PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
364.Uma
fome que não passa
A oração pós-comunhão do primeiro
domingo da Quaresma assim reza: “O Deus, que nos alimentastes com este pão
[...] dai-nos desejar o Cristo, pão vivo e verdadeiro e viver de toda palavra
que sai de vossa boca”. O texto em latim é mais forte e diz: “dai-nos ter fome”
que é mais que desejar, buscar ansiosamente a vida. Bons desejos não são o
mesmo que necessidade. Está bem dentro do espírito das bem-aventuranças:
“Felizes vós que agora tendes fome porque sereis saciados” (Lc 6,21). Cristo,
no início de sua vida apostólica, faz a experiência de um jejum prolongado.
Esse jejum deve ter uma ligação profunda com sua missão. Podemos colocá-lo como
um aprofundamento de sua fome do Pai, tanto que sua vida será sempre uma
constante busca de fazer a vontade do Pai até o último momento da morte, quando
diz: “Meu Pai, se é possível, que passe de mim esse cálice, contudo, não seja
como eu quero, mas como tu queres” (26,39). Ele se nos apresenta como modelo. A
fome do alimento tem uma finalidade profunda, como nos diz o livro do
Deuteronômio: “Eu te fiz passar fome para conhecer o que tinhas no coração –
depois te dei o maná – para compreenderes que nem só de pão vive o homem, mas
de toda a palavra que saída boca do Senhor” (Dt 8,2-3). Essa fome de Deus é
insaciável, como nos diz S. Agostinho, que sente o coração inquieto até que
descanse em Deus.
Certamente que Deus dá sempre o alimento e a bebida para
saciar o coração. A Quaresma é um tempo de comer a abundante comida que é a
Palavra de Deus para que se chegar ao banquete da Páscoa, no qual é imolado o
Cordeiro, que é o Pão Vivo que desceu do Céu (Jo 6,50).
365.Uma
fome solidária
Bem-aventurados os pobres de
espírito, porque deles é o Reino dos Céus (Mt 5,3). Essa pobreza, vai além da
verdade da pobreza. É difícil ser rico pobre. Jesus disse: “Como é difícil,
para quem tem riquezas, entrar no Reino de Deus” (Mc 10,18). “Mas para Deus
nada é impossível” (Mc 10,27). Existem aqueles que se fazem pobres pelos
pobres. Jesus é o exemplo acabado desse modelo, “pois, sendo rico, se fez
pobre” (2Cor 9,9). Identifica-se com os pequeninos e com os infelizes. Ele
mesmo deu o exemplo de pobreza e de humildade. Esses que assim fazem, são
aqueles que têm a vida conduzida pelo Espírito de Deus e se fazem pobres para
que os pobres sejam enriquecidos dos bens necessários para vida. Não ricos de
ontem sendo os pobres de amanhã (D. Helder). Esses são aqueles que se fazem
solidários com todo homem e mulher que sofrem. São os que lutam pelos direitos
e dignidade desses que sofrem. São aqueles que sabem acolhê-los e com eles
partilhar a vida. Desses temos muitos exemplos na história do povo de Deus. Os
homens e mulher que foram mais ricos, foram os que tudo deixaram para ter nos
pobres sua única riqueza. Ou mesmo aqueles que, na sua pobreza são capazes de
dividir, partilhar e compartilhar. Os pobres ajudam os pobres. Solidários na
fome, solidários com Jesus.
366.Fazer-se
alimento
Jesus, no extremo de seu
empobrecimento, se faz alimento: “Minha carne é verdadeira comida e o meu
sangue é verdadeira bebida [...] quem come este pão viverá eternamente” (Jo
6,55.58). É interessante essa sua proposta de pobreza de dar a vida: “Eu dou a
minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10,15). Saber viver Cristo que sacia a
vida do mundo é fazer-se alimento, sair totalmente de si para ser consumido.
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos” (Jo 15,13).
Assim compreenderemos que a fome de Deus só é verdadeira quando somos capazes
de saciar a fome com nossa vida.
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