terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Venerável Margarida do Santíssimo Sacramento e a devoção ao Pequeno Rei da Graça

Inocência, pureza, simplicidade.
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Estas são as virtudes que Margarida do Santíssimo Sacramento prometia àqueles que contemplassem Jesus no mistério de sua Infância. Que nosso mundo, tão complicado, tão agitado, se abra à Paz que vem da manjedoura e de onde Jesus nos revela o segredo: “Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas" (Mt. 19, 14). 
Uma "fundadora" de seis meses 
Em 7 de fevereiro de 1619, em Beaune, Joana Bataille, esposa de Pedro Parigot, deu à luz seu quinto filho, ela teria mais dois. O casal profundamente católico vivia confortavelmente com a renda da terra e da vinha. A pequena Margarida foi batizada no mesmo dia. Seis meses depois, ocorreu um acontecimento importante: as freiras do Carmelo de Dijon, fundado em 1605, depois de muitas provações e dificuldades, abriram um Carmelo em Beaune. O cônego que cedeu o priorado de Santo Estevão às Carmelitas não era outro senão o tio-avô de Margarida. Por isso, ele estabeleceu uma condição para esta concessão: que sua sobrinha fosse recebida no mosteiro, e quando ela tivesse idade suficiente seria a "fundadora"! Margarida, com apenas seis meses se tornou “fundadora” do Carmelo de Beaume. Ela poderia revoltar-se por ter sido assim destinada ao claustro sem o seu consentimento, mas o Espírito Santo desceria sobre a alma desta criança e ia conduzi-la precocemente a uma maturidade espiritual surpreendente. Ela é gentil e dócil, graciosa, e a esses dons naturais acrescentava-se uma piedade crescente. Aos cinco anos, o Santíssimo Sacramento a atraia como um ímã e ela se ofereceu a Deus no segredo do seu coração. Às vezes, o frio a atingia tanto, que ela pensava que ia desmaiar na igreja, mas o Espírito Santo a cobria com um calor suave e ela continuava sua oração. Também precoce, e sobrenatural, era a sua atração vibrante de ternura pelos pobres, tão numerosos nestes tempos de guerra e de epidemias. Acompanhava a mãe nas visitas aos enfermos e vencia a repugnância ao trocar os curativos dos doentes. O despojamento de Jesus que ela contemplava na manjedoura despertou nela o desprezo das riquezas, das roupas cobiçadas, dos pratos delicados. 
“Não mostrar nossos sofrimentos” 
Tudo parecia sorrir para a pequena Margarida: miúda, rosto delicado, caráter amável, sorriso delicioso, ela encantava a todos que a conheciam. Mas ela sofria de acessos de melancolia, de tristeza, delirava. Suas convulsões faziam sua mãe chorar de preocupação. Desse desequilíbrio nervoso Margarida nunca se recuperaria completamente. Em meio ao pior sofrimento moral e físico, Margarida mantinha a paz e a serenidade. Ela resistia às tentações e ao ataque de desespero, seu socorro era a oração, dia e noite. Ela escreveu aos dez anos esta reflexão surpreendente que explica seu temperamento igual: “Quando o Bom Deus nos envia sofrimentos, devemos nos esforçar para escondê-los dentro de nós e não demonstrá-los aos outros, pois eles não são obrigados a aguentá-los”. A morte da Sra. Parigot colocou um fim abrupto à infância de Margarida. Em seu leito de morte, sua mãe a consola e promete que ela será uma carmelita. Margarida, arrasada, corre para a igreja e prostrada diante da imagem da Virgem, implora que Ela se coloque no lugar da mãe e entende em seu coração que foi ouvida. 
"Presa" na infância de Jesus
Na mesma tarde do funeral, Margarida, em seu vestido de luto, foi levada ao convento das Carmelitas por seu pai. Apesar de sua dor, ela foi imediatamente inundada de alegria. Acolhida pela Madre Isabel da Trindade, Priora, e Madre Maria da Trindade, Mestra de Noviças, a pensionista de onze anos e meio entretém as duas santas mulheres com comentários inflamados sobre o Santíssimo Sacramento. No dia seguinte, ela foi admitida para fazer sua primeira comunhão e ouviu Jesus chamá-la: “Minha pequena esposa”. Esta menina, cuja sabedoria e seriedade diferia das outras crianças, adaptou-se muito rapidamente à vida da Comunidade. Ela descobriu a devoção ao Menino Jesus, cultivada no Carmelo desde Santa Teresa de Ávila, dizia que o: “O Menino Jesus me aprisionou nos doze anos de sua Infância”. Mas uma vez que a exaltação das primeiras descobertas se acalmou, as tentações assumem o controle. Ela via a mão do demônio, animais terríveis, pragas que virão; ela perde o sono e não consegue comer nada enquanto convulsões atrozes retorcem seus membros, seguidas por longos cochilos, acessos de medo e lágrimas. Os médicos falam em epilepsia, mas intrigados com a lucidez, a modéstia e a gentileza de que sua jovem paciente não se afastava. Em 6 de junho de 1631, aos doze anos, exausta e emagrecida, Margarida recebeu o hábito de noviça, tomando o nome de Irmã Margarida do Santíssimo Sacramento. As crises se sucedem até 31 de julho, quando a aparição do Menino Jesus, sentado à beira de um poço, cura Margarida. 
O Espírito da Infância e a Graça da Cruz 
Em agosto, Jesus prontamente a exorta a participar do estado de sua Infância. Por seis meses, ela se encontraria em um paraíso perpétuo. Suas irmãs às vezes a veem lavada com pureza, perfumada com castidade, seu rosto brilhando com uma brancura deslumbrante, abstendo-se por algum tempo de toda comida. Acima de tudo, são as suas virtudes que impressionam suas companheiras e suas superioras: uma humildade muitas vezes posta à prova, uma obediência que prevalece sobre a sua natureza. Em 7 de fevereiro de 1632, Jesus a encorajou à penitência: “Agora você deve aprender a ciência da minha Cruz”. Como a pequena Teresa de Lisieux dois séculos depois, Margarida foi carregada do peso dos pecadores. Doenças, sofrimentos, enfermidades nunca a deixarão. Consciente dos pecados e das desordens que ocorriam em um mosteiro ou na pessoa de um sacerdote, sentia amargura e angústia, sofria pelos orgulhosos e impuros, pelas almas vaidosas, pelos preguiçosos e blasfemadores. Foi na Epifania de 1632 que ela assinou o seu ato de consagração como Esposa do Menino Jesus em seu presépio. Fez a profissão solene em 24 de junho de 1635 e Jesus apareceu para ela em forma de uma criança, dando-lhe o anel, a coroa e o manto com esta promessa: “Não recusarei nada do que me pedires na oração”. O ano de 1636 foi terrível para a França: guerras, invasões, cercos. Jesus confidencia a Margarida: “Pelos méritos do Mistério de minha Infância superarás todas as dificuldades”. Margarida criou então a “Família do Santo Menino Jesus” cujos “servos” viverão das virtudes da Santa Infância e recitarão a Pequena Coroa. Esta devoção muito rapidamente saiu dos limites do claustro. O exército inimigo se retirou e a Borgonha experimentou dois séculos de paz. 
A chegada do pequeno rei
 
