Evangelho segundo São Lucas 1,26-38.
Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era descendente de David. O nome da Virgem era Maria.
Tendo entrado onde ela estava, disse o anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela.
Disse-lhe o anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus.
Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David;
reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?».
O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».
Tradução litúrgica da Bíblia
(1894-1967)
Carmelita,fundador de Notre Dame de Vie
O dom de si
«Eis a escrava do Senhor»
O oferecimento de si deve elevar-se da alma em todo o momento, como expressão mais perfeita do amor e provocação contínua à misericórdia divina; por ele, a alma respira e aspira o amor, purifica-se e une-se ao seu Deus. A Virgem Maria, cumulada de graças pelo Espírito Santo, perdida na luz simples de Deus, tinha empenhado todas as suas energias na realização da vontade divina. E eis que o arcanjo São Gabriel lhe aparece e a saúda. A Virgem fica um instante perturbada com tal presença e louvor, mas o seu apurado sentido espiritual reconhece prontamente a qualidade sobrenatural do mensageiro. Maria compreendeu: o que o anjo está a propor-lhe é mesmo que seja a Mãe do Messias. Nunca lhe teria ocorrido tal coisa, porque não sabe quem é: a simplicidade da sua graça oculta-lhe a imensidão da mesma. Maria apenas conhece a Deus e a vontade de Deus. Diante da perspectiva que subitamente se abre na sua frente, só faz uma pergunta, preocupada com a sua virgindade: «Como será isto, se eu não conheço homem?». Descansada com a resposta do anjo: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra», sem hesitar, sem pedir uns dias para pensar, para se aconselhar, ou sequer uns instantes para se preparar, a Virgem Maria dá, por si mesma e por toda a humanidade, a sua adesão ao mais sublime e mais terrível dos contratos: a união, no seu seio, da humanidade à divindade, ao Calvário e ao mistério da Igreja.
E o Verbo fez-Se carne graças ao Fiat da Virgem, cuja alma dócil tinha sido preparada desde há muito por uma disposição completa e indeterminada de oferecimento de si. Também na nossa alma o dom de si gera empreendimentos divinos, preparando-nos para o mesmo Fiat fecundo.
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