São raros os dados sobre as origens, a infância e a juventude de José, o humilde carpinteiro de Nazaré, pai terrestre e adoptivo de Jesus Cristo, e esposo da Virgem de todas as virgens, Maria. Sabemos apenas que era descendente da casa de David. Mas, a parte de sua vida da qual temos todo o conhecimento basta para que sua canonização seja justificada. José é, praticamente, o último elo de ligação entre o Velho e o Novo Testamento, o derradeiro patriarca que recebeu a comunicação de Deus vivo, através do caminho simples dos sonhos. Sobretudo escutou a palavra de Deus vivo. Escutando no silêncio.
Nas Sagradas Escrituras não há uma palavra sequer pronunciada por José. Mas, sua missão na História da Salvação Humana é das mais importantes: dar um nome a Jesus e fazê-lo descendente de David, necessário para que as profecias se cumprissem. Por isso, na Igreja, José recebeu o título de "homem justo". A palavra "justo" recorda a sua retidão moral, a sua sincera adesão ao exercício da lei e a sua atitude de abertura total à vontade do Pai celestial. Também nos momentos difíceis e às vezes dramáticos, o humilde carpinteiro de Nazaré nunca arrogou para si mesmo o direito de pôr em discussão o projecto de Deus. Esperou a chamada do Senhor e em silêncio respeitou o mistério, deixando-se orientar pelo Altíssimo.
Quando recebeu a tarefa, cumpriu-a com dócil responsabilidade: escutou solícito o anjo, quando se tratou de tomar como esposa a Virgem de Nazaré, na fuga para o Egipto e no regresso para Israel (Mt 1 e 2, 18-25 e13-23). Com poucos mas significativos traços, os evangelistas o descreveram como cuidadoso guardião de Jesus, esposo atento e fiel, que exerceu a autoridade familiar numa constante atitude de serviço. As Sagradas Escrituras nada mais nos dizem sobre ele, mas neste silêncio está encerrado o próprio estilo da sua missão: uma existência vivida no anonimato de todos os dias, mas com uma fé segura na Providência.
Somente uma fé profunda poderia fazer com que alguém se mostrasse tão disponível à vontade de Deus. José amou, acreditou, confiou em Deus e no Messias, com toda sua esperança. Apesar da grande importância de José na vida de Jesus Cristo não há referências da data de sua morte. Os teólogos acreditam que José tenha morrido três anos antes da crucificação de Jesus, ou seja quanto Ele tinha trinta anos.
Por isso, hoje é dia de festa para a Fé. O culto a São José começou no Egipto, passando mais tarde para o Ocidente, onde hoje alcança grande popularidade. Em 1870, o Papa Pio IX o proclamou São José, padroeiro universal da Igreja e, a partir de então, passou a ser venerado no dia 19 de março. Porém, em 1955, o Papa Pio XII fixou também, o dia primeiro de maio para celebrar São José, o trabalhador. Enquanto, o Papa João XXIII, inseriu o nome de São José no Cânone romano, durante o seu pontificado.
Esta celebração tem profundas raízes bíblicas; José é o último patriarca que recebe as comunicações do Senhor através do caminho humilde dos sonhos. Como o antigo José, ele é o homem justo e fiel (Mt 1,19) que Deus colocou como guardião de sua casa. Ele liga Jesus, o rei messiânico, à linhagem de Davi. Marido e pai adotivo de Maria, ele guia a Sagrada Família em sua fuga e retorno do Egito, refazendo o caminho do Êxodo. Pio IX declarou-o padroeiro da Igreja universal e João XXIII incluiu seu nome no Cânon Romano.
Patrono: Padres, Carpinteiros, Operários, Moribundos, Mordomos, Solicitadores, Pobres, Exilados, Aflitos
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Etimologia: José = adicionado (na família), do hebraico
Emblema: Lírio
Martirológio Romano: Solenidade de São José, marido da Bem-Aventurada Virgem Maria: homem justo, nascido da linhagem de Davi, era pai do Filho de Deus Jesus Cristo, que queria ser chamado filho de José e sujeitar-se a ele como filho de seu pai. A Igreja venera-o com especial honra como padroeiro, colocado pelo Senhor para guardar a sua família.