Em 15 de dezembro de 1637, enquanto toda a França rezava pelo nascimento de um herdeiro ao trono de Luís XIII, Margarida foi informada da gravidez da rainha, antes da própria Ana da Áustria! Tendo se tornado rei da França, Luís XIV veio ao Carmelo de Beaune em 1658 para agradecer às irmãs por suas orações. Mas é outro rei que entrará no mosteiro. Na verdade, a fama de Margarida chegou aos ouvidos de um gentil-homem normando, o Barão Gaston de Renty. Ele foi ao Carmelo em 1643 sem ver Margarida, que vivia cada vez mais retraída. Em novembro, ele enviou a ela a estátua que se tornaria o querido Pequeno Rei da Graça. Na sequência de um mal-entendido, esta escultura chegou, humildemente, pelo correio. “Fiquei muito surpreso”, escreveu M. de Renty um mês depois, “quando soube que o Menino Jesus foi levado pelo correio. Meu Deus! Como é que não foi quebrado tendo sido levado por quase cem léguas! Margarida tivera alguns anos antes a inspiração de construir uma capela dedicada ao Menino Jesus; esta foi consagrada no dia de Natal de 1639. A chegada do Pequeno Rei coincidiu com a morte de Madre Maria da Trindade em dezembro de 1643. Em 1644, Gaston de Renty encontrou Margarida: o Filho de Deus fez uma ligação tão estreita entre essas duas almas, que era apenas um coração e um espírito. Este santo homem, que era o diretor espiritual da prioresa, Madre Isabel da Trindade, se colocou nas mãos da jovem carmelita de 25 anos: “Eu me entrego a vós, minha querida irmã, para que possais formar-me de acordo com o desejo de vosso Santo Esposo. "Quando tudo estiver consumado, o Menino Jesus me atrairá a Ele" Em março de 1648, Margarida foi colocada na enfermaria da qual nunca mais sairia. Enquanto seu corpo é um abismo de sofrimento, sua alma é um abismo de paz e alegria: não parecia que ela era uma criatura mortal, mas uma alma já regenerada pela glória. Até o fim, ela agradecia às irmãs e as consolava: “Vós me encontrareis sempre no Santíssimo Sacramento”. Ela morreu no dia 26 de maio pela manhã, aos 29 anos de idade. Depois chegava ao Carmelo um desfile de fiéis para prestar uma última homenagem à santinha. Gaston de Renty, que logo a seguiria, escreveu: “Deus levou para o céu o que a terra não era digna de possuir”. São João Eudes vira Margarida pouco antes de sua morte: “Não posso falar do respeito e da devoção que o Santo Menino Jesus imprimiu em nossos corações a respeito de sua santa esposa; já sentimos vários efeitos de sua caridade, espiritual e corporal”. Na verdade, intercessões e milagres se sucederam. Depois de um processo de beatificação muito atribulado e com interregnos, a Irmã Margarida do Santíssimo Sacramento foi declarada Venerável em 1873, aguardando-se, com a graça de Deus, que rapidamente chegue aos altares. 
Fontes: 

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