PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
A
festa da Páscoa estava próxima
O
discurso sobre o Pão da Vida, no evangelho de S. João, explica a Eucaristia. Ele
escreve que “estava próxima a Páscoa dos judeus” (Jo
6,4). Une, então, a Eucaristia à Páscoa. Com a narração da multiplicação dos pães dá o sentido
da Eucaristia. João procurava superar o ritualismo judaico que penetrava a
Eucaristia. A Páscoa de Jesus deixa de
ser um rito a ser celebrado em lugar prescrito, mas volta a ser um momento de
libertação, uma proposta de caminho para se chegar à terra prometida. A Páscoa
não é mais para um pequeno grupo profético, mas é para todos os povos. Não é comida
por um grupo de escolhidos, mas também, de modo abundante, por todos os
excluídos. A cena da multiplicação é cheia de símbolos. Jesus é o mestre que se
assenta e o povo discípulo que aprende. O povo não está no deserto seco, mas na
relva. A Igreja é terra fértil onde se multiplica o pão. Jesus, o novo Moisés,
se preocupa com a necessidade do povo. Mesmo sabendo o que faria, envolve os apóstolos.
André, nome que significa humano,
apresenta uma solução: “Há um menino que tem cinco pães e dois peixes. Mas o
que é isso para tanta gente?”(Jo 6,9). Cinco
é símbolo de fragilidade. A palavra peixe, em grego, dá o acróstico da frase:
“Jesus Cristo, de Deus Filho, Salvador”. A solução não é somente humana mas
também de fé. Na História da Salvação são os frágeis que dão um novo rumo, por
exemplo: a irmã de Moisés, o menino Samuel, o garoto Davi, o jovem Jeremias, a
jovem Maria e hoje, nós. A Páscoa de Jesus é forte para os fracos. A fé em
Jesus nos introduz na Páscoa do verdadeiro Pão. Jesus dá sua carne como
alimento.
O
amor pascal multiplica
O
pão da Eucaristia é o Corpo do Senhor. Ele é partido e repartido como
realização da salvação e modelo que devemos seguir para realizá-la em nossa
vida. Isso é Páscoa. Jesus deu graças e repartiu. Nós o fazemos na missa. Os doze
cestos significam a abundância. Mesmo frágeis, com a Eucaristia, podemos
realizar a abundância que sobrou da partilha do pouco. Jesus multiplica os pães
num gesto de amor misericordioso. Atualmente há uma crise de alimento no mundo.
Somos frágeis diante dela. Não vamos resolver com o milagre de ter muito o
muito, mas partilhar o pouco. A missa bem celebrada ensina a partilhar. Acolher
a Páscoa de Jesus é saber partilhar. Páscoa não é só festa, missa não é só
rito, é uma vida que transforma o mundo. Se há fome em alguma paróquia é porque
ali as missas são mal celebradas. Não basta fazer um rito, é preciso repetir o
gesto de Jesus: fazei isto e memória de mim. O ritualismo é um modo fácil de
não enfrentar os problemas. É necessária a força educadora da Eucaristia.
Páscoa e a Eucaristia mexem em nosso prato. Não digerimos se temos consciência
cristã dos problemas.
Caminhar
de acordo com a vocação
A
vocação cristã é gerar unidade e fugir do egoísmo. Ela exige que se viva em paz
no serviço fraterno, suportando o peso dos irmãos. O peso da cruz de Jesus não
era só uma quantidade de quilos, mas o peso de todos os irmãos que Ele
carregava nas costas. Paulo recomenda as virtudes da mansidão, da humildade, da
paciência, do amor, da unidade. Elas ecoam o espírito das bem-aventuranças. Ao
refletir sobre a Páscoa lembramos nossa devoção eucarística que não é só estar
diante do Santíssimo em adoração, mas descobrir o rosto de Cristo no irmão
necessitado e realizar para Ele a multiplicação do Pão que dá a vida. Espiritualidade
sem ação é morta, ação sem espiritualidade pode matar.
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