No início da Escritura está escrito: «No princípio criou Deus o céu e a terra» (Gn 1, 1); E o Catecismo explica: "Ele os criou ex nihilo, isto é, do nada". Duas coisas importantes são afirmadas: de um lado, a natureza contraditória do devir e a inexistência do nada; e, de outro, a quietude e a eternidade do Ser Divino. Uma das dificuldades do verso parece ser a interpretação da expressão "No princípio".
Qualquer explicação literal ou temporal, como "antes do tempo" ou "no início ou início dos tempos" e afins, é simplesmente falsa, porque racionalmente não se pode pensar nem imaginar que houve algo antes da criação. O tempo, de fato, nasce com a própria criação. Antes da criação, portanto, não há nada, isto é, não há nenhum elemento, nenhuma energia, nenhuma imagem, nenhum motivo, nem mesmo um impulso arcano para a existência, mas apenas o nada! Por definição, o nada é inimaginável e impensável! Este é o sentido negativo de criar a partir do nada.
Positivamente, porém, afirma-se a existência do Ser Criador, na sua bem-aventurança intrínseca de amor, que mais tarde se revelará como estupenda realidade misteriosa da Unidade e da Trindade ao mesmo tempo: Pai, Filho e Espírito Santo. Consequentemente, ad extra Dei, isto é, fora de Deus, não há nada. E tudo o que é diferente vem unicamente da liberdade exclusiva e do poder todo-poderoso de Deus. Ora, Deus, em Sua Unicidade da Natureza e na Trindade das Pessoas, que se amam perfeitamente com infinito amor, nada precisa, porque em Si mesmo Ele é simplesmente simples e absolutamente perfeito; e novamente, como o que Deus faz é Divino, como Platão também diz no Timeu (41c 3-5), então racionalmente a criação não pode ser obra direta e imediata de Deus, mas apenas indireta e mediada, isto é, de um Deus Humanizado, que, livremente, "primeiro" cria e sublima a matéria com o pressuposto da "natureza humana", e, em seguida, dirige sua ação criadora do mundo universo para sua vinda histórica à Terra. A matéria, em si, é sede da necessidade, da contingência, da finitude, do movimento, da imperfeição, da limitação, da corrupção; enquanto Deus, da necessária liberdade e livre necessidade, da imobilidade perfeita, da eterna incorruptibilidade, da perfeição absoluta e infinita simples.
Como, então, explicar a criação?
Por meio da única obra ad extra de Deus, isto é, a Encarnação do Verbo, o Summum Opus Dei, como Duns Scotus o chama (Reportata Parisiensia, III, d. 7, q. 4, n. 4), e traduzido para a língua itálica com a Obra-Prima de Deus, (Duns Scotus, Antologia, editado por G. Lauriola, Ed. AGA - Alberobello 2007, 2ª ed., p. 187). Cristo, o Futuro, portanto, como verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, cria tudo o que existe tanto na ordem sobrenatural quanto na ordem natural; e, «na plenitude dos tempos, nasce [historicamente] de uma mulher» (Gl 4, 4), para cumprir livre e voluntariamente o desígnio divino e revelar com amor o mistério do Deus Uno e Trino: «Cristo é a imagem [substancial] do Deus invisível..." (Cl 1:15-17). Então a expressão "No princípio" não significa nada além de "Em Cristo", como também é interpretada pelos Padres; e o verso Gênesis, portanto, afirma, em seu sentido mais profundo, a preexistência de Cristo, que se expande por toda a Escritura, da pré-história ontológica à meta-história eescatológica através da história existencial da sua aventura divino-humana: «No princípio [em Cristo], Deus criou o céu e a terra» (Gn 1, 1); "Alfa e Ômega, princípio e fim, o primeiro e o último" (Ap 1:8; 22:13); "No princípio [em Cristo] era o Verbo..." (Jo 1,1).
O plano de Deus O plano de salvação, revelado na maior liberdade pelo mistério de Deus, manifesta ad extra a plenitude de vida e de amor que Deus contém em si mesmo e para si mesmo, fazendo do Verbo encarnado o seu silêncio trinitário. Tudo o que existe fora de Deus e não é obra do Verbo Encarnado. Ora, entre a acção eficaz do Verbo e o que é produzido, há um vínculo de dependência original que une cada criatura ao seu Criador, porque no efeito resplandece sempre algo da sua causa: têm a mesma natureza ou origem (Cf. Hb 2, 11).
