terça-feira, 1 de março de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Seduziste-me, Senhor!”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
Tome sua cruz
            A liturgia da Palavra orienta a vida cristã no seguimento de Jesus e nos faz conhecer o que implica essa atitude. Jesus fala de seu caminho a Jerusalém para a Paixão e explica como se deve seguí-lo. O texto vem logo após a profissão de fé de Pedro, fundamento sobre o qual a Igreja é construída. Essa fé não é somente intelectual ou espiritual, mas exige caminhar com Jesus. Jesus anuncia que deve ir a Jerusalém, sofrer, ser morto e ressuscitar ao terceiro dia (Mt 16,21). Quem professa a fé em Jesus, assume seu caminho de morte que garante a Ressurreição. Notemos que, a seguir a este texto, temos a narrativa da Transfiguração de Jesus (Mt 17,1-8). Para Ele, o caminho da paixão e da cruz conduz à Ressurreição, prefigurada pela Transfiguração. Para o discípulo, aquele que aceitaR Jesus, renunciar a si mesmo, tomar a cruz e saber perder a vida e o mundo, toma o caminho leva à ressurreição e à transfiguração. A fé exige uma conduta de vida. Não significa anular a vida, mas torná-la plena a partir da profissão de fé e identificação com a vida de Jesus. Isso acontecerá quando o discípulo se deixar seduzir por Jesus. Um dos textos mais belos da Bíblia é este: “Seduziste-me Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder” (Jr 20,7). É o encantamento pela pessoa e proposta de Jesus. Como o profeta, não daremos conta de frear esse entusiasmo, que raia à loucura. Rezamos no salmo: “Desde a aurora, ansioso vos busco! A minha alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja como terra sedenta e sem água” (Sl 62,2). Essa invasão que Deus faz em nós, deixa-nos como terra rachada pela seca que implora a água em sua sede. Quando dizemos “tomar a cruz”, pensamos no sofrimento. Pensemos, antes, na disposição de saciar a sede que temos de Deus, seguindo Jesus para as fontes de águas correntes. A força de nosso coração está em comprometermo-nos com Ele e com sua Palavra.
Fogo ardente
            Certa vez, os familiares de Jesus quiseram detê-lo. Pensaram que tivesse enlouquecido, pois não tinha tempo para comer (Mc 3,2-21). A sedução que o Pai exercia nEle, levava-o a dar-se todo até à morte e morte de cruz (Fl 2,8). Vemos também o profeta Jeremias, desanimado de sofrer pela Palavra.  Ela se tornara para ele fonte de vergonha e gozação, o dia inteiro. Por isso decidiu: “Não quero mais lembrar-me, disse, nem falar mais em nome dele” (Jr 20,8-9). Infelizmente algo foi mais forte: “Mas, em meu coração havia um fogo ardente, fechado em meus ossos; eu me esforçava para contê-lo, mas não podia” (Jr 20,9). Jesus também sentia esse desejo interior: “Há um batismo em que hei de ser batizado; e como me angustio até que venha a cumprir-se!” (Lc 12,50). Nossa fé só é frutuosa quando nos deixarmos seduzir e devorar por esse fogo. Deus não o nega a ninguém, aliás, o oferece.
Culto espiritual
            Culto a Deus, não se reduz a ritos exteriores, mas está em nosso interior, impregnado nossos corpos. Por isso Paulo nos convida: “Eu vos exorto a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é vosso culto espiritual. Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar” (Rom 12,1-2). Somos chamados a nos conformar a Jesus Cristo em disposição interior de caminhar para a realização do desígnio do Pai, com a certeza de que não será confundido (Sl 71,1). O sacrifício de Cristo culmina na cruz, mas ele é um sacrifício vivo desde sua encarnação. Ele é um culto espiritual em sua oferta: “Eis que venho fazer vossa vontade” (Hb 10,7).

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