Amanheceu sexta feira. Pilatos, envergando a toga romana para o grande julgamento daquele dia, fizera-se rodear dos membros do Conselho e da soldadesca. Levantara-se de mau humor. Aqueles dias de festa obrigavam-no a ficar atento, em vista das constantes perturbações da ordem.Eis a primeira vítima que lhe trazem: Jesus de Nazaré. Acusavam-no de ser revolucionário, de conspirar contra o governo romano, de pretender e cobiçar o trono imperial, etc. Mandaram-no à sua presença vestindo um trapo de manto vermelho, símbolo do poder real, para que o submetesse a julgamento sumário. Mas Pilatos não parecia ver naquele homem, a marca de um rebelde e conspirador. Soltá-lo? Mas sob que pretexto? Lembrou-se então de que, por ocasião da Páscoa, era costume libertar algum prisioneiro ou condenado à morte.Ora, no cárcere havia um tal Barrabás, responsável por diversos homicídios, e muito temido pelo povo. Sem dúvida alguma, pediriam a liberdade de Jesus, se Pilatos mandasse escolher entre um e outro. Por isso ordenou: Tragam-me aqui Barrabás.Ele veio, escoltado pelos soldados, mãos amarradas e semblante ameaçador. Os dois ficaram voltados para a populaça. Que contraste, porém: Jesus, a própria inocência; e Barrabás, o padrão da maldade. Qual destes dois vocês querem que eu solte? Barrabás, o criminoso? Ou Jesus, o Messias? A multidão, certamente, açulada pelos chefes do povo, respondeu: Barrabás!Inacreditável!
Povo subornado
Este povo estava sendo subornado e comprado. Pilatos tentou ainda: Mas... que mal fez ele?... cruz para ele! Crucifica-o! Crucifica-o! Pilatos não se deu por vencido. Pensando amolecer os sentimentos da turba assanhada, mandou flagelar Jesus. Horas depois o Mártir foi trazido diante do pretório. Seu corpo era uma chaga viva. Na cabeça enterraram uma coroa de espinhos. Sobre os ombros estenderam um manto velho de soldado, e na sua mão haviam colocado uma taquara. Toda essa paródia, para zombar da sua realeza.Pilatos, injusto, cruel e covarde, queria satisfazer a sede insaciável de sangue daquele povo. Dera, porém, um golpe errado. Ao mostrar Jesus ensangüentado ao povo, ouviu mais este grito aterrador: Crucifica-o! Crucifica-o! Então querem que eu crucifique o rei de vocês? Não temos outro rei, senão César - vociferavam. Pilatos fechou os olhos. Tanto ódio e tanta raiva repugnavam-no. Acenando para um secretário, mandou que trouxessem uma bacia com água. Lavando as mãos, voltou-se solenemente para a platéia dizendo: Eu lavo as mãos no sangue desse Justo. Mas a multidão respondeu obcecada: Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.
Condenado
Estava concluído o processo iníquo. Entregaram a cruz, que Jesus devia carregar até o lugar do suplício. O sol estava exatamente no meio do céu. Um cortejo subia lentamente a rua que leva ao Calvário. Caminho íngreme, invadido aqui e ali pelas poças d'água. À frente seguia um rapaz vestido de andrajos, levando a tabuleta com a sentença da condenação: Jesus Nazareno (declarou) rei dos judeus.Atrás dele marchava um magote de soldados. Os elmos dos capacetes romanos faiscavam à luz do sol. Em seguida vinham os carrascos e, no meio, Jesus com sua pesada cruz sobre os ombros. O sangue corria das feridas, banhando a terra. Onde os pés pisavam, podiam-se ver os vestígios sangrentos. Viam-se no seu semblante todos os sinais da exaustão.O cortejo parou subitamente... Chegaram finalmente. No chão viam-se restos das ultimas execuções: Manchas de sangue, trapos de roupa e pedaços de cordas. A poder de fortes marteladas, entre blasfêmias e zombarias, foram enterrados os cravos nas mãos e nos pés. Depois foi erguida a cruz. Ao soltá-lo no buraco, a cruz levou tamanho solavanco que abalou e rasgou ainda mais as feridas do divino Mártir. Jesus ficou pairando entre o céu e a terra, ladeado pelos dois ladrões que foram crucificados com ele. Ao redor de Jesus todos comentavam e tagarelavam, habituados a ver cenas desse tipo. Poucos sentiam compaixão, excetuando-se o grupo das mulheres Maria Madalena, Maria Salomé, Maria Mãe de Jesus, e João o discípulo fiel.Sua extremosa Mãe estava aos pés da cruz, mas não podia prestar-lhe o menor socorro. Um tanto escondido pela escuridão que envolvia a terra, Jesus voltou-se com dificuldade para ela e lhe disse, num fio de voz: Eis aí teu filho. Depois, voltando-se para João, disse: Eis aí a tua mãe. Assim dizendo, Jesus estava confiando sua Mãe aos cuidados de João Evangelista.Proferiu diversas outras palavras que ficaram como testamento e mensagem derradeira ao mundo: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. Reclinando a cabeça, Jesus exalou o último suspiro. A terra tremeu, os rochedos fenderam-se as trevas cobriram a terra, e os mortos saíram de suas sepulturas. Era o desequilíbrio da natureza, provocado pela morte do Senhor do mundo. Os últimos curiosos desceram a colina, enquanto alguns batiam no peito repetindo: Este homem era verdadeiramente o Filho de Deus.
PADRE CLÓVIS DE JESUS BOVO
REDENTORISTA
Vice-Postulador da Causa
Venerável Padre Pelágio
Redentorista
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