A perfeição do efeito criado depende do grau de sua participação na causa criadora: quanto mais próximo ou mais semelhante estiver da causa, mais perfeito ele é. Entre as criaturas racionais, o homem, em virtude de sua autoconsciência e liberdade, possui a capacidade de reconhecer sua dependência da causa originária e de modelar sua vida nela: sua perfeição, portanto, é diretamente proporcional à sua proximidade e semelhança com a causa.
Deste modo, o Verbo encarnado, que torna «visível o mistério do Deus invisível» (Cl 1, 15), revela-se como causa eficaz, como causa formal e também como causa última do mundo universo e de cada ser, especialmente do homem, criado à imagem de Cristo e chamado à máxima participação com o seu Criador. E o próprio Verbo Encarnado se propõe como norma e regra do ser em qualquer modalidade existencial que se realize. De fato, uma realidade é o que é, não na medida em que é em si mesma, mas na medida em que está mais ou menos próxima do Verbo encarnado, que a causou. A "proximidade com o Verbo encarnado" torna-se, portanto, o princípio da perfeição e da santidade para o homem.
Todo ser, presente como ideia no plano de amor infinito de Deus, é chamado à existência por um ato livre e gratuito da Vontade divina, que o faz existir concretamente no mundo histórico, segundo o princípio da proximidade com Cristo, que Duns Scotus formulou no momento em que considerava Cristo em sua tríplice causalidade. Consequentemente, pode haver diferentes graus de participação no ser: como imagem, como vestígio e como sombra. Sua importância, portanto, não depende da mera natureza do ser, mas do grau de proximidade com Cristo, porque Cristo é a regra e a norma de perfeição tanto do ser universal quanto do singular.
Um princípio que também se aplica aos personagens chamados a realizar uma missão particular para a realização histórica do plano divino. Do Silêncio trinitário concretiza-se o Verbo, que, para se revelar fora de si, necessita de matéria, isto é, de um corpo visível; daí, o dom gratuito da Encarnação. Por isso, a matéria é primeiramente sublimada pelo Verbo, que em si é contingente, e, tomando-a em si, abre a possibilidade da própria criação do universo, do mundo espiritual e material.
O ser mais próximo do Cristo vindouro é certamente a Mãe, Aquela que participará direta e concretamente do corpo humanoou, visível e perfeito, segundo as modalidades que ele mesmo organizará no arco histórico até a "plenitude dos tempos" (Gl 4,4). E junto com a Mãe, é lógico supor também a figura do "pai" histórico, que garantiu a realização da aventura humana do Nascituro em respeito às leis existenciais da época. Assim, mesmo que em momentos lógicos e funcionais diferentes, no mistério da Encarnação do Verbo, tanto a "mãe" Maria como o "pai" José estão presentes em várias capacidades.
Ora, na execução histórica do plano divino, segundo a feliz intuição de Duns Scotus, a Mãe esteve sempre presente ao mesmo tempo que Cristo, unida no mesmo e idêntico decreto de predestinação por parte de Deus. Uma ideia que, na evolução histórica do mistério da Imaculada Conceição, seria confirmada com Pio IX em 1854, com a definição dogmática Ineffabilis Deus, que proclama a Mãe de Cristo Imaculada, baseada tanto no único e mesmo ato de predestinação, quanto na redenção antecipada ou conservante de Maria, também proposta por Duns Scotus, como "primeira redimida" na previsão dos méritos futuros de Cristo.
Assim, no plano divino já está presente a constituição do "casal" originário e originário, do qual todo ser, sobrenatural e natural, receberá vida, existência e graça. É um casal muito especial, porque é formado pelo Filho e pela Mãe, Cristo e Maria. A função de Cristo é de natureza, a de Maria é de graça. A ação do Filho é direta, a da Mãe é mediada. Assim começa o curso da aventura humana deste casal, que desde o Gênesis abrange todo o arco histórico até o Apocalipse, passando pelos dois esclarecimentos históricos da profecia, com Isaías (7:13-14) e Miqueia (5:1-3), e do Evangelho da infância com Lucas (2:1-52) e Mateus (1:1-25; 2:1-23). E é precisamente «na plenitude dos tempos» (Gl 4, 4), quando Cristo deve iniciar a sua aventura humana, que «emerge» a plena grandeza da personalidade histórica de José, «esposo» de Maria e «pai» adotivo de Jesus.
