sábado, 26 de março de 2022

RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE - DEUS-V - PADRE JOÃO MAC DOWELL

Pe.João A. Mac Dowell S.J. 
É verdade que diante de uma desgraça o cristão deve resignar-se, porque é a vontade de Deus? 
De jeito nenhum. É uma ideia errada, infelizmente muito difundida, pensar que tudo acontece pela vontade de Deus. Deus não quer o pecado, não quer nenhum mal. Muitas coisas acontecem por causa da má vontade dos homens. A miséria e sofrimento humano são fruto muitas vezes da ignorância, do egoísmo, ódio e opressão. Se dirijo um carro a 150 km. por hora e causo várias mortes num acidente, é claro que isso é contra a vontade de Deus. Outras desgraças, como um terremoto, uma inundação, uma epidemia, têm causas naturais. Não é Deus que manda estas calamidades para nos provar ou castigar. Elas acontecem de acordo com as leis da natureza, num mundo que não saíu completamente acabado das mãos do Criador. O universo está ainda a caminho da perfeição final para a qual Deus o destinou. O que Deus quer é o bem das suas criaturas: que todos cheguem à plenitude da vida e felicidade. A sua vontade é que combatamos desde já as causas do sofrimento humano, a doença, a fome, a guerra. Não foi o que fez Jesus, curando tantos enfermos? Não foi o que ele nos ensinou, condenando a injustiça e a violência, e exortando-nos a visitar os prisioneiros e dar de comer aos que têm fome? Quando rezamos "seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu", não nos estamos resignando com tudo o que há de triste na terra. Ao contrário, manifestamos o desejo de que todo mundo faça sempre o bem, obedecendo à vontade de Deus, como já acontece no céu. Ele não quer que nos resignemos com a situação atual numa atitude fatalista. Mas nos convida a promover com todas as forças um mundo melhor. Mas, quando não é possível impedir o mal ou aliviar a dor, a vontade de Deus é que encaremos esta situação com fé e esperança, sabendo que só existe uma coisa absolutamente negativa, pecar contra Deus e contra o próximo. Quem crê, não desespera ante os sofrimentos inevitáveis da vida, porque confia na libertação final. Mesmo na doença, na pobreza e perseguição ou diante da morte, uma pessoa pode sentir-se em paz. Até o pecado, se eu me arrependo, pode ser ocasião de crescer na humildade, na compreensão dos outros, no desejo de ajudá-los a evitar os males que ele me trouxe. Fica claro, portanto, que o mal não acontece pela vontade de Deus. A sua vontade é que nos amemos uns aos outros, ajudando-nos a superar as deficiências da natureza e as consequências da maldade humana, a tirar o bem do próprio mal. 
João A. Mac Dowell S.J. 
EDITORA SANTUÁRIO

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