As narrativas das aparições de Jesus
ressuscitado aos discípulos seguem esquemas diferentes de acordo com a
necessidade a que cada evangelista quis responder. Lucas descreve a aparição às
mulheres, aos discípulos de Emaús, a Pedro e, por fim, a primeira aparição aos
apóstolos reunidos, à comunidade apostólica. Eles se recusavam a acreditar até
o momento em que Jesus
se coloca no meio deles. O susto foi muito grande. Tinham dificuldades para
crer. Com essa aparição, o evangelista quer mostrar que Jesus é um vivo e não
um fantasma. Ele está vivo. Tem carne e osso. Diz: “Por que tendes dúvidas no coração?
Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! “Um fantasma
não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho” (Lc 24,39-39). E se
alimenta! Come um pedaço de peixe assado (42). Cremos em uma pessoa viva. Os
discípulos fizeram uma experiência única: ter contato direto com aquele que
estivera morto e agora está vivo. “Deus fez que se manifestasse, não a todo o
povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido de antemão, a nós que comemos
e bebemos com Ele após sua ressurreição dentre os mortos” (At 10,40-41). A
experiência que fazem do Ressuscitado passa para nós. A fé abre a inteligência
para compreender esse acontecimento. Nessa fé estamos unidos à mesma
experiência dos apóstolos. Isso é importante, pois nossa fé não exige uma
experiência visível, mas experiência fundada na fé dos que são as colunas da
Igreja. Jesus diz a Tomé: “Felizes os que não viram e creram” (Jo 20,29).
A
comunidade reconciliada
Jesus, no dia da ressurreição, saúda os apóstolos, dizendo: “A paz
esteja convosco”. A ressurreição traz paz. Ela se torna caminho de vida para a
comunidade que crê. Essa paz é fruto da reconciliação que Jesus realizou para
nós com sua morte. Jesus passara por uma morte dolorosa. Essa morte tem uma
razão, um sentido: a expiação dos pecados que acontecerá pelo arrependimento e
pela conversão. A comunidade reconciliada vive a paz. Por isso Jesus abre a
inteligência dos discípulos para entenderem a Escritura que falava desses
acontecimentos. Não basta saber. Ao dar o Espírito Ele abre a inteligência dos
discípulos para entenderem o sentido de sua morte e ressurreição. Compreendendo
as Escrituras e guardando os mandamentos, seguem o caminho proposto por Jesus. A
comunidade primitiva torna-se assim protótipo da vida da Igreja. Por isso Lucas
insiste no fato de Jesus estar vivo e presente. Ele é a razão da comunidade.
Ele a reconcilia e a coloca em paz, mesmo no meio das perseguições.
Comunidade
hoje
Cristo não era, para os primeiros cristãos, uma idéia, um ensinamento,
um “fantasma do outro mundo”, uma visão espiritual. Para nós Ele é um Vivo e
presente sempre a dar o Espírito Santo e a nos dizer: “sereis testemunhas de
tudo isso” (Lc 10,48): sua vida morte, ressurreição e presença em nossa
comunidade. A comunidade convertida e reconciliada pelo perdão dá o testemunho
de Cristo e implanta a paz. Essa paz deve ter carne e osso, como Jesus, isto é,
viva e real. Deve levar ao crescimento das pessoas em Cristo. Reconciliados
para a paz. Não há paz senão a partir dos ensinamentos e mandamentos de Jesus.
Seguindo o mandamento, teremos o amor de Deus. A fé na ressurreição de Jesus
será demonstrada se nós tivermos a ousadia de ser “palavras Suas” em carne e
osso. Uma fé que não compromete é ideologia que ilumina as mentes, mas não toca
o coração.
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