Significado do nome "José"
Assim como Cristo é o coração do Silêncio-de-Deus e Maria o coração do Silêncio-Palavra-de-Cristo, assim José, que etimologicamente significa "adicionado (por Deus)" ao casal original, vem gravitar totalmente na esfera desse silêncio esponsal e particularmente do silêncio de sua doce Noiva, em cuja sombra expressa e realiza toda a sua personalidade forte e delicada tanto como "guardião" das origens e como "protetor" da virgindade de sua noiva.
À luz do princípio escocês da proximidade a Cristo, é agradável ler tanto a Anunciação Lucana da Virgem (Lc 1, 26-27) como a Anunciação de José (Mt 1, 16-25), para apreender mais de perto alguns aspectos da vontade de Deus, expressa no seu plano de salvação. Deixando de lado a primeira por razões óbvias, a atenção deve se concentrar na segunda Anunciação, a fim de destacar a extrema sensibilidade de José para com as coisas divinas, que se manifestaram abertamente na configuração do casal especial e exclusivo do Filho-Mãe, em cuja órbita sua personalidade de "homem justo" gravita claramente, porque ele está mais próximo do que ninguém de Cristo e Maria. A proximidade histórica de José com isso O "casal" dá também origem à sua missão particular de salvaguardar o nascituro e também de garantir a escolha da virgindade da Mãe, como sinal da divindade do próprio Filho.
Por analogia com a de Lucas, a Anunciação Josefina de Mateus se dá em duas partes: uma, anterior às explicações angélicas, consiste nos sinais da maternidade de Maria, diante da qual José "se cala e pensa" na tentativa de discernir a decisão a ser tomada sobre a noiva e, no final, decide deixá-la em segredo; o outro, por outro lado, é o esclarecimento angélico que nos assegura o fato maravilhoso que está ocorrendo em Maria, pelo poder do Espírito Santo, ao qual se segue a proposta imediata de "levar consigo a sua Noiva".
O silêncio de Maria
O comportamento de
Maria é verdadeiramente desconcertante!
Por que ele não disse nada a José?
A resposta mais uma vez repousa no silêncio!
Maria cala-se. De fato, quem acreditaria em sua palavra? Maria refugia-se no silêncio e obriga o noivo a planear o movimento do repúdio libelo (Mt 1, 16-25), porque não podia acreditar nos seus olhos: a doce menina de Nazaré, sua noiva, está grávida! E no mistério, Maria fecha-se no silêncio adorador do seu fruto virginal.
No seu silêncio desconcertante, Maria, como que capturada pelo enorme mistério que nela se passa, arrasta também José para o silêncio arcano, aceite por ele apenas por proposta divina: "e levou-a consigo". E assim do casal original e originário de Cristo-Maria, Filho-Mãe, também brota um casamento sui generis, José-Maria. Tudo acontece longe de qualquer interferência da esfera humana: Maria respeita o silêncio de Deus, e José respeita os silêncios correspondentes de Maria.
O que se traz à luz nesta segunda Anunciação é a fé de José, que acolhe com amor, serenidade e alegria todo o mistério que se realiza na sua Esposa, para o guardar. Este é o significado do termo bíblico referido a ele como "homem justo". A intervenção divina provocada pelo silêncio de Maria deve ser interpretada como dupla. Por um lado, o Senhor vem em auxílio do seu «servo», que se declarou fiel até ao fim: «Seja-me segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Como se dissesse: diante da escolha do voto de virgindade perpétua de Maria e da desejada maternidade divina, o Senhor teve que encontrar uma saída para a intrincada situação que surgira.
Por outro lado, ele também deve intervir sobre José, assegurando-lhe inequivocamente sobre a natureza do acontecimento em sua Noiva, e o fez através do sonho: "José, não tenha medo de levar Maria sua esposa contigo, porque o que nela é gerado é do Espírito Santo" (Mt 1,20). Deste modo, José é confiado à guarda, protecção e recordação do grande mistério que se realiza em Maria, sua esposa. E assim o Senhor se manifesta muito superior à lei que Ele mesmo deu à natureza! Como consequência lógica, deve-se supor que, assim como José foi convidado a "não ter medo de tomar Maria como sua noiva", também Maria teve a certeza de que não tinha medo de tomar José como seu marido. Desse modo, Duns Escoto comenta, dirigindo-se a Maria: "O Espírito dá-vos José como guardião e testemunha da vossa virgindade, porque, como vós, está comprometido com o voto de continência" (Ordinatio, IV, d. 30, q. 2, n. 5).
