PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
O
Senhor é muito bom
Depois
da morte de João Batista, que deve ter sido chocante para Jesus e os
discípulos, Ele procura um lugar deserto. O povo o busca. “Ao descer do barco,
encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes” (Mt 14,14). O povo ficava tão feliz com sua
presença, que curava suas doenças e enchia o coração de felicidade, que não se
preocupava com o alimento. Os discípulos alertam Jesus para que os envie para
encontrar alimento nos povoados. Jesus diz: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”. “Só
temos 5 pães e 2 peixes”! respondem os discípulos. Jesus faz o gesto
sacerdotal: Ergue os olhos para o céu e pronuncia a bênção, parte o pão e dá
aos discípulos para distribuírem. Estamos entre dois banquetes: O banquete de
morte de Herodes onde é partido o profeta João e o banquete que Deus prepara a
todos os povos. O Senhor é muito bom. Misericórdia e piedade é o Senhor, Ele é
amor, é compaixão! “O Senhor é bom para com todos. Sua ternura abraça toda a
criatura” (Sl 144,88-9). Jesus aprende do
Pai e usa sua bondade e compaixão. Temos que ler esse Evangelho à luz da
Eucaristia. Ela é o grande banquete que vai alimentar a fome dos povos. Ele é
generoso e abundante. O salmo reza: “Todos os olhos, ó Senhor, em Vós esperam e
Vós lhes dais no tempo certo o alimento. Vós abris a mão prodigamente e saciais
todo o ser vivo com fartura” (Sl 144,15).
Com todo esse amor que recebemos, entendemos a Eucaristia, pão partido e
partilhado: Que tenhamos a mesma bondade e compaixão. Nada é pouco, quando
partilhado. A Eucaristia é o banquete oferecido a todos como expressão da
gratuidade de Deus.
Dois
peixinhos
Fala-se muito do pão, mas os dois peixes
permanecem esquecidos. Há um comentário de Tomás Frederici que pode nos
iluminar. O peixe era importante para a comunidade primitiva. Lembramos que
Jesus come um pedaço de peixe para provar que estava vivo (Lc 24,42). Aparece como símbolo cristão nas
catacumbas. Peixe em grego é ichtys. É
como que uma profissão de fé, pois as letras da palavra peixe, em grego, formam
um acróstico Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador (Iesous Christós tou Theou Yiós Soter). O peixe é um belo símbolo: O
peixe vive em seu ambiente. Ele morre ao sair da água, é cozido ou assado, e se
torna um alimento precioso. Cristo Deus, desce do Pai, para entrar em nossa
história, morre na cruz, sacrifício queimado no fogo do Espírito do amor e se
torna alimento divino. Torna-se o banquete. O peixe pode nos animar a fazer
como Cristo: fazer de nossa vida um banquete que sacia, mesmo, tendo somente 5
pães e dois peixes. Com o mandamento do amor realizamos a multiplicação. Já
está na hora de redescobrirmos a força de transformação do mundo que está na
Eucaristia. É mais fácil ficar preocupados com ritos, formas, panos e poses, em
lugar de nos deixar consumir na compaixão de Cristo que quer “que todos tenham
vida em abundância” (Jo 10,10).
Amor
de Cristo
Nada
“será capaz de nos separar do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo Jesus , nosso
Senhor!” (Rm
8,39). É um amor recebido gratuitamente, mas é também um amor aprendido
na compaixão de Cristo. Ele repartia o pão da palavra e o pão da vida. Isso ele
quis nos deixar como testamento: “Fazei isso em memória de mim”. É isso que
fazemos fundados nesse amor. Ele é o pão que é partido na cruz. Nesse amor de
entrega celebramos a Eucaristia que é vida para o mundo. O milagre não é multiplicar,
é partilhar.
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