Evangelho segundo S. Lucas 12,13-21.
Naquele
tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que
reparta a herança comigo». Jesus respondeu-lhe: «Amigo, quem Me fez juiz ou
árbitro das vossas partilhas?». Depois disse aos presentes: «Vede bem,
guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância
dos seus bens». E disse-lhes esta parábola: «O campo dum homem rico tinha
produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: ‘Que hei de fazer, pois
não tenho onde guardar a minha colheita? Vou fazer assim: Deitarei abaixo os
meus celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e
os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Minha alma, tens muitos bens
em depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus
respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que
preparaste, para quem será?’
Assim acontece a quem acumula para si, em vez
de se tornar rico aos olhos de Deus».
Da Bíblia Sagrada -
Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da
Igreja
Sermão 34 sobre o Salmo 149
«Ser rico aos olhos de Deus»
Irmãos, examinai com atenção a vossa morada
interior, abri os olhos e apreciai o vosso capital de amor, e depois aumentai a
soma que tiverdes encontrado em vós. E guardai esse tesouro, a fim de serdes
ricos interiormente. Chamam-se caros os bens que têm um preço elevado, e com
razão. […] Mas que coisa há mais cara do que o amor, meus irmãos? Em vossa
opinião, que preço tem ele? E como pagá-lo? O preço de uma terra, o preço do
trigo, é a prata; o preço de uma pérola é o ouro; mas o preço do amor és tu
mesmo. Se queres comprar um campo, uma jóia, um animal, procuras em teu redor os
fundos necessários para isso. Mas, se desejas possuir o amor, procura apenas em
ti mesmo, pois é a ti mesmo que tens de encontrar.
Que receias ao
dar-te? Receias perder-te? Pelo contrário, é recusando-te a dar-te que te
perdes. O próprio Amor exprime-se pela boca da Sabedoria e apazigua com uma
palavra a desordem que em ti lançava a expressão: «Dá-te a ti mesmo!» Se alguém
quisesse vender-te um terreno, dir-te-ia: «Dá-me prata»; ou, se quisesse
vender-te outra coisa qualquer: «Dá-me dinheiro». Pois escuta o que diz o Amor,
pela boca da Sabedoria: «Meu filho, dá-me o teu coração» (Prov 23, 26). O teu
coração sofria quando estava em ti; eras presa de futilidades, ou mesmo de más
paixões. Afasta-te delas! Para onde hás-de levá-lo? A quem o hás-de oferecer?
“«Meu filho, dá-me o teu coração», diz a Sabedoria. Se ele for meu, já não te
perderás. […]
«Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda
a tua alma e com todo o teu entendimento» (Mt 22,37). […] Quem te criou quer-te
todo para Si.
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