Casamento com Maria
É claro que o casamento entre José e Maria é singular. Alguém poderia perguntar: é válido um casamento em que um dos cônjuges faz um voto absoluto de castidade? A questão é de natureza teológica e jurídica: a primeira, porque envolve a ação do Espírito Santo que coloca Maria em condição privilegiada de virgindade absoluta; e a outra, por envolver esclarecimentos sobre um casamento válido, ratificado, mas não consumado. Muitas hipóteses e conclusões foram levantadas para explicar a situação delicada e complexa. Eles podem ser agrupados em três principais: 1) aqueles que aceitam a validade do casamento e fazem o voto "condicional", se agradar a Deus; 2) os que acentuam o voto e reduzem o consentimento conjugal, considerando-o como uma relação de amizade; 3) os que conseguem conciliar as duas teses, da validade do matrimônio e do voto absoluto de Maria. Esta terceira possibilidade é proposta por Duns Scotus.
De acordo com essa terceira hipótese, o contrato de casamento e o voto de castidade podem andar juntos. A doação mútua de corpos está incluída no contrato de casamento, mas está sujeita a uma condição implícita, ou seja, "se for solicitada". Com efeito, se, após a cerimónia matrimonial, as partes contratantes desejarem fazer um voto de castidade, o seu casamento é válido para todos os efeitos, a menos que essa condição «se solicitado» seja cumprida. Para que a condição «se necessário» salve o contrato de votação, é necessário que as partes contratantes saibam com certeza que ele nunca será cumprido. Ora, que Maria e José tinham essa certeza é certo.
De fato, o Cantor da Imaculada Conceição assim se expressa: "Se há absoluta certeza de que a dita condição não será exercida, o contrato de casamento em nada prejudica o voto de castidade. No nosso caso, havia essa certeza. Lemos que o anjo informou a José: 'Não tenhais medo de levar Maria à esposa' (Mt 1,30). A fortiori, e sem sombra de dúvida, pode-se dizer que também Maria, antes de se prometer a José, foi assegurada pelo Anjo ou pelo próprio Deus: "Não tenhais medo de Maria tomar José, homem justo, como vosso marido". Pelo contrário, ele vos é dado pelo Espírito Santo como Guardião e Testemunha da [sua] virgindade, porque também Ele se vinculou a um voto igual" (Ordinatio, IV, d. 30, q. 2, n. 5).
À pergunta: O contrato de casamento ocorreu antes ou depois da Encarnação histórica? O voto de castidade de Maria, responde Duns Scotus, precede a Anunciação, assim como a Anunciação precede o casamento. E assim continua: Maria recebeu de Deus um mandato especial para contrair matrimônio com José, e enumera as razões: para a proteção da Mãe e para a proteção do Menino. Nesta interpretação, parece mais fácil compreender como Maria, já iluminada sobre todo o mistério da Encarnação, foi capaz de dar o seu assentimento ao matrimónio, sem incluir qualquer cláusula para o consumar. Portanto, seu casamento é válido em todos os aspectos. Os principais fins do casamento são respeitados: a procriação, a educação da prole e o amor mútuo.
Para além das interpretações individuais, que sempre subjazem
a um mistério, parece ser umÉ difícil refletir um pouco sobre a decisão de José de se casar com Maria de qualquer maneira, mesmo estando grávida, em relação não só a ela, mas sobretudo ao Nascituro e sua missão. De acordo com as leis vigentes na época, não só Maria não teria tido vida fácil, como chegou a arriscar "apedrejamento"; enquanto o Menino não tinha a certeza de uma evolução serena e digna, nem para o seu crescimento pessoal, nem para o seu ministério de levar a Boa Nova aos homens.
A decisão corajosa de José, portanto, salva Mãe e Filho de situações críticas em uma cidade pequena, como Nazaré, onde tudo passava de boca em boca: uma mãe solteira e um filho sem pai! José, por outro lado, com a ajuda da intervenção divina no sonho, manifesta firme decisão e delicada firmeza, a ser confirmada em sua "justiça", segundo a ação própria da fé que nunca deixa o coração em paz, deixando paz no coração. Antes que os sinais da gravidez fossem evidentes, José, novamente sob a direção do "anjo do Senhor, levou consigo sua noiva..." (Mt 1,24), e apressou-se para a celebração do matrimônio.
