Falamos muito sobre o Reino de Deus, mas acabamos por não explicá-lo.
Os evangelistas trazem diversas parábolas para explicá-lo. Não há uma
definição. Quer dizer que não dá para explicar em poucas palavras. Não temos conceitos que resumam essa maravilha
de Deus entre nós. Apresentam diversos aspectos. Por isso mesmo Jesus dizia:
“Desejareis ver apenas um dos dias do Filho do Homem, mas não o vereis. E vos
dirão: ‘Ei-lo aqui! Ei-lo ali!’ Não saiais; não sigais” (Lc 17,22-23). Para facilitar as
pessoas acabaram por identificar Reino com Igreja. Todas as igrejas afirmam:
“Minha Igreja é o Reino de Deus” ou “aqui temos tudo para a salvação”. Tem e
não tem, pois o Reino é sempre maior que a Igreja e que as igrejas. Podemos
dizer que o Reino são as energias divinas que se implantam no mundo sem que o
homem saiba, como o crescimento da semente. Não sabemos como (Mc 4,26-29). Onde
está o Reino? Está presente como ação de Deus permanente no mundo. Sempre
pronto a ser acolhido. Tem uma força transformadora que não depende de nós, nem
de nossas leis. Por isso é muito bom a Igreja não querer por freios a Deus. Mas
ser a primeira a se abrir à imensa grandeza da bondade salvadora de Deus que
quer que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10). A força transformadora do
Reino conduz todos ao amor ensinado por Jesus. Esse amor ultrapassa os limites
humanos e se estende ao infinito. O amor nunca acabará, diz Paulo (1Cor 13,8). É a
dimensão infinita do Reino que sai do coração do Pai e vai ao último pequenino.
1991.
Quem pertence ao Reino
Jesus
diz ao fariseu que o interrogara sobre qual era o maior mandamento: “Respondeste
bem”, quando aponta que é o amor. E completa: “Não estás longe do Reino de Deus
(Mc 12,34).
Sendo o Reino o dinamismo Divino que penetra todas as realidades, podemos
encontrá-lo por toda parte onde se vive o amor. Jesus nos deixou a comunidade
da Igreja, fundada sobre os doze apóstolos. Temos esse semente Divina que se
desenvolveu muito e penetrou os ensinamentos de Jesus e O anunciou por toda
parte. Em dois mil anos a Igreja passou por muitas épocas. Nenhuma pode ser
vista nem entendida com um único juízo. Cada época deu sua contribuição e
deixou seus defeitos. Compete a nós não fixarmos a Igreja num tempo, mas ver o
que Deus quer no momento para o desenvolvimento do Reino no mundo em cada
região. Cada povo tem a riqueza que Deus lhe deu para ser um aspecto novo do
Reino. Todo aquele que faz o bem no amor e na justiça é já habitante do Reino.
Como povo de Deus podemos oferecer sempre mais as riquezas do evangelho para as
culturas. Esse é o ensinamento do Vaticano II: “A Igreja deve encarnar-se nas
novas culturas como foi a encarnação” (Ad Gentes, 22).
1992.
Força do Reino
Muitas vezes vemos a sociedade do
ponto de vista do medo e da crítica felina: “No meu tempo era melhor”. O livro
do Eclesiastes já critica essa posição: “Não digas: Por que razão foram os dias
passados melhores do que estes; porque não provém da sabedoria esta pergunta” (Ecl 7,10). Se
olharmos com sabedoria, veremos que há dificuldades, porque muitas vezes pregamos
mal o Evangelho. Mas há grandes riquezas no mundo, nas comunidades que são
resultados da ação do Reino. Há muitas atividades e riquezas na sociedade pouco
cristã que nasceram dentro da Igreja. Podemos ver as universidades, as obras
sociais, o cuidado com o mundo e tantas coisas mais. O dinamismo do Reino está sempre presente.
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