Depois do restabelecimento do patriarcado latino em Jerusalém em 1847, o novo bispo, Monsenhor Giuseppe Valerga pensou em criar o seminário e as escolas paroquiais de Jerusalém. De acordo com o costume da época, era necessário pensar em mulheres para a educação de meninas, então ele fez um apelo aos institutos missionários da Europa. O primeiro a responder foi o das Irmãs de São José da Aparição, que chegou a Jerusalém em 1848. Começaram a ingressar na instituição as vocações locais. Quando se apresentou uma adolescente de 17 anos, Sultaneh Danil Ghattas, o patriarca determinou que, durante sua formação, ela não poderia andar fora do ambiente religioso. As autoridades competentes obtiveram as devidas permissões. Com o hábito religioso e sob o santo Calvário, a jovem recebeu o nome de Irmã Maria Alfonsina.
Recebeu uma formação de noviça “fora dos padrões”, permanecendo em sua pátria. Também no Santo Sepulcro emitiu, algum tempo depois, seus votos perpétuos.
Nascida em 1843, em Jerusalém, Maria Alfonsina foi designada para ensinar religião. Os jovens estudantes se apegaram à freira, que tinha quase da mesma idade deles, e ela pensou em fundar com eles a Irmandade da Imaculada Conceição. Ela sugeriu então ao pastor que organizasse mães cristãs que oferecessem como assistentes para a Irmandade. Esta Irmandade ainda existe hoje em Jerusalém. A jovem freira era conhecida por seu zelo na escola e a Irmandade, mas permanecia humilde e tentava de todas as maneiras não aparecer muito. No entanto, ela tinha dons realmente “especiais”. Conhecemos os fenômenos sobrenaturais de sua vida interior graças ao seu diretor espiritual, o sacerdote Pe. Joseph Tannùs, que em 8 de novembro de 1879 ordenou que ela escrevesse um diário. Esse documento permaneceu desconhecido de todos, até quando, em seu leito de morte, a irmã Alfonsina entregou seus diários à sua irmã, Madre Giovanna.
A Virgem Santa apareceu à Irmã Alfonsina pela primeira vez em 6 de janeiro de 1874, festa da Epifania. Ela estava recitando o rosário no oratório das freiras, quando a Virgem apareceu de pé, em uma nuvem brilhante, de mãos abertas. No peito, uma cruz, dependurada num rosário aberto em círculo, que tocava suas mãos abertas e descia quase até os pés. A cabeça da Virgem era cercada por quinze estrelas. Sob seus pés havia duas nuvens, em cada uma das quais dois conjuntos de sete estrelas brilhavam.
Em 31 de maio desse ano, no mesmo oratório e sempre durante a oração do rosário, a freira teve uma segunda visão da Virgem. Nesta ocasião, ela teve pela primeira vez a inspiração interior que a levou à fundação das Irmãs do Rosário.
Uma série de visões, no ano seguinte, tornaram-na cada vez mais consciente do que a Virgem lhe pedia: fundar uma nova congregação dedicada ao Santo Rosário.
Ela foi então ao patriarca, que a ouviu graciosamente e indicou Dom Antônio Belloni para acompanhá-la como diretor espiritual. O missionário italiano fundou um instituto de assistência aos órfãos (hoje a Obra Salesiana), em Belém, em 1874, e foi popularmente chamado de “pai dos órfãos”.
No dia do terço do ano 1877, depois da comunhão, Irmã Maria Alfonsina teve uma nova visão: “Vi um convento disposto em forma de círculo como uma coroa. Nossa Senhora do Rosário estava no terraço, acima da entrada. Quinze janelas se abriram no perímetro do convento e todas as salas emolduravam uma Irmã do Rosário. Cada irmã escreveu seu nome e o nome do mistério [do rosário] que havia sido dado a ela acima da cabeça. Assim tivemos: Maria da Anunciação, Maria da Visitação, Maria da Natividade etc. Quanto a mim, me vi na décima janela, sob o nome de Maria da Cruz”. O nome era apropriado. Ela havia feito a vestição de seu hábito e emitira os votos sob o Calvário e no caminho começou a realizar um verdadeiro Calvário.