O nascimento da personalidade do Menino
José revela-se não só na decisão muito delicada de salvaguardar e garantir a virgindade perpétua de Maria, mas sobretudo em assegurar um futuro digno e seguro para o Menino, que nasceria, segundo o desígnio de Deus, precisamente em Belém, da raiz de Jessé, de quem descendia (Mt 1, 20; Lc 1,27). Com que sentimentos teve que conduzir sua noiva grávida da Galileia para a Judeia, a fim de cumprir o dever do censo, onde se cumprirá a profecia de Miqueias: "E tu, Belém, tão pequena para ser capital de Judá, de ti virá aquele que há de ser o governante de Israel" (5:1). As circunstâncias de seu nascimento devem ter fortalecido na fé a decisão fortemente desejada por José. E assim como Maria guardava cada acontecimento e circunstância em seu coração, também José pensava e refletia sobre cada detalhe que cercava o evento do Nascituro e meditava nele com alegria em seu coração.
Uma alegria dolorosa, porém, posta à prova por tantas outras circunstâncias proféticas e externas que se manifestaram em torno do Menino. Da "apresentação no templo", em que ouviu aquelas estranhas profecias do velho Simeão, quando, elevando o Menino ao céu como sinal de oferta e consagração ao mesmo tempo, o chamou de "sinal de contradição" (Lc 2,34); e profetizou a Mãe: «Uma espada perfurar-lhe-á a alma» (Lc 2, 35). O coração de um "pai" sentia-se profundamente abalado em seus fundamentos, mas José mantinha a maestria e a serenidade para si e para a Noiva, que, enquanto ela balançava o Menino para colocá-lo para dormir, assim em seu coração os sentimentos conflitantes ferviam continuamente. A presença madura e adulta de José, tanto humana quanto na fé, era um ponto de referência seguro para Maria, mesmo que as angústias e preocupações pelo Menino nunca deixassem de pulsar em seu coração, imerso no profundo silêncio arcano da vontade divina.
Não é difícil adivinhar os pensamentos e sentimentos conflitantes que incomodaram José e Maria ao noticiar, sobre a necessidade de proteger o Menino, procurado por Herodes para matá-lo, que como "bom político" quer eliminar o "rival", que acaba de aparecer Em plena luz do dia. O poder político, quando é totalitário, nunca se contradiz. Ser avisado, à noite, do perigo que o Menino corria, é o cúmulo do sofrimento humano para os dois corações simples, cheios de fé e amor. E assim se abre o caminho do exílio egípcio. A provação humana e a prova de fé que José e Maria experimentaram juntos, só pode ser descrita por aqueles que a experimentaram. Deste modo, o Senhor quis forjar o coração de José no cadinho do sofrimento mais profundo e amargo, carregando o fardo da família e assegurando as necessidades da vida numa terra estrangeira, sem trabalho seguro ou lar estável. A única certeza é a confiança na Palavra do Anjo.
Dificuldades de todos os tipos, dificuldades além da medida, incertezas além da imaginação devem ter sido as companheiras próximas de José naqueles poucos anos passados na antiga e nobre terra do Egito, de onde se origina o povo escolhido com Moisés. Parece uma coincidência fortuita e, no entanto, talvez, haja um desígnio divino secreto por trás disso. Por analogia, José pode ser comparado mutatis mutandis a Moisés, que foi chamado para trazer o mais perfeito e governante do povo, Jesus, de volta a uma terra segura e à sua própria terra. De fato, o mensageiro divino não demorou a chegar, assim que as circunstâncias históricas mudaram com a morte de Herodes (Mt 1,19-23). Nesta passagem evangélica, mais uma vez, revela-se toda a extensão da maturidade da fé de José, que se abandona sempre e completamente à vontade celeste, apesar de todas as adversidades da vida.
Retorno a Nazaré e ansiedade pelo Menino
Parecia que a serenidade havia voltado após o retorno à Galileia, onde a vida finalmente fluía na mais absoluta normalidade: trabalho, família e religiosidade. E foi justamente numa época de religiosidade sincera para a Páscoa em Jerusalém que José levou consigo a Noiva e a Criança de Doze Anos. A imensa alegria da Páscoa, no entanto, logo se transformou em uma situação trágica, muito angustiante com a perplexidade inexplicável de Jesus. O que sente o coração de um pai e de uma mãe quando percebem que seu Filho não está com eles! Três dias verdadeiramente angustiantes e comoventes, mesmo para um coração treinado para sofrer e viver incógnito. A percepção física da ausência da Criança é a maior fonte de profunda turbulência interior e muito mais. A busca frenética e malsucedida poderia ter enviado os pensamentos de José e Maria para longe, para a tentativa fracassada de Herodes.
