Evangelho segundo S. Mateus 9,9-13.
Naquele
tempo, Jesus ia a passar, quando viu um homem chamado Mateus, sentado no posto
de cobrança dos impostos, e disse-lhe: «Segue-Me». Ele levantou-se e seguiu
Jesus. Um dia em que Jesus estava à mesa em casa de Mateus, muitos
publicanos e pecadores vieram sentar-se com Ele e os seus discípulos. Vendo
isto, os fariseus diziam aos discípulos: «Por que motivo é que o vosso Mestre
come com os publicanos e os pecadores?». Jesus ouviu-os e respondeu: «Não
são os que têm saúde que precisam do médico, mas sim os doentes. Ide
aprender o que significa: ‘Prefiro a misericórdia ao sacrifício’. Porque Eu não
vim chamar os justos, mas os pecadores».
Tradução litúrgica
da Bíblia
Comentário do dia:
Santo Agostinho (354-430),
bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Comentário sobre a
primeira carta de João, § 8,10
Ao amares o teu inimigo, desejas que ele
seja para ti um irmão. Não amas o que ele é, mas aquilo em que queres que ele se
torne. Imaginemos um pedaço de madeira de carvalho em bruto. Um artesão hábil vê
essa madeira, cortada na floresta; a madeira agrada-lhe; não sei o que quer
fazer dela, mas não é para a deixar como está que o artista gosta dela. A sua
arte faz com que pense em que é que se pode transformar essa madeira; o seu amor
não é dirigido à madeira em bruto: ele ama o que fará com ela e não a madeira em
bruto.
Foi assim que Deus nos amou quando éramos pecadores. Na verdade,
Ele disse: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os
doentes». Ter-nos-á Ele amado pecadores para que permaneçamos pecadores? O
Artesão viu-nos como um pedaço de madeira em bruto, vindo da floresta; porém, o
que Ele tinha em vista era a obra que nela faria e não a madeira em si, nem a
floresta.
Contigo passa-se a mesma coisa: vês o teu inimigo opor-se a
ti, encher-te de palavras mordazes, tornar-se rude nas afrontas que te faz,
perseguir-te com o seu ódio. Mas tu sabes que ele é um homem. Vês tudo o que
esse homem fez contra ti, mas também vês nele aquilo que foi feito por Deus.
Aquilo que ele é, enquanto homem, é obra de Deus; o ódio que te tem é obra dele.
E que dizes tu para contigo? «Senhor sê benevolente para com ele, perdoa-lhe os
pecados, inspira-lhe o teu temor, converte-o.» Não amas nesse homem aquilo que
ele é, mas aquilo que queres que ele venha a ser. Assim, quando amas um inimigo,
amas nele um irmão.
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