Administrar uma nova congregação não foi fácil. Antes de tudo era necessário abandonar a família religiosa a que pertencia. Depois de vinte anos de atividade e com resultados apostólicos unanimemente reconhecidos, não era previsível que os superiores, completamente alheios à sua experiência mística, concordassem com tal pedido. Um encontro decisivo foi com o Padre Joseph Tannus, que ao se tornar seu diretor espiritual e ficou pessoalmente interessado na fundação das Irmãs do Rosário. O padre há muito tempo conhecia o zelo da religiosa, mas queria ter certeza do caráter sobrenatural das visões. Uma vez convencido da autenticidade, pediu à irmã que elaborasse a narração completa dos pedidos da Santíssima Virgem sobre a congregação e pediu-lhe que elaborasse um esboço das Constituições. Era dia 8 de novembro de 1879.
Cinco moças apareceram e estavam disponíveis para levar adiante o projeto. Padre Tannus encontrou uma modesta casa de cinco cômodos na estrada entre o patriarcado e a paróquia de São Salvador, cujo aluguel perfazia a soma de 660 francos ao ano. A pequena família dos “cinco mistérios da alegria” se encontraria naquele pequeno convento em 24 de julho de 1880, às três da tarde.
Cada uma das moças teria falado sobre isso na família quinze dias antes, isto é, sábado, 10 de julho. Naquela manhã, o sacerdote as reuniu sob Calvário, no altar de Nossa Senhora das Dores e depois da missa, cada uma retornou para casa. Todas as famílias apresentaram dificuldades, mas ao final deixaram que as jovens seguissem o ideal delas. No sábado, 24 de julho, a pequena família religiosa se reuniu e entrou no convento temporário. A casa era pobre, típica de pobres e a primeira refeição foi de pão e zatar (pó de tomilho).
Depois de uma vida de oração, em 25 de março de 1927, enquanto recitava os quinze mistérios do rosário, pronunciando distintamente as palavras “Rogai por nós agora e na hora de nossa morte”, Maria Alfonsina entregou a alma a Deus. Foi sepultada em Jerusalém, na cripta do que em 1937 se tornou a igreja do Rosário. Após sua morte, seguindo as instruções de sua irmã, Madre Giovanna tirou o lacre dos dois cadernos que compunham o diário de Maria Alfonsina. Estavam bem selados, com cera vermelha, e continham as histórias das aparições. Ela entregou os escritos ao patriarca Luigi Barlassina, que, sem conhecer o árabe, os traduziu e os colocou nas mãos do superior geral.
Só então foi revelado o segredo de Madre Maria Alfonsina: foi a Santa Virgem que quis a Congregação do Rosário para a promoção das mulheres em sua pátria terrena.
O papa Bento XVI anunciou a cerimônia de beatificação da Irmã Maria Alfonsina para o dia 22 de novembro de 2009, na Basílica da Anunciação, em Nazaré, Israel. Segundo o pároco da cidade da Galileia, o franciscano Amjad Sabbara, foi a primeira beatificação realizada na Terra Santa, e por isso havia grande expectativa entre os católicos locais, sobretudo de Belém, Jerusalém e Ramallah. As autoridades israelenses concederam visto especiais aos convidados oriundos dos Territórios Palestinos. A cerimônia de beatificação foi presidida pelo Arcebispo Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e enviado especial do Papa para o evento.
No Sétimo Domingo de Páscoa, a 17 de maio de 2015, foi canonizada pelo Papa Francisco, na Praça de São Pedro, Vaticano, suas palavras:
A docilidade ao Espírito Santo também o tornou um instrumento de encontro e comunhão com o mundo muçulmano. A Irmã Maria Alfonsina Danil Ghattas também entendeu o que significa irradiar o amor de Deus no apostolado, tornando-se testemunha de mansidão e unidade. Ela nos oferece um exemplo claro de quão importante é tornar um ao outro responsável, viver um a serviço do outro.
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