Alguma reminiscência do medo herodiano terá sido despertada e terá tornado ainda mais trágica a busca frenética pelo Menino nas fileiras da caravana de regresso. Mas em vão. E a noite sem o Menino ficou mais escura. Orações, angústias e silêncios prolongados devem ter preenchido todo o tempo dos três dias de José e Maria. Assim como a aventura nasceu em silêncio, também parecia terminar em silêncio. A esperança morre muito. E ela foi recompensada quando encontraram Jesus discutindo no templo entre os doutores da lei. Finalmente, o silêncio da ausência foi preenchido e a calma voltou. E Jesus tratou "com mais respeito" para com seus pais terrenos.
A cortina sobre José
Com este episódio, as informações reveladas sobre José cessam. Sua vida se abre com o silêncio e termina no silêncio. A chave parece ser esta: do silêncio de Deus em Cristo ao silêncio em Deus com Cristo. José é fiel a Cristo em Maria e em Cristo com Maria.
Autor: Padre Giovanni Lauriola, OFM
O nome José é de origem hebraica e significa "Deus acrescenta", em linhas gerais pode-se dizer "adicionado na família". Pode ter começado com o nome do filho de Jacó e Raquel, que foi vendido como escravo por ciúmes de seus irmãos. Mas é certamente do pai putativo, isto é, considerado como tal, de Jesus e também considerado como o último dos patriarcas, que o nome José se tornou cada vez mais popular ao longo do tempo. No Oriente a partir do século IV e no Ocidente pouco antes do século XI, ou seja, desde que seu culto começou a se espalhar entre os cristãos. Não há dúvida, no entanto, de que a fama desse nome se fortaleceu na Europa depois que muitas figuras da história e da cultura nos séculos XIX e XX o suportaram secularmente, para o bem ou para o mal: de Francisco José de Habsburgo a Garibaldi, de Verdi a Stalin, de Garibaldi a Ungaretti e muitos outros.
São José era o esposo de Maria, chefe da "santa família" na qual Jesus, filho de Deus Pai, nasceu misteriosamente pelo poder do Espírito Santo. E ao dirigir sua vida sobre os leves traços de alguns sonhos, dominados pelos anjos que trouxeram as mensagens do Senhor, tornou-se uma luz de paternidade exemplar. Ele certamente não foi um ausente. É verdade que ele era muito silencioso, mas até os trinta anos de vida do Messias, ele estava sempre ao lado de seu filho com fé, obediência e disposição para aceitar os planos de Deus. Começou a aquecê-lo no pobre berço do estábulo, salvou-o no Egito quando necessário, teve o cuidado de procurá-lo quando tinha doze anos e ele "desapareceu" no templo, teve-o consigo no seu trabalho de carpinteiro, ajudou-o com Maria a crescer "em sabedoria, idade e graça". Ele provavelmente deixou Jesus pouco antes de "o Filho do Homem" começar sua vida pública, morrendo pacificamente em seus braços. Não é por acaso que seu pai também é venerado há séculos como o santo padroeiro de uma boa morte.
José era, como Maria, descendente da casa de Davi e de linhagem real, uma nobreza nominal, porque a vida o obrigava a ser artesão na aldeia, a trabalhar na cuidadosa marcenaria. De sua oficina saíram ferramentas para os camponeses e pastores, bem como móveis humildes e utensílios domésticos para as pobres habitações da Galileia, todos construídos pela habilidade daquelas mãos ásperas e calejadas.
Não se sabem muitas coisas certas sobre ele, assim como os evangelistas Mateus e Lucas relataram canonicamente. Por outro lado, os chamados evangelhos apócrifos se entregavam em torno de sua figura. No entanto, personalidades de autoridade como São Jerônimo (c. 347-420), Santo Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1225-1274) se distanciaram de muitas de suas informações lendárias. Vale mencionar apenas uma lenda que circulou em torno de seu casamento com Maria. Na ocasião, teria havido uma disputa entre os aspirantes pela mão da jovem. Essa corrida teria sido vencida por Giuseppe, pois o pau seco que o representava, de acordo com o regulamento, teria florescido repentina e prodigiosamente. Obviamente, isso significava que a graça da Redenção havia florescido do toco murcho do Antigo Testamento.
