O
mistério de Cristo só pode ser compreendido se partirmos de Sua vida. Ele tem
um permanente relacionamento com o Pai, como podemos ver no dia em que se
deixou ficar em Jerusalém: “Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” (Lc 2,49); Ou quando
expulsa os vendilhões do templo: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de
comércio” (Jo 2,16);
Ou, meu alimento é fazer a vontade Daquele que me enviou” (Jo 4,34); No horto
leva ao máximo sua obediência: “Meu Pai, se não e possível que esse cálice
passe sem que eu o beba, seja feita a tua vontade” (Mt 26,42). Quantas vezes o vemos rezando,
como lemos hoje: “Jesus estava rezando num lugar retirado e os discípulos
estavam com Ele” (Lc
9,18). Sua oração era o primeiro ensinamento. Orava ao Pai diante de
suas decisões e dificuldades. Devia ser uma oração dolorosa para se definir no
plano do Pai. Ao fazer a pergunta ‘quem dizem que eu sou’, está vendo seu
ministério falido pois o povo ainda não O entendera. A resposta que o Pai põe
na boca de Pedro reafirma a disposição, pois “tomou resolutamente o caminho de
Jerusalém” (Lc 9,51),
para realizar o desígnio do Pai que é sua morte e ressurreição. É complicado
entender que Jesus quisesse que soubessem quem era Ele e ao mesmo tempo
impusesse um segredo: “Proibiu severamente que contassem isso a alguém” (Lc 9,21). Impõe
segredo para que não houvesse uma compreensão errada de sua missão de Messias.
Os judeus faziam uma imagem mirabolante do Messias, um líder político milagroso
e espetacular. Por isso não aceitaram um Messias sofredor. Anuncia o que farão
com Ele: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado, ser morto e
ressuscitar ao terceiro dia” (22). Para ir adiante precisava do contato com o Pai na oração.
Se alguém me que seguir
O
Senhor Jesus quis que seus discípulos estivessem unidos a Ele na Paixão. O
caminho do Mestre é o caminho do discípulo. O Messias revela seu lado completo:
Homem das dores experimentado no sofrimento. Por que Cristo tem que sofrer? Não
há redenção sem sangue (Hb
9,21-22). Sangue é vida. Derrama o sangue para dar a Vida. Não é uma
obra simplesmente humana. Na Angola aprendi um provérbio: “Aquele que te põe o
peso nas costas, vai junto”, como rezamos na oração da Missa: “Nunca cessais de
conduzir os que firmais no vosso amor”. Para compreender esse caminho é preciso
o Espírito Santo. Vemos como os apóstolos sentiam-se “muito alegres por terem
sido julgados dignos de sofrer ultrajes pelo Nome” (At 5,39), pois tinham sido proibidos de
pregar em nome de Jesus. O seguimento de Cristo vem de uma escolha definitiva
por Ele e seu evangelho. Assim se reveste de Cristo por dentro, como diríamos.
Desde a aurora Vos busco
O
profeta Zacarias (não é o pai de João Batista), 500 anos antes de Cristo diz:
Derramarei sobre... os habitantes de Jerusalém um espírito de graça e de
oração; eles olharão para mim” (Zc 12,10). Só é possível o seguimento de Cristo com renúncia a
si mesmo, com coragem de perder a vida por Cristo, se não houver em nós a sede
de Deus: “Minha alma tem sede de Vós e minha carne Vos deseja como a terra
sedenta e sem água”(Sl
62). A sede que podemos ter será completa quando em nós, o próprio
Filho, for sedento pelo Pai. Estando em união a Ele estaremos sedentos. O
Espírito que o Pai nos dá, alivia nossa sede. Quanto mais recebermos desta
água, mais sede teremos. Na Eucaristia, pela palavra e pela comunhão, o Pão do
Céu, estaremos sempre mais revestidos de Cristo.
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