Evangelho segundo S. João 16,29-33.
Naquele
tempo, disseram os discípulos a Jesus: «Agora, sim, falas claramente e não usas
nenhuma comparação. Agora vemos que sabes tudo e não precisas de que ninguém
te faça perguntas. Por isso, cremos que saíste de Deus!» Disse-lhes Jesus:
«Agora credes? Eis que vem a hora e já chegou em que sereis dispersos cada
um por seu lado, e me deixareis só, se bem que Eu não esteja só, porque o Pai
está comigo. Anunciei-vos estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No
mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!»
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Rafael Arnaiz Baron (1911-1938),
monge trapista espanhol
Escritos espirituais, 20/01/1937
«Anunciei-vos estas coisas para que, em Mim, tenhais a
paz»
«Senhor Meu Deus, vejo como me é preciso ter
paciência; porque esta vida é cheia de contradições. Jamais estará isenta de
dores e de lutas, faça eu o que fizer para ter paz. – E é assim, meu filho; mas
Eu não quero que procures uma paz sem tentações para vencer, sem contrariedades
para sofrer. Acredita, ao contrário, que terás encontrado a paz quando tiveres
sido trabalhado por muitas tribulações, e tentado por muitas contrariedades»
(«Imitação de Cristo», 3,12) […].
Como nos enganamos, por vezes, os
que procuramos a verdadeira paz de Deus! […] É que, com frequência, o que
procuramos não é a paz de Deus, mas a paz do mundo. […] Quando o mundo procura a
paz, concebe-a assim: silêncio, quietude, amor sem lágrimas, muito egoísmo
camuflado. O homem procura essa paz para descansar, para não sofrer; procura a
paz dos homens, a paz sensível, aquela paz que o mundo representa num claustro
sob o sol, com ciprestes e pássaros; aquela paz sem tentações e sem cruz. […]
Hoje bendigo do mais fundo da minha alma este Deus que me ama tanto.
[…] Ele ama-me com as minhas misérias, os meus pecados, as minhas lágrimas e as
minhas alegrias; Ele quer-me nessa paz de que nos fala Thomas de Kempis [em «A
Imitação»]. […] Como Deus é grande! A paz da minha alma é a paz daquele que nada
espera de ninguém. O que a alma espera neste mundo é apenas o desejo de viver
unida à sua vontade; e essa espera é serena, na paz, apesar do triste cansaço de
não ver ainda a Deus. Acompanhá-Lo na cruz custa por vezes lágrimas abundantes.
Considerar que ainda temos uma vontade própria, tantas misérias, defeitos,
pecados, não pode deixar de nos causar desgosto. […] Tudo é combate, dor, mas
Jesus está no centro, pregado numa cruz, e encoraja a alma a prosseguir. No meio
da batalha que deixamos no mundo, está Jesus, de rosto sereno, dizendo-nos:
«Quem Me segue não andará nas trevas» (Jo 8,12).
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