Evangelho segundo São Marcos 7,24-30.
Naquele tempo, Jesus dirigiu-Se para a região de Tiro e Sidónia. Entrou numa casa e não queria que ninguém o soubesse. Mas não pôde passar despercebido,
pois logo uma mulher, cuja filha tinha um espírito impuro, ao ouvir falar dele, veio prostrar-se a seus pés.
A mulher era pagã, siro-fenícia de nascimento, e pediu-Lhe que expulsasse o demónio de sua filha.
Mas Jesus respondeu-lhe: «Deixa primeiro que os filhos estejam saciados, pois não está certo tirar o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos».
Ela, porém, disse: «Senhor, também é verdade que os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas das crianças».
Então Jesus respondeu-lhe: «Dizes muito bem. Podes voltar para casa, porque o demónio já saiu da tua filha».
Ela voltou para casa e encontrou a criança deitada na cama. O demónio tinha saído.
Tradução litúrgica da Bíblia
Monge cisterciense
Sermão 33, 1.º para o segundo domingo da Quaresma
«Jesus dirigiu-Se para a região de Tiro»
«Jesus dirigiu-Se para a região de Tiro e Sidónia». Quando o Verbo, a Palavra de Deus, «Se fez carne e habitou entre nós» (Jo 1,14), saiu do Pai para vir ao mundo (cf Jo 16,28); «tendo a natureza de Deus», saiu da sua pátria para «Se aniquilar a Si mesmo, tomando a condição de servo» (Fil 2,6-7), «a nossa condição humana de pecadores» (Rom 8,3), a fim de ser encontrado por aqueles que deixaram o seu próprio território para se encontrarem com Ele na região de Tiro e Sidónia. Esta mulher cananeia parte do interior do seu território (cf Mt 15,22), e encontra, na fronteira da sua região, o médico que fora ter com ela voluntariamente, saído do território dele graças à sua misericórdia. Cheio de bondade, Ele apresenta-Se em território estrangeiro à doente que não poderia abordá-lo se tivesse permanecido no seu território. Porque, enquanto Deus, bem-aventurado, justo e forte, Ele estava no alto, aonde o homem miserável estava proibido de aceder. Portanto, cheio de compaixão, fez o que era apropriado à piedade: veio ter com o pecador.
Saiamos pois, irmãos, saiamos do lugar da nossa própria injustiça. Se odiares o pecado, terás saído do pecado. Quando odeias o pecado, encontras a Cristo. Mas dirás que mesmo isso é muito para ti, e que, sem a graça de Deus, é impossível ao homem odiar o pecado, desejar a justiça, não querer pecar e querer arrepender-se. «Louvado seja o Senhor, pela sua misericórdia e pelas maravilhas que fez em favor dos filhos dos homens!» (Sl 106,8). Com efeito, se foi pela sua graça que Ele Se retirou visivelmente para a região de Tiro e Sidónia, onde a mulher podia encontrá-lo, também foi pela graça que puxou secretamente esta mulher para fora de si.
Esta mulher simboliza a Igreja, predestinada desde sempre, chamada e justificada no tempo, destinada à glória no fim dos tempos (cf Rom 8,30), que pede incessantemente pela sua filha, isto é, por cada um dos eleitos.
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