ajoelhado junto a ela, sugerindo os pontos de meditação; ou simplesmente sentado a seu lado, dando-lhe bons conselhos.
Nosso Senhor queria dela um desapego total de todas as coisas. Certa vez em que deveria ir ao palácio arquiepiscopal para receber a medalha de ouro que merecera no curso catequético, a tia quis vesti-la melhor. Gema até consentiu em levar ao pescoço uma correntinha com uma cruz e um relógio de ouro, lembrança de sua mãe. Quando voltou para casa e ia mudar de roupa, viu a seu lado o Anjo da Guarda, que a olhava com ar severo:
— Lembra-te de que não devem ser outros que os espinhos e a cruz as jóias que adornarão a esposa de um Rei crucificado.
Gema atirou para longe de si aqueles adornos, e prosternando-se no solo, em lágrimas, tomou a seguinte resolução: “Por amor a Jesus e para agradar só a Ele, proponho-me nunca levar objetos de vaidade, nem sequer falar deles”. E afirma em sua Autobiografia: “Desde aquele dia não voltei a possuir nenhuma dessas coisas”. Era a fidelidade total à via para a qual Deus a chamava.
Familiaridade com seu Anjo da Guarda
Outro dia, anota em seu diário: “O Anjo da Guarda, que se mostra bastante severo em repreender-me, me disse: ‘Minha filha, lembra-te de que cada vez que faltas à obediência cometes um pecado. Por que és tão remissa em obedecer ao confessor? Lembra-te de que não há caminho mais curto e seguro para chegar ao Céu que o da obediência’”. O confessor lhe havia mandado escrever as graças espirituais que tinha recebido, e em sua humildade ela tinha muito escrúpulo em fazê-lo.
Assim, mesmo as ligeiras negligências de Gema no serviço divino encontravam no Anjo da Guarda um censor rigoroso. Este desaparecia por algum tempo ou lhe mostrava o aspecto severo, negava-se a dirigir-lhe a palavra ou mesmo dirigia-lhe duras admoestações, chegando às vezes a impor-lhe algum castigo.
Também lhe dizia o que ela deveria fazer para o progresso espiritual. Por exemplo: “Sentou-se junto a mim e me disse: ‘Por que dás a Jesus este desgosto de não meditar todos os dias sobre a Paixão?’”. Era verdade, reconhece ela. Lembrou-se de que a meditação sobre a Paixão, não a fazia senão às quintas e sextas-feiras.“Deves fazê-la todos os dias, não te esqueças”. Ele também a incentivava no caminho da virtude: “É pela excelsa perfeição de tua virgindade que Jesus te concede tantas graças”. Com efeito, ela era de uma pureza angélica. Nas várias intervenções cirúrgicas a que teve de submeter-se, era tal o seu recato, que chamava a atenção dos médicos. Uns a tomavam por santa, e os ímpios a consideravam “fanática”.
Gema nunca saía só à rua. Quando não tinha alguém da família para sair com ela, o seu Anjo da Guarda se oferecia para ser seu visível companheiro. Tinha tanta familiaridade com ele, que chegava mesmo a pedir-lhe para levar a correspondência ao seu diretor espiritual e trazer a que ele tinha para si.
Devoção à Medianeira de todas as graças
Sua devoção a Nossa Senhora, como já dissemos, era terna e filial. A Mãe de Deus aparecia-lhe aos sábados, geralmente como Mater Dolorosa, e lhe comunicava algum detalhe da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Outras vezes lhe aparecia com o Menino Jesus, entregando-O para que ela o cobrisse de carícias.
Quando Gema se via atolada naquilo que julgava o “abismo de seus pecados”, e não tinha ânimo de dirigir-se diretamente a Nosso Senhor, recorria à Medianeira de todas as graças: “Minha mãe, tenho medo de ir em busca de Jesus sem Vós, porque, se bem que misericordioso, sei que cometi muitos pecados, e sei também que Jesus é justo no castigo. Peço-vos uma coisa grande, não é verdade, minha Mãe? Mas que hei de fazer, se o que perdi por meus pecados não o acho senão por vossa mediação ? Ademais, pouco é o que vos peço em relação ao muito que podeis fazer por mim”.
Gema faleceu no Sábado Santo, 11 de abril de 1903, e foi canonizada por Pio XII em 2 de maio de 1940.
Plinio Maria Solimeo
Fonte : P e. Basílio de São Paulo, Santa Gema Galgani, Editorial Litúrgica Española, S.A., Barcelona, 1948. São desta obra todas as citações do presente artigo, inclusive aquelas extraídas das obras de Santa Gema Galgani.
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