São José não é apenas o padroeiro dos pais de família como "modelo sublime de vigilância e providência", como também da Igreja universal, com uma festa solene no dia 19 de março. Hoje ele também é muito celebrado nos campos litúrgico e social no dia 1º de maio como padroeiro dos artesãos e operários, assim proclamado pelo Papa Pio XII. O Papa João XXIII até lhe confiou o Concílio Vaticano II. A tradição diz, no entanto, que ele é o protetor especificamente dos carpinteiros, marceneiros e carpinteiros, mas também dos pioneiros, dos sem-teto, do Monti di Pietà e de seus empréstimos de penhores. Ele é até orado, talvez mais no passado do que hoje, contra as tentações carnais.
Que o culto a São José atingiu picos de popularidade no passado também é demonstrado pelas declarações de muitas igrejas relacionadas à presença de suas relíquias. Para dar alguns exemplos particularmente significativos: na igreja de Notre-Dame, em Paris, há alegadamente anéis de noivado, dele e de Maria; Diz-se que Perugia possui sua aliança de casamento; na igreja parisiense do Foglianti há fragmentos de um de seus cintos. Novamente: em Aachen os curativos ou sapatos que teriam enrolado suas pernas são exibidos e os camaldulenses da igreja de S. Maria degli Angeli em Florença declaram estar em posse de seu cajado. É definitivamente uma boa "adição" de fé.
Autor: Mário Benatti
José representa o pai, não por descendência biológica, mas no sentido mais verdadeiro. O pai é aquele que cuida dos filhos, os ama, os protege, cuida deles, seguindo-os em sua jornada. As virtudes conhecidas de São José são paciência, equilíbrio, dignidade, escuta, bondade e obediência. E por obediência aceita a Palavra de Deus, assumindo o papel de chefe da família com todas as responsabilidades para com aqueles que lhe foram confiados.
José, um homem justo, humilde, silencioso (os Evangelhos não registram nenhuma de suas palavras), pronto para agir, mas bastante tímido, vive em Nazaré, na Galileia, e é noivo de Maria. Ele é um artesão carpinteiro descendente da linhagem de Davi. Quando José fica sabendo da gravidez de sua futura noiva, ele secretamente decide repudiá-la. À noite, porém, um anjo lhe aparece em sonho e lhe diz para se casar com Maria, porque o filho que ele tem em seu ventre, que se chamará Jesus, é fruto do Espírito Santo. José crê e obedece casando-se com Maria. Ele também a protege quando ela tem que fugir para o Egito para escapar da perseguição do rei Herodes, apenas para voltar com Maria e Jesus de volta a Nazaré.
José é um trabalhador e educa Jesus ensinando-lhe o ofício de carpinteiro. A figura de José ao lado de Maria é importante por suas ações como homem que luta pela lei de Deus, dedicado ao cuidado de sua família. Um homem que não quer ser o detentor do comando, mas o exemplo do pai sábio e amoroso. Não há informações sobre a data de sua morte, mas presume-se que ele morreu quando Jesus tinha cerca de trinta anos de idade. Na cruz, Jesus não teria confiado sua mãe a seu discípulo João se José ainda estivesse vivo.
Seu símbolo é o bastão florido de lírios, um sinal de pureza. Ele é o protetor da família, dos pais, das meninas a serem casadas, dos trabalhadores em geral, incluindo, em particular, artesãos, operários, carpinteiros, decoradores. Também protege os sem-teto, exilados, viajantes e o Monti di Pietà. Declarado padroeiro da Igreja Católica, é invocado para obter um bom casamento. O Dia de São José é comemorado em 19 de março, dia em que se comemoram os pais, mas também no Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador.
Autora: Mariella Lentini
Fonte:
Mariella Lentini, guia dos Santos Companheiros para todos os dias
Notas: A data de culto de São José em alguns anos é transferida. Isso acontece quando o dia 19 de março cai na Semana Santa (por exemplo, em 2008) ou coincide com um domingo da Quaresma (em 1995, 2017 e 2023) ou Domingo de Ramos. (Decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos de 22.04.1990).
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