Evangelho
segundo S. João 21,20-25.
Naquele tempo, Pedro, ao voltar-se, viu que o seguia o
discípulo predileto de Jesus, aquele que, na Ceia, se tinha reclinado sobre o
seu peito e Lhe tinha perguntado: «Senhor, quem é que Te vai entregar?»Ao vê-lo, Pedro disse a Jesus: «Senhor, que será deste?»Jesus respondeu-lhe: «Se Eu quiser que ele fique até que Eu venha, que te
importa? Tu, segue-Me».Divulgou-se então entre os irmãos o boato de que aquele discípulo não morreria.
Jesus, porém, não disse a Pedro que ele não morreria, mas sim: «Se Eu quiser
que ele fique até que Eu venha, que te importa?»É este o discípulo que dá testemunho destes factos e foi quem os escreveu; e
nós sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. Jesus realizou muitas outras coisas. Se elas fossem escritas uma a uma, penso
que nem caberiam no mundo inteiro os livros que era preciso escrever.
Tradução litúrgica da Bíblia
Jean-Pierre de Caussade (1675-1751), jesuíta
«O Abandono na Providência divina», cap. 11, §§ 191ss
«Nem caberiam no mundo
inteiro os livros que era preciso escrever»
Desde a origem do mundo que Jesus Cristo vive
em nós; Ele opera em nós durante todo o tempo da nossa vida […]; começou em Si
mesmo e continua nos seus santos uma vida que nunca acaba. […] Se «nem caberiam
no mundo inteiro os livros que era preciso escrever» sobre o que Ele fez e
disse e sobre a sua própria vida, se o Evangelho esboça apenas alguns traços,
se a primeira hora é tão desconhecida e tão fecunda, quantos evangelhos não
seria preciso escrever para narrar a história de todos os momentos desta vida
mística de Jesus Cristo, que multiplica os milagres indefinidamente e os
multiplicará eternamente, uma vez que os tempos mais não são do que a história
da ação divina? O Espírito Santo gravou em traços infalíveis e incontestáveis
alguns momentos desta vasta duração, coligindo nas Escrituras algumas gotas
deste mar e revelando de que maneira secreta e desconhecida trouxe Jesus Cristo
ao mundo. […] O resto da história desta ação divina, que consiste em toda a vida mística que
Jesus vive nas almas santas até ao fim dos séculos, é o objeto da nossa fé. […]
O Espírito Santo já não escreve evangelhos senão nos corações; todas as ações,
todos os momentos dos santos são o evangelho do Espírito Santo; as almas santas
são o papel, os seus sofrimentos e atos são a tinta. Com a pena da sua ação, o
Espírito Santo escreve um evangelho vivo. E só poderemos lê-lo quando for
publicado na glória, após ter saído da imprensa desta vida. Oh, que bela história! Que livro belo o Espírito Santo está a escrever! Ele está
no prelo, santas almas, e não há dia em que não se componham as letras, não se
aplique a tinta, não se imprimam as folhas. Mas estamos na noite da fé: o papel
é mais negro do que a tinta […]; trata-se de uma língua do outro mundo, que não
compreendemos; só podereis ler este evangelho no Céu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário