segunda-feira, 14 de setembro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Felizes os misericordiosos”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
1618. O que nasce do coração
              Papa Francisco diz que “este imperativo de ouvir o clamor dos pobres faz-se carne em nós, quando em nosso íntimo de nós mesmo nos comovemos à vista dos sofrimentos alheios” (EG 193). Ninguém vai se preocupar com os necessitados se isso não está em seu coração como vida do Evangelho. A opção pelos necessitados não é social, mas profundamente evangélica. Sem isso ela se torna política, como pudemos ver. O Papa continua buscando na Palavra de Deus os fundamentos da misericórdia. A misericórdia é mais útil para quem a pratica do que para quem a recebe, pois ela nos permite sair triunfantes no juízo Divino. Lembra S. Tiago: “Quem pratica a misericórdia será julgado sem misericórdia. Mas a misericórdia não teme o julgamento” (Tg 2,12-13). E continua sua leitura da Palavra: “A esmola livra da morte e limpa de todo o pecado” (Tb 12,9). Cita a primeira carta de Pedro: “Mantende entre vós uma intensa caridade, porque o amor cobre a multidão dos pecados” (1Pd 4,8). Muitas vezes as pessoas sofrem com pecados que as escravizam. O melhor remédio é a caridade. Papa Francisco disse que há muita oração e pouca caridade. Afirma que não dá para fazer uma interpretação que relativize estas palavras e diz: “Jesus ensinou-nos este caminho de reconhecimento do outro, com as suas palavras e com seus gestos. Por que ofuscar o que está tão claro?... Não nos preocupemos só com não cair em erros doutrinais, mas também com o ser fiéis a esse caminho luminoso de vida e sabedoria” (EG 194).  Pior é ter uma boa doutrina e justificar situações intoleráveis de injustiça e regimes políticos que mantêm estas situações (EG 194).
1619. Dureza de coração
Os apóstolos insistiram com Paulo sobre a ajuda que deveria fazer aos pobres de Jerusalém. O motivo era que não ficassem no individualismo dos pagãos (Gl 2,10). Nunca deve faltar a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora (EG 195). O consumismo e a distração que a sociedade nos oferece podem endurecer nosso coração. Vivemos alienados, o que torna difícil a solidariedade (João Paulo II  - Centesimus Annus 41). Pior que não se ligar com a situação dos necessitados é nem percebê-los. Que formação os meios de comunicação nos oferecem? Eles destroem até a proverbial generosidade dos pobres, sua solidariedade e sua dedicação aos demais. Eles se tornam duplamente pobres, pois não possuem e sentem o não possuir como a maior desgraça. Daí vemos as conseqüências.
1620. Os pobres no povo de Deus
No coração de Deus ocupam lugar preferencial os pobres, pois Ele se fez pobre. O caminho da Redenção está marcado pelos pobres. Basta ver a vida de Jesus e de Maria. Jesus os coloca como meta de sua missão: “O Senhor me enviou para evangelizar os pobres” (Lc 4,18). As bem-aventuras se iniciam com as palavras: “Felizes vós os pobres, porque vosso é o Reino de Deus” (Lc 6,20). A Igreja é chamada a ter os sentimentos de Cristo que sendo rico se fez pobre (Fl 2,5). O desejo do Papa é uma Igreja pobre para os pobres.  E os que possuem bens? Com o poder e a força que possuem podem reverter as situações de pobreza do mundo. Mais que bens de consumo, os pobres querem atenção, amizade e respeito. “Que os pobres se sintam, em qualquer comunidade cristã como ‘em casa’. Não seria, este novo estilo, a maior e mais eficaz apresentação da boa nova do Reino?”(J.Paulo II, Novo Millenio ineunte,50). O Papa diz ainda: “que a pior discriminação que sofrem os pobres é falta de cuidado espiritual”(Id). Nada justifica aos cristãos não ter a atenção voltada para os necessitados. A questão dos pobres não é política. É religiosa que deve formar a política.

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