domingo, 1 de setembro de 2024

REFLETINDO A PALAVRA - “Deus ressuscitou ao terceiro dia”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Abristes as portas da Eternidade
 
Na Quaresma, de modo particular na Vigília Pascal, fomos ricamente instruídos pela Palavra de Deus para conhecer e participar melhor do Mistério que celebramos. O próprio Jesus tinha consciência que cumpria o que a lei de Moisés, os salmos e os profetas falavam Dele (Lc 24,44). Proclamando na celebração as profecias, torna-se presente e atuante o que é proclamado. Não se trata só de ler um texto, mas de anunciar uma presença. Com razão exclamam os fiéis: “Na verdade o Cristo ressuscitou! Aleluia! A Ele o poder e a glória pelos séculos eternos” (Antífona). A força da Ressurreição animou e sustentou a Igreja pelos séculos. Por isso se alegra com entusiasmo. Neste Domingo de Páscoa lemos a narrativa sobre o túmulo vazio. Madalena vê e comunica a Pedro e João que vão ao túmulo. Não descreve a Ressurreição, mas oferece um texto denso de símbolos: Diz que foi no primeiro dia da semana. Refere-se ao primeiro dia da nova criação. Jesus é chamado de Senhor (Kýrios), palavra em que se reconhece Cristo como Deus. Nele contemplamos Deus. Pedro, ao entrar no túmulo viu o pano que cobrira o rosto de Jesus colocado de lado. O rosto de Deus não está velado para nós. Há também a dupla reação: Pedro viu, João viu e acreditou. Por que essa diferença? Não tinham ainda compreendido a Escritura. Como João se intitula discípulo amado, entendemos que é pelo amor que se crê. Na oração rezamos que a Ressurreição é a vitória total da morte que cobria o mundo. Morte que foi provocada pelo pecado. Cristo crucificou o pecado na cruz, nos diz Paulo, abrindo assim para nós a eternidade (Cl 2,14). Não estamos habituados com a Ressurreição, por isso não temos o encanto por esse mistério. Participamos da dor, participemos também a alegria e da glória. 
Ressuscitamos para a Vida Nova 
Mistério Pascal de Cristo implica também em nossa participação. Esta participação é mística, isto é, realizada em símbolos materiais e acontecida em nós pela fé. Deste modo, como estivemos unidos a Cristo a uma morte semelhante à sua, somos uma só coisa com Ele na Ressurreição (Rm 6,5). “Se morremos com Cristo, temos fé que também viveremos com Ele” (8). E Paulo completa: “Assim considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus”(11). Esta morte nós a realizamos no Batismo que simbolicamente significa passagem da morte para a Vida. Ao sair da água, está indicando a vida nova. “Todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados. Pelo batismo fomos sepultados com Ele na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também vivamos a Vida Nova” (3-4). Todos os sacramentos nos dão a Vida Nova que é a participação da Vida que Cristo. 
Buscai as coisas do alto 
O Mistério Pascal de Cristo tem consequência na vida como o foi na vida de Jesus. Diante do romano Cornélio, ao testemunhar quem era o Cristo, Pedro diz: “Ele andou por toda parte fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com Ele” (At 10,38). Neste sentido, a liturgia proclama a carta de Paulo aos Colossenses: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto” (Cl 3,1). A fé pura, só existe quanto tem a densidade do amor, pois fé, esperança e caridade são três virtudes que não existem isoladas. Por isso temos o mandamento de Jesus: “Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida apor seus amigos” (Jo 15,12-13).
Leituras: Atos 10,34ª.37-43;Salmo 117;
Colossenses 3,1-4;João 20,1-9. 
1. A liturgia oferece uma Palavra abundante. Não só se lê um texto, mas proclama-se a presença do Mistério celebrado. Celebramos a Ressurreição. Sua força sustenta a Igreja. A narrativa do túmulo vazio traz símbolos: o primeiro dia da nova criação, o pano dobrado (Jesus mostra o rosto de Deus); Pedro só vê, João vê e crê, pelo amor. Pela morte abriu-nos o caminho da salvação. 
2. O mistério de Cristo implica a participação que realizamos através dos símbolos unidos à fé. Estamos unidos à Morte e Ressurreição de Cristo. Nossa participação acontece através do Batismo. 
3. O Mistério Pascal de Cristo tem consequência para a vida. Como Jesus andou fazendo o bem, assim deve viver quem está unido a Ele. É isso que significa buscar a vida do alto. A fé só existe na densidade do amor e na certeza que a esperança dá. Jesus dá seu mandamento: “Amai-vos uns aos outros”. 
Corrida da fé 
Tudo na vida tem um lado engraçado. Naquela manhã sofrida em que os discípulos sentiam a profunda dor pela morte do amado Jesus, Madalena vai ao túmulo chorar. O túmulo está aberto sem Jesus (era uma gruta com uma pedra tampando a entrada). Corre para avisar Pedro e João. Os dois saem correndo. Um velho vai mais devagar e o jovem mais esperto. O que passou no coração desses homens? Chegando ao túmulo, João espera por Pedro. Viu as faixas que envolviam Jesus. Temos duas respostas ao acontecimento: Pedro viu. João viu e acreditou. A fé tem um processo de lento acolhimento da verdade. Crer em Jesus ressuscitado é ressuscitar com Ele e viver como Ele viveu: sempre em direção ao alto onde está o Pai. Temos que ficar com os pés na terra, mas com o sentido no Céu, como Jesus que andou por toda parte fazendo o bem (At 10,38). Esta é a vida nova que Ele nos mereceu. 
Homilia do Domingo da Páscoa (20.04.2014)

Nenhum comentário:

Postar um comentário