domingo, 17 de março de 2024

REFLETINDO A PALAVRA - “Alegria da fé”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Tua fé te curou
 
Em sua última viagem a Jerusalém para realizar seu Batismo de sangue, como lemos no evangelho (Mc 10,39), Jesus passa por Jericó, a mais antiga cidade do mundo, fazendo o caminho a Jerusalém. São 37 km. À beira do caminho estava um cego chamado Bar-Timeo (Filho de Timeo) que pedia esmolas. Ao saber que era Jesus de Nazaré que passava, começou a gritar: Jesus, Filho de Davi, tende compaixão de mim. Esta prece entrou na liturgia e na vida espiritual dos contemplativos do Oriente. E se canta: Kyrie, eleison – Senhor, tem piedade. Ele diz Filho de Davi, que é o Messias e vai fazer maravilhas para os necessitados. Amigavelmente Jesus o acolheu e perguntou: “Que queres que eu te faça?” (Mc 10,51). Sua palavra reflete o anseio de quem quer ver mais longe: “Senhor, que eu veja”! Ele usa o termo: Rabbuni – Mestre. É a mesma palavra usada por Madalena na manhã da Ressurreição (Jo 20,16). Abrir os olhos é ver o Ressuscitado. A resposta de Jesus esclarece o sentido do milagre: “Vai, a tua fé te curou”! Não se trata de uma fé que o leva a curar, mas de uma fé que leva a ver em Jesus o Messias prometido. As palavras que seguem são a indicação da finalidade do milagre: “No mesmo instante ele recuperou a vista e seguiu Jesus” (51-52). Pela fé poderemos continuar o processo de cura das pessoas usando os dons que Deus nos deu. Precisamos ser curados da cegueira do egoísmo espiritual 
Fé que transforma 
A fé é um dom Divino transformante. Bar-Timeo, depois de curado seguiu Jesus. Vê a luz e a segue. A primeira leitura, referindo-se à volta de onde estiveram dispersos. Transforma a vida dos sofredores, pois Deus se tornara um pai para seu povo (Jr 317-9). O salmo 135, referindo-se ao retorno do exílio na Babilônia narra as maravilhas do retorno. Existe uma grande transformação como sair da escuridão da cegueira e ir para a luz maravilhosa de Deus. A transformação acontece porque Jesus, em sua encarnação, participou integralmente da natureza humana, e mesmo de sua fragilidade: “Sabe ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque Ele mesmo está cercado de fraquezas” (Hb 5,2). Ter compaixão dos fracos é fruto da transformação que existe naquele que se sente fraco e tem a misericórdia de Deus. Por isso sabe compadecer-se. Este é o sentido fundamental do sacerdócio de Cristo. Seu sofrimento foi sacerdotal: dar a vida para que todos tivessem vida. Esta é o sacerdócio que Cristo quis para sua Igreja: Ser misericordioso porque Deus foi misericordioso com Ele. Há muita gente à beira do caminho da fé. Compete a nós conduzi-los a Jesus. O que mais vemos é mandar que se cale, ou nos fazemos surdos a seus gritos que se expressam de maneiras tão misteriosas. 
Ver com os olhos da fé 
Não nos preocupamos muito em saber o que vêem os olhos da fé. Enxergar com os olhos naturais nos abre a imensidão das belezas criadas. Ver com a fé é enxergar as riquezas espirituais; é ver a dimensão espiritual que possuem as coisas naturais e através delas, como diz Paulo aos Romanos, dar glória ao Criador (Rm 1,21); é ver o fio maravilhoso que une nossa vida terrena à vida eterna; é poder ver a ação de Deus nas realidades que nos cercam; é conduzir a vida, mesmo nas dificuldades na direção daquele que nos ama com amor incondicional; é deixar o amor tornar-se uma fonte que jorra para eternidade; é sair da preciosa pequenez humana para a grandeza da Vida Divina da qual participamos; é reconhecer e acolher em cada sacramento a ação de Deus que nos redime e nos sustenta. 
Leituras: Jeremias 31,7-9; Salmo 125; 
Hebreus 5,1-6; Marcos 10,46-52 
1. Jesus, indo para Jerusalém, em sua última viagem, acolhe o pedido do cego Bar-Timeu que grita: Filho de Davi, tende piedade de mim. Que queres que Eu te faça? Senhor, que eu veja. Jesus responde: Vai, tua fé te curou. Ele segue o caminho com Jesus. A cura não é só de uma cegueira física mas abre os olhos da fé. 
2. A fé é transformante, comparada à transformação dos dispersos que retornam. É sair da cegueira para a luz maravilhosa de Deus. Jesus, participando de nossa natureza, sabe ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro. Ter compaixão é fruto da transformação que existe naquele que se sente fraco e tem a misericórdia de Deus. Temos obrigação de estimular os que são cegos, sem fé. 
3. Ver com os olhos dá fé é abrir-se às belezas das coisas naturais, enxergar as riquezas espirituais, é ver a vida unida à Vida de Deus, é ver a ação de Deus nas criaturas e acontecimentos. É acolher a ação de Deus em cada sacramento. 
Ver sem tropeçar 
Jesus caminhava para Jerusalém e no caminho, realiza a cura do cego Bar-Timeu. Mais que um milagre, é uma proposta de Jesus para o seguimento até à cruz. Quando o homem houve que era Jesus que estava passando começou a gritar: Jesus, Filho de Davi, tende piedade de mim! Chama-o de Rabbuny - Senhor, a mesma palavra usada por Madalena ao encontrar Jesus no dia da Ressurreição. Estamos diante de um ato de fé. A fé é uma procura e ao mesmo tempo um dom, pois Jesus o chama. O cego busca a luz e encontra a Luz de Deus. Por chamar Jesus de Filho de Davi, está professando que é o Messias prometido. Jesus o atende, pois pede para ver. Nossos encontros com Deus não se medem por nossas palavras humanas, mas pelo dom que temos, colocado em nós por Deus. O sinal desta verdade é que o cego, que agora vê, segue Jesus em seu caminho para Jerusalém. Caminho de morte e ressurreição. Note-se que os mesmos que queriam que se calasse, são os que dizem: Coragem levanta-te, Jesus te chama. A comunidade exerce um papel importante na busca da fé. Todos são chamados por Deus e precisam saber disso. Nada de mandar calar a boca. 
Homilia do 30º Domingo Comum (28.10.2012)

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