Evangelho segundo S. João 13,1-15.
Antes da
festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para
o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. No
decorrer da ceia, tendo já o Demónio metido no coração de Judas Iscariotes,
filho de Simão, a ideia de O entregar, Jesus, sabendo que o Pai Lhe tinha
dado toda a autoridade, sabendo que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se da mesa, tirou o manto e tomou uma toalha, que pôs à cintura. Depois, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a
enxugá-los com a toalha que pusera à cintura. Quando chegou a Simão Pedro,
este disse-Lhe: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?». Jesus respondeu: «O que
estou a fazer, não o podes entender agora, mas compreendê-lo-ás mais tarde». Pedro insistiu: «Nunca consentirei que me laves os pés». Jesus
respondeu-lhe: «Se não tos lavar, não terás parte comigo». Simão Pedro
replicou: «Senhor, então não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça». Jesus respondeu-lhe: «Aquele que já tomou banho está limpo e não precisa de
lavar senão os pés. Vós estais limpos, mas não todos». Jesus bem sabia quem
O havia de entregar. Foi por isso que acrescentou: «Nem todos estais limpos». Depois de lhes lavar os pés, Jesus tomou o manto e pôs-Se de novo à mesa.
Então disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e
Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos
lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o
exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também».
Da
Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Beato Guerric de Igny (c. 1080-1157),
abade cisterciense
1º Sermão para os Ramos
Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao
fim.
Tende entre vós os mesmos sentimentos que
estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina», igual a Deus por natureza
uma vez que partilha do seu poder, da sua eternidade e do seu próprio ser [...],
cumpriu o ofício de servo, rebaixando-Se e «tornando-Se obediente até à morte e
morte de cruz» (Fil 2,5-8). Poder-se-ia considerar de somenos que, sendo seu
Filho e seu igual, Ele tivesse servido o Pai como um servo; mas Ele foi ainda
mais longe e serviu o seu próprio servo [...]. Porque o homem tinha sido criado
para servir o seu criador e é de toda a justiça que sirva Aquele que o criou,
sem o qual não existiria. E não pode conhecer maior felicidade que servi-Lo, uma
vez que servi-Lo é reinar. Mas o homem disse ao seu Criador: «Não servirei!» (Jr
2,20).
«Pois bem, servir-te-ei Eu!», respondeu o Criador ao homem.
«Senta-te à mesa; farei eu o serviço: lavar-te-ei os pés. Descansa; tomarei os
teus males sobre os meus ombros; carregarei com todas as tuas fraquezas. [...]
Se estiveres fatigado ou sobrecarregado, levar-te-ei, a ti e à tua carga, a fim
de ser o primeiro a cumprir a minha lei: "Levai os fardos uns dos outros" (Gal
6,2). [...] Se tiveres fome ou sede [...], eis-Me pronto a ser imolado, para que
possas comer a minha carne e beber o meu sangue. [...] Se te levarem para o
cativeiro ou te venderem, eis-Me aqui [...]; resgato-te pelo preço que derem por
Mim. [...] Se estiveres doente, se receares a morte, morrerei em vez de ti para
que do meu sangue faças remédio para a vida.» [...]
Ó meu Senhor, por
que preço resgataste o meu serviço inútil! [...] Com que arte plena de amor, de
doçura e de benevolência recuperaste e submeteste este servo rebelde, triunfando
do mal pelo bem, confundindo o meu orgulho com a tua humildade, cumulando o
ingrato com os teus benefícios! Eis o triunfo da tua sabedoria!
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