No castelo de Métola, em Città di Castello, em Itália, viviam em 1287 os Condes D. Parísio e D. Emília, esperando o nascimento do primeiro herdeiro. Certos de que seria um menino, forte e belo, continuador do nome e das glórias da família, mandaram preparar grandes festejos. Convidaram os fidalgos das cidades vizinhas, prepararam banquetes e esplendorosos espectáculos. Os trovadores, os actores e os músicos aguardavam o minuto em que o menino viesse à luz do dia para desatarem num coro de louvores e de música. Quando tão grandes esperanças se debruçavam sobre a criança que havia de nascer, veio ao mundo uma menina disforme, cega e coxa, aleijada e feia.
A notícia foi mantida oculta e toda a festa se desfez repentinamente. Os pais, envergonhados, ocultaram a infeliz, chamada Margarida, a princípio no celeiro, depois no sótão e mais tarde numa cela pegada à capela que possuíam no bosque.
Os horríveis defeitos do corpo eram compensados pelas qualidades de alma. Dotada de inteligência e memória invulgares, aprendeu Margarida de cor muitas orações que repetia nas horas de solidão, para seu conforto.
Morreu nessa altura na cidade um frade franciscano, de nome Tiago. Era tal a fama da sua santidade que lhe começaram a atribuir numerosos milagres. Um raio de esperança iluminou a vida dos Condes. Levaram a aleijadinha, que então contava 16 anos, ao túmulo do frade santo, para lhe pedirem ou quase exigirem um milagre. A menina, depois de longo tempo de oração silenciosa, proferiu estas palavras:
Senhor, concedei-me a cura, se for da vossa santíssima vontade. Senhor, se quiserdes que leve a minha cruz até à morte, ficarei igualmente contente. Só Vos peço que se faça a vossa vontade.
O milagre não veio. No fim da oração, a menina continuava cega, corcunda, coxa e anã. Os desapiedados pais abandonaram a desgraçadinha na igreja e fugiram apressadamente para o castelo. Umas pobres mulheres, que ali vieram rezar, tiveram compaixão da menina. Desde essa altura passou ela a ser propriedade comum de toda a gente, andando de casa em casa, sustentada por caridade.
A pobre cega, abandonada, como traste inútil, por todos, até pelas freiras do convento, foi finalmente recolhida por uma família rica. Com memória prodigiosa, rezava de cor todos os dias os 150 salmos, os Ofícios de Nossa Senhora e de Santa Cruz. Consagrava especial devoção ao Menino Jesus e a São José, concorrendo poderosamente para a difusão do culto de tão amável santo.
Alma inocente e pura, encantava a toda a gente pela sua alegria, inocência, desconhecimento do mal do mundo, abandono filial nas mãos de Deus e tema confiança nos amigos. Desculpava os defeitos alheios e acreditava na bondade de toda a gente.
Apaixonada pelas crianças, atendia-as com carinho, ensinava-lhes a catequese e contava-lhes variadas histórias. Conduzida por mãos caridosas à cabeceira dos doentes, consolava-os, infundia-lhes resignação e conseguia que os pecadores mais endurecidos se reconciliassem com Deus. Parecia ter recebido do céu a missão de difundir a paz, luz e graça.
Atribuíam-lhe já em vida grandes milagres. Tendo-se declarado um incêndio na casa duma família que a recebera, bastou deitar o seu manto sobre as labaredas para logo se apagarem.
Prodígios ainda maiores sucederam depois da sua morte, ocorrida no dia 13 de Abril de 1320, quando Margarida contava 33 anos de idade. O povo começou desde logo a invocá-la como santa. A.9 de Junho de 1558, mais de dois séculos após a sua morte, o seu corpo foi encontrado fresco e incorrupto. A 19 de Outubro de 1609, o Papa Paulo V reconheceu a sua santidade concedendo-lhe o título de Beata. É venerada na Ordem Dominicana e na Diocese de Santo Ângelo in Vado.
Todos os limitados físicos, como a Beata Margarida de Métola, podem ser integrados na sociedade e prestar-lhe serviço.
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