terça-feira, 4 de agosto de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Ter fome de Deus”


PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR

364.Uma fome que não passa
            A oração pós-comunhão do primeiro domingo da Quaresma assim reza: “O Deus, que nos alimentastes com este pão [...] dai-nos desejar o Cristo, pão vivo e verdadeiro e viver de toda palavra que sai de vossa boca”. O texto em latim é mais forte e diz: “dai-nos ter fome” que é mais que desejar, buscar ansiosamente a vida. Bons desejos não são o mesmo que necessidade. Está bem dentro do espírito das bem-aventuranças: “Felizes vós que agora tendes fome porque sereis saciados” (Lc 6,21). Cristo, no início de sua vida apostólica, faz a experiência de um jejum prolongado. Esse jejum deve ter uma ligação profunda com sua missão. Podemos colocá-lo como um aprofundamento de sua fome do Pai, tanto que sua vida será sempre uma constante busca de fazer a vontade do Pai até o último momento da morte, quando diz: “Meu Pai, se é possível, que passe de mim esse cálice, contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres” (26,39). Ele se nos apresenta como modelo. A fome do alimento tem uma finalidade profunda, como nos diz o livro do Deuteronômio: “Eu te fiz passar fome para conhecer o que tinhas no coração – depois te dei o maná – para compreenderes que nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que saída boca do Senhor” (Dt 8,2-3). Essa fome de Deus é insaciável, como nos diz S. Agostinho, que sente o coração inquieto até que descanse em Deus. Certamente que Deus dá sempre o alimento e a bebida para saciar o coração. A Quaresma é um tempo de comer a abundante comida que é a Palavra de Deus para que se chegar ao banquete da Páscoa, no qual é imolado o Cordeiro, que é o Pão Vivo que desceu do Céu (Jo 6,50).
365.Uma fome solidária
            Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus (Mt 5,3). Essa pobreza, vai além da verdade da pobreza. É difícil ser rico pobre. Jesus disse: “Como é difícil, para quem tem riquezas, entrar no Reino de Deus” (Mc 10,18). “Mas para Deus nada é impossível” (Mc 10,27). Existem aqueles que se fazem pobres pelos pobres. Jesus é o exemplo acabado desse modelo, “pois, sendo rico, se fez pobre” (2Cor 9,9). Identifica-se com os pequeninos e com os infelizes. Ele mesmo deu o exemplo de pobreza e de humildade. Esses que assim fazem, são aqueles que têm a vida conduzida pelo Espírito de Deus e se fazem pobres para que os pobres sejam enriquecidos dos bens necessários para vida. Não ricos de ontem sendo os pobres de amanhã (D. Helder). Esses são aqueles que se fazem solidários com todo homem e mulher que sofrem. São os que lutam pelos direitos e dignidade desses que sofrem. São aqueles que sabem acolhê-los e com eles partilhar a vida. Desses temos muitos exemplos na história do povo de Deus. Os homens e mulher que foram mais ricos, foram os que tudo deixaram para ter nos pobres sua única riqueza. Ou mesmo aqueles que, na sua pobreza são capazes de dividir, partilhar e compartilhar. Os pobres ajudam os pobres. Solidários na fome, solidários com Jesus.
366.Fazer-se alimento
            Jesus, no extremo de seu empobrecimento, se faz alimento: “Minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida [...] quem come este pão viverá eternamente” (Jo 6,55.58). É interessante essa sua proposta de pobreza de dar a vida: “Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10,15). Saber viver Cristo que sacia a vida do mundo é fazer-se alimento, sair totalmente de si para ser consumido. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos” (Jo 15,13). Assim compreenderemos que a fome de Deus só é verdadeira quando somos capazes de saciar a fome com nossa vida.

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