terça-feira, 19 de novembro de 2024

REFLETINDO A PALAVRA - “O direito de respeitar”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Quando o todo é um só.
 
Deixando o aspecto econômico que requer aprofundamento, o Papa Francisco vai a outro aspecto. Em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium reflete sobre os desafios culturais. Como vimos, a economia é orientada por princípios que não levam em conta o homem em sua realidade, fazendo-o vítima do sistema ganancioso e consumista em proveito de poucos. Assim também encontramos os desafios culturais. A cultura aqui não são os conhecimentos e a sabedoria, mas os princípios que dominam a sociedade. A título de liberdade em todo o sentido, a pessoa se rege pelo individualismo, desconhecendo o outro. Perdeu-se a capacidade de fazer parte de um corpo. Certo que não podemos ficar na ditadura do todo destruindo a personalidade e os direitos do indivíduo. Chegou-se, contudo à ditadura do indivíduo sobre o todo. Em nosso tempo encontramos também grupos que catalisam e se reúnem em torno de ideias. Estamos vendo por todo mundo situações inexplicáveis e desafios. O Papa enumera os resultados a que se chegou: Ataques à liberdade religiosa com perseguição de cristãos (não só católicos) com ódio e violência. Em outros lugares há uma indiferença relativista que recusa o que é de um grupo, no caso, religioso. É a teoria: se não está de acordo comigo ou com meu grupo, não tem direito de existir. Impossibilita trabalhar em comum em vista do bem das pessoas. Religiões e filosofias não podem ser impostas sob o risco de destruir a pessoa. Ouvi que Voltaire disse: “Sou contra sua ideia, mas vou lutar até à morte pelo direito que tem de defendê-la”. 
Respeitando as culturas 
Pelo fato de não procurar o desenvolvimento da pessoa humana, ocupa primeiro pelo que é exterior, imediato, visível, rápido, provisório. “A globalização, como alerta” o Papa, “comportou uma acelerada deteriorização das raízes culturais com a invasão de tendências pertencentes a outras culturas, economicamente desenvolvidas, mas eticamente debilitadas” (EG 62). Os países em desenvolvimento, como reclamam os bispos africanos, são invadidos pelos interesses dos poderosos do mundo e de suas empresas, que com os meios de comunicação que “nem sempre dão a devida conta as prioridades e os problemas nesses países e não respeitam sua fisionomia cultural”. Continua o colonialismo que se aproveita das situações de riqueza natural e o povo fica fora do progresso. O mesmo acontece com países da Ásia que são desfigurados em suas culturas. João Paulo II escreveu no documento Ecclesia in Asia nº 58 “que os aspectos negativos dos meios de comunicação social estão ameaçando os valores tradicionais” (62). Isso não está distante. Tantos valores de nosso povo foram destruídos por essas influências. É um mal. 
Uma fé provada 
“O processo de secularização tende a reduzir a fé e a Igreja ao âmbito privado e íntimo”... “Com a negação da transcendência produziu-se uma crescente deformação ética, um enfraquecimento do sentido do pecado pessoal e social e um aumento do relativismo” (64). Foi atingida a família e debilitada a estabilidade dos vínculos, fruto do individualismo. Apesar de todos esses problemas, a Igreja permanece uma instituição credível por sua atenção às populações carentes e sua contribuição com a sociedade, de modo particular na proposta da paz e na cura das feridas, construir pontes, estreitar laços. A mensagem fundamental do amor continua sua estrada de restauração do mundo. A fé, vivida em meios adversos faz compreender que ela deve ser coerente e assumida como modo de se viver. Temos o direito de respeitar cada pessoa e promovê-la a viver intensamente.
ARTIGO PUBLICADO EM JANEIRO DE 2015

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