As representações religiosas na história da arte sempre apresentaram
Deus como um senhor idoso com barbas brancas e de um vigor respeitável. A sociedade,
no seu ateísmo oportunista, vê em Deus um envelhecido que não tem o que dizer
para os tempos atuais. Ele é uma lenda. Há muitas pessoas intelectuais que têm
a religião como algo inferior. Contudo passam e Deus permanece eternamente o
mesmo. Amanhã seremos os antiquados. Ele é Aquele que era, que é e que será. A
vida de Deus não tem de nossa categoria temporal na qual o tempo nos desgasta e
somos encostados como um pano velho. Temos o costume de julgar a Deus com
nossas categorias antropomórficas, isto é, de modo humano, o que nos complica
para conhecer e acolher sua eterna novidade. Deus sempre o mesmo, o novo. O que
envelhece são nossos conceitos e também nossos preconceitos. A novidade de Deus
não está como uma reflexão de idade, mas em ser sempre acessível em quaisquer
circunstâncias. Infelizmente tomamos Deus para apoiar nossos pensamentos como
fossem os seus. A religião corre grande risco de usar Deus e não de servi-Lo e
amá-Lo. Isso é o que diz o segundo mandamento: “Não tentarás o Senhor teu
Deus”. As verdades fundamentais nós as colhemos na lei natural e são assumidas
pela fé e pela Palavra do Evangelho. Jesus impõe poucas normas de vida que se
resumem no respeito e amor ao próximo, e mesmo ao inimigo e no acolhimento de
Deus como Amor. Sua eterna novidade é ter um amor sempre novo por sua criatura
amada e acolher o amor de todos em seu modo de ser e manifestar-se.
1259. Renovando os corações
Por que Jesus coloca o amor como único mandamento, síntese de todos os
demais, como o seu mandamento? É justamente porque ele nos une ao eternamente
novo que é o amor de Deus. Participar do Ser de Deus, ter a vida eterna como
constituição espiritual, é viver a perenidade do amor em suas situações
concretas. Vejamos que a vida espiritual foi estabelecida sobre tantos
suportes, mas não sobre o amor. A preocupação é a execução de leis, e não a
vivência do relacionamento de amor. Os planos pastorais não priorizam o amor
pelos necessitados que são prediletos do Pai. Jesus bem o declara na parábola
da ovelha perdida e do Pai amoroso que acolhe o filho que se perdera. Renovar
os corações, na linguagem de Paulo, é revestir-se de Cristo. Não se trata de um
revestir-se exteriormente, e sim no interior como um novo modo de vida, de
pensar e agir. É uma vida nova. O mistério redentor de Cristo atinge a pessoa
em sua raiz. É a temática da Ressurreição em nossa vida, como lemos na carta
aos Colossenses (Cl 3,1-4).
1260. Uma terra renovada
Onde
chega o amor de Cristo, através daqueles que O acolheram, acontece a mudança do
mundo. A missão que Cristo nos confia é transformar as realidades terrestres e
os relacionamentos do povo através do dinamismo do amor Divino. Uma religião que
se volta só para si não cumpre sua missão primeira que é elevar as pessoas e o
mundo. A fome do ter, do poder e do prazer que se expressam na vaidade, orgulho
e corrupção, é um dano para a humanidade e para o universo. A profecia que se
encontra no início da humanidade: “maldita seja a terra por tua causa” (Gn
3,17), na ocasião do pecado
original, foi desfeita por Jesus. A redenção que Jesus nos trouxe, será
realidade no exercício do amor que, pela Palavra, pelo serviço fraterno e pela
adoração a Deus sanarão todos os males e teremos um novo céu e uma nova terra.
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