domingo, 13 de outubro de 2019

São John Henry Cardeal Newman

John Henry Cardeal Newman
CO (Londres, 21 de fevereiro de 1801 — Edgbaston, 11 de agosto de 1890) foi um sacerdote anglicano inglês convertido ao catolicismo, posteriormente nomeado cardeal pelo papa Leão XIII em 1879. Foi beatificado no dia 19 de setembro de 2010 pelo Papa Bento XVI e posteriormente canonizado pelo Papa Francisco no dia 13 de outubro de 2019. Estudou no Trinity College de Oxford (1816) e no Oriel College (1822) e foi ordenado sacerdote da Igreja Anglicana. Tornou-se mais tarde num dos líderes do "Movimento de Oxford". Naquela época, ele considerava o anglicanismo de seu tempo excessivamente protestante e laicizado e considerava o catolicismo corrompido em relação às origens do cristianismo. Buscou uma "via média" entre os dois, e, pesquisando sobre os primórdios da Igreja Católica e do cristianismo em geral, terminou por converter-se ao catolicismo. Depois de sua conversão ao catolicismo (1845), ele foi ordenado sacerdote da Igreja Católica em Roma (1847), abriu e dirigiu em Birmingham um oratório de São Filipe Néri e foi ainda reitor da Universidade Católica da Irlanda (1854). 
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Pensamento e Apostolado
O seu pensamento é representativo da "filosofia da ação e da filosofia da vida" e o seu "apostolado no campo da inteligência exercido por Newman foi intenso. As suas obras completas atingem a 37 tomos, versando sobre os mais variados assuntos 
— teologiafilosofialiteraturahistóriaespