PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Um Pai que é nosso
Domingo passado vimos o testemunho de Maria, irmã de
Lázaro, que fica aos pés do Senhor ouvindo a Palavra. Agora Ele dá uma catequese
sobre a oração. Essa parte do testemunho pessoal: “Jesus estava rezando num
certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor,
ensina-nos a orar como João ensinou a seus discípulos’” (Lc 11,1). É claro que
catequese se dá primeiro pelo testemunho. O Pai Nosso de Lucas é mais sintético
do que aquele ensinado por Mateus. Lucas não diz Pai Nosso, mas somente Pai.
Está bem dentro da tradição de Jesus, como também nos ensina Paulo, mestre de
Lucas. Usa o termo hebraico Abbâ’, insinuando a ternura com que as crianças
chamam seu pai – paizinho. Era como Jesus se referia ao Pai. Entramos em Seu
coração para a oração. Não se fica num frio apelativo de Pai Nosso, formal, uma
oração a ser recitada, mas coração a coração. Ao dizermos santificado, no sentimento de adoração ao Pai, reconhecemos e
anunciamos o quanto Ele é bom e grande em amor. Querer que o
Nome, isto é, Deus, seja santificado é dizer que seja conhecido e amado. É um
sentimento missionário: assumimos ser como o Pai, ser luz para o mundo (Mt
5,14-15). Invocar que venha o Reino
significa querer que o Cristo venha com seu Espírito para o meio de nós. Ao
pedir o pão, pedimos o pão de cada
dia para o corpo, o pão da Palavra e o pão do Sacramento. Ao implorar o perdão dos pecados, imploramos a ação
reconciliadora operada pelo Espírito. É uma remissão que atinge a nós no perdão
das ofensas, para a recuperação pessoal. Pedimos para sermos livres da tentação. Nela estamos unidos a Jesus
pois em sua tentação somos tentados e Nele somos vencedores. A oração de Jesus
orienta-nos em nosso processo espiritual e de renovação do mundo.
Não muito, mas muitas vezes
A catequese sobre a oração continua com a explicação
da oração incessante. O Pai atende ao pedido de quem o pede com fé, isto é, com
confiança. Dará tudo e mais do que precisamos, pois dá o Espírito, dom
infinito, com o qual nos dá todas as coisas. A oração insistente é sinal de
nossa união com o Espírito que ora em nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8,26).
Jesus conta a parábola do amigo inoportuno que ganha o que precisa não pela
amizade, mas pela insistência. Deus sempre ouve a oração, de quem quer que
seja, como seja, mas desde que seja insistente. A insistência denota a
segurança da fé. O Pai do Céu é melhor do que nós quando ouve nossas súplicas.
A oração insistente tem uma prova no Antigo Testamento, quando Abraão intercede
pelas cidades de Gomorra e Sodoma. Em sua oração insistente tem o modelo do
mercado oriental ao pechinchar o preço. Deus aparece com a figura de um
comerciante. Rezar não é dizer muitas coisas a Deus, mas dizer muitas vezes a
mesma coisa. É insistir, contato com Deus.
Respiração da vida
Paulo afirma que o batismo sepultou-nos com Cristo.
Fomos com Ele sepultados e com Ele ressuscitados. Essa participação significa
para nós vida em Cristo. A
situação do cristão não é de busca, mas de aceitar o que se é. Jesus nos trouxe
para a vida e a todos nós perdoou os pecados (Cl 2,13). Basta viver essa vida.
Lavou nossos pecados com seu sangue e cancelou o contrato que nos condenaria
(14). A oração do cristão tem como ponto de partida sua união a Cristo em sua
morte e ressurreição. Não podemos deixar de lado o diálogo com o Pai que Jesus
abriu para nós pelo caminho da oração.
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