Ao iniciar a Quaresma, somos
alertados pela Palavra de Deus a contemplar nossa realidade humana no quadro da
vida espiritual. A fé deve ser vivida na condição humana. Separar religião e
vida é desconhecer o ser humano e a fé. Seguimos Jesus que, Homem-Deus, era humano
e divino em perfeita união. A estrutura quaresmal apresenta as tentações de
Jesus. Tentação não é o pecado. É a tendência do coração de buscar o mal,
destruindo a unidade da pessoa humana. Jesus passou pela tentação a vida toda.
As três tentações são reais e atingem todas as dimensões do ser humano. A tentação do pão, do poder e do prazer invade
também o campo da evangelização. O dinamismo missionário é invadido pelo
egoísmo. Muitos leigos acham bonitas a espiritualidade e a pastoral, mas dizem
com suas atitudes: não conte comigo. Não tenho tempo. O tempo livre deve ser
ocupado com a distração e a vaidade. Mesmo sacerdotes não têm tempo. Sempre há
outras coisas por fazer, como administração, viagens, passeios etc.... A
riqueza do tempo, como as riquezas pessoais são a primeira preocupação. É o
egoísmo que desanima a assumir qualquer compromisso com a vida do povo e da
comunidade. Muitos se cansam de dedicar a vida aos outros, também nos
compromissos pastorais. É difícil achar gente para catequese, formação,
serviços e coisas mais. É duro o trabalho pelo povo e na Igreja porque requer
tempo e espera da semente crescer. Não vemos resultados. Mas se plantarmos, o
fruto é abundante porque depende de Deus. Não há fracasso no trabalho pastoral.
Há falta de paciência. O pão do tempo, que é a espera, é sempre fresco. O Papa
insiste: “Não deixem que nos roubem a alegria da evangelização” (83).
1538.Caminhar
sempre
Diante das dificuldades, a
primeira condição é não ficar pessimista e desanimar. O Reino de Deus é
exigente e só os fortes podem conquistá-lo. Os males do mundo são desafios que
nos convidam a crescer. O Papa joga mais longe: “O olhar do fiel é capaz de
reconhecer a luz que o Espírito Santo sempre irradia no meio da escuridão sem
esquecer que, ‘onde abundou o pecado, superabundou a graça’” (Rm
5,20) (84).
Jesus transformou a água em vinho. Tudo se supera. Há muitos males no mundo.
Não podemos deixar de pensar que os bens são muito maiores. O bem cresce e o
mal é anulado. Há muitos que lamentam as desgraças. E nada fazem para melhorar.
Ver que tudo está mal e não procurar soluções, não deve matar nossa ousadia. Nos
piores momentos ouvimos a palavra de Jesus a Paulo: “Basta-te a minha graça,
porque a força manifesta-se na fraqueza”. O Papa diz a palavra cristã que nos
distingue de outros: “O triunfo do cristão é sempre uma cruz que é ao mesmo
tempo estandarte de vitória” (85).
1539.A
fé nos desertos.
Nem tudo são luzes no anúncio da
vida nova do Reino. Há uma forte desertificação. A fé não é mais o centro nem
entra em questão. Sabemos que os países mais ricos se formaram com as raízes da
fé, agora a destroem. Parece impossível anunciar a fé nesse vazio. Este é um
processo que vem de longa data. Não podemos nos esquecer que a culpa vem de certos
modos de ser Igreja. Há também violenta perseguição contra os cristãos que os
obriga a viver ocultamente a fé. Nas próprias famílias e nos lugares de
trabalho é impossível a fé. Mesmo assim, como em todo o deserto há um oásis,
vemos sinais da busca de Deus. É nesse deserto que podemos oferecer a água
fresca de uma opção melhor. Do peito transpassado de Jesus brotou uma fonte de
água viva. Não perder a esperança
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