terça-feira, 12 de julho de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Onde vamos comprar pão?”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
A festa da Páscoa estava próxima
            O discurso sobre o Pão da Vida, no evangelho de S. João, explica a Eucaristia. Ele escreve que “estava próxima a Páscoa dos judeus” (Jo 6,4). Une, então, a Eucaristia à Páscoa.  Com a narração da multiplicação dos pães dá o sentido da Eucaristia. João procurava superar o ritualismo judaico que penetrava a Eucaristia. A  Páscoa de Jesus deixa de ser um rito a ser celebrado em lugar prescrito, mas volta a ser um momento de libertação, uma proposta de caminho para se chegar à terra prometida. A Páscoa não é mais para um pequeno grupo profético, mas é para todos os povos. Não é comida por um grupo de escolhidos, mas também, de modo abundante, por todos os excluídos. A cena da multiplicação é cheia de símbolos. Jesus é o mestre que se assenta e o povo discípulo que aprende. O povo não está no deserto seco, mas na relva. A Igreja é terra fértil onde se multiplica o pão. Jesus, o novo Moisés, se preocupa com a necessidade do povo. Mesmo sabendo o que faria, envolve os apóstolos. André, nome que significa humano, apresenta uma solução: “Há um menino que tem cinco pães e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?”(Jo 6,9). Cinco é símbolo de fragilidade. A palavra peixe, em grego, dá o acróstico da frase: “Jesus Cristo, de Deus Filho, Salvador”. A solução não é somente humana mas também de fé. Na História da Salvação são os frágeis que dão um novo rumo, por exemplo: a irmã de Moisés, o menino Samuel, o garoto Davi, o jovem Jeremias, a jovem Maria e hoje, nós. A Páscoa de Jesus é forte para os fracos. A fé em Jesus nos introduz na Páscoa do verdadeiro Pão. Jesus dá sua carne como alimento.
O amor pascal multiplica
            O pão da Eucaristia é o Corpo do Senhor. Ele é partido e repartido como realização da salvação e modelo que devemos seguir para realizá-la em nossa vida. Isso é Páscoa. Jesus deu graças e repartiu. Nós o fazemos na missa. Os doze cestos significam a abundância. Mesmo frágeis, com a Eucaristia, podemos realizar a abundância que sobrou da partilha do pouco. Jesus multiplica os pães num gesto de amor misericordioso. Atualmente há uma crise de alimento no mundo. Somos frágeis diante dela. Não vamos resolver com o milagre de ter muito o muito, mas partilhar o pouco. A missa bem celebrada ensina a partilhar. Acolher a Páscoa de Jesus é saber partilhar. Páscoa não é só festa, missa não é só rito, é uma vida que transforma o mundo. Se há fome em alguma paróquia é porque ali as missas são mal celebradas. Não basta fazer um rito, é preciso repetir o gesto de Jesus: fazei isto e memória de mim. O ritualismo é um modo fácil de não enfrentar os problemas. É necessária a força educadora da Eucaristia. Páscoa e a Eucaristia mexem em nosso prato. Não digerimos se temos consciência cristã dos problemas.
Caminhar de acordo com a vocação
            A vocação cristã é gerar unidade e fugir do egoísmo. Ela exige que se viva em paz no serviço fraterno, suportando o peso dos irmãos. O peso da cruz de Jesus não era só uma quantidade de quilos, mas o peso de todos os irmãos que Ele carregava nas costas. Paulo recomenda as virtudes da mansidão, da humildade, da paciência, do amor, da unidade. Elas ecoam o espírito das bem-aventuranças. Ao refletir sobre a Páscoa lembramos nossa devoção eucarística que não é só estar diante do Santíssimo em adoração, mas descobrir o rosto de Cristo no irmão necessitado e realizar para Ele a multiplicação do Pão que dá a vida. Espiritualidade sem ação é morta, ação sem espiritualidade pode matar.

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