Entre as virtudes encontramos algumas que, pela má fama que adquiriram, parecem absoletas e prejudiciais. Trata-se da virtude da obediência. Quando foi mal entendida ou mal usada, esta virtude serviu como meio de dominação. Por outro lado foi ela que levou muitos homens e mulheres a construírem um mundo melhor, pois souberam ouvir a voz de Deus, dialogar com as pessoas e estar atentas aos sinais dos tempos. A obediência é um caminho muito seguro para o desenvolvimento pessoal. A palavra obediência está ligada a ouvido. Em latim obedecer é ob-audire. Audire é ouvir. Trata-se de ouvir. Sabemos que o sentido do ouvido não só recolhe, as informações como a vista, mas leva à consciência para a elaboração. É uma atitude madura para fazer as opções da vida. Infelizmente confundiu-se obediência com comando. Pior foi identificar a vontade de superiores à vontade de Deus. Mesmo os governos abusaram da obediência. Nos massacres do povo, ouvimos soldados dizerem: “Estamos cumprindo ordens superiores”. Na Polônia existe um túmulo de um soldado russo que é muito venerado. Ele foi morto porque se recusou matar inocentes. Nos regimes totalitários essa maneira de conceber a obediência fez seus desastres: “Quem não está conosco é mau”. Obediência pela repressão não é virtude. Primeiro é preciso obedecer a Deus. Os apóstolos responderam no tribunal: “Julgai se é justo, aos olhos de Deus, obedecer mais a vós do que a Deus (At 4,19). Jesus obedece ao Pai, sabendo orientar sua vida dentro do que o Pai queria: “Faço como o Pai me ordenou” (Jo 14,31); “Não vim para fazer minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6,38). No horto Jesus reza: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita!” (Lc 22,42). Para realizar esse projeto em nossa vida, contamos com a presença do Espírito Santo.
Obediência, caminho da realização
A virtude da obediência ensina a se colocar no plano de Deus para a vida das pessoas e não para a solução de uma questão pessoal. Isso é saúde da fé. Obediência é uma virtude adulta que nos faz donos de nós mesmos dentro de uma situação em que superamos o egoísmo e pensamos acima de nossas necessidades egoístas. Obediência não é fazer o que os outros querem, mas, num processo de discernimento, buscar juntos o melhor caminho. Existe a atitude dos meios de comunicação que, sem discernimento, impõem sobre o povo idéias, necessidades e opções. Por isso é necessário o senso crítico e a vontade de mudanças efetiva. Também, no âmbito das igrejas, é preciso discernimento para que a autoridade liberte as consciências e promova a maturidade, sem domesticar as pessoas.
Ouvindo juntos
A obediência tem também hoje, o nome de diálogo para descobrir o melhor caminho para a tomada de posição. Mas o diálogo também se tornou numa espécie da imposição. O diálogo será obediência quanto, juntos, se procura a melhor resposta para a situação. “A educação para a obediência à fé consiste, sobretudo, numa respeitosa iniciação ao mistério insondável de Deus e num conhecimento vital de Jesus e de sua mensagem”(Pe. Häring). É preciso o acolhimento da crítica amadurecida. É um modo de obediência, pois somos todos co-responsáveis pela verdade, pelo bem e pelo amor. A obediência se empenha também em ouvir os dons que cada um possui. Eles são uma palavra de Deus para nós. Por eles podemos cooperar com o desenvolvimento das pessoas.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM MARÇO DE 2009
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