Evangelho segundo S. Lucas 8,4-15.
Naquele
tempo, reuniu-se uma grande multidão, que vinha ter com Jesus de todas as
cidades, e Ele falou-lhes por meio da seguinte parábola: «O semeador saiu
para semear a sua semente. Quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do
caminho: foi calcada e as aves do céu comeram-na. Outra parte caiu em
terreno pedregoso: depois de ter nascido, secou por falta de umidade. Outra
parte caiu entre espinhos: os espinhos cresceram com ela e sufocaram-na. Outra parte caiu em boa terra: nasceu e deu fruto cem por um». Dito isto,
exclamou: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça». Os discípulos perguntaram a
Jesus o que significava aquela parábola e Ele respondeu: «A vós foi
concedido conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros serão
apresentados só em parábolas, para que, ao olharem, não vejam, e, ao ouvirem,
não entendam. É este o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus. Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas depois vem o
diabo tirar-lhes a palavra do coração, para que não acreditem e se salvem. Os que estão em terreno pedregoso são aqueles que, ao ouvirem, acolhem a
palavra com alegria, mas, como não têm raiz, acreditam por algum tempo e
afastam-se quando chega a provação. A semente que caiu entre espinhos são
aqueles que ouviram, mas, sob o peso dos cuidados, da riqueza e dos prazeres da
vida, sentem-se sufocados e não chegam a amadurecer. A semente que caiu em
boa terra são aqueles que ouviram a palavra com um coração nobre e generoso, a
conservam e dão fruto pela sua perseverança».
Tradução
litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
São João
Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla,
doutor da Igreja
Sermão n° 44 sobre S. Mateus; PG 57, 467
Se a semente seca, não é devido ao calor.
Jesus não disse que a semente secou por causa do calor, mas sim por não ter
raiz. Se a Palavra é asfixiada, não será por causa dos espinhos, mas de quem os
deixou crescer em liberdade. Ora, se quiseres, podes impedir que eles cresçam,
fazendo bom uso das riquezas. É por isso que o Salvador não fala do mundo, mas
dos cuidados do mundo, não fala das riquezas, mas dos cuidados com as riquezas.
Por conseguinte, não acusemos as coisas em si mesmas, mas a corrupção da nossa
consciência. [...]
Não é o agricultor, como vês, não é a semente, mas a
terra onde ela é recebida que explica tudo, ou seja, as disposições do nosso
coração. Também aí a bondade de Deus para com o homem é imensa, dado que, longe
de exigir a todos a mesma medida de virtude, acolhe os primeiros, não repudia os
segundos e dá lugar aos terceiros. [...]
É necessário, pois, começar por
ouvir atentamente a Palavra, depois guardá-la fielmente na memória, em seguida
encher-se de coragem, desprezar as riquezas e libertar-se do amor aos bens do
mundo. Se Jesus coloca em primeiro lugar a atenção à Palavra, se a coloca antes
de todas as outras condições, é porque ela é a condição fundamental. «E como hão
de acreditar naquele de quem não ouviram falar?» (Rom, 10,14). Também nós, se
não dermos atenção ao que nos é dito, ficaremos sem conhecer os deveres que
temos de cumprir. Só depois vem a coragem e o desprezo pelos bens deste mundo.
Para pôr a render estas lições, fortifiquemo-nos de todas as maneiras: estejamos
atentos à Palavra, façamos crescer profundamente as nossas raízes e
libertemo-nos das preocupações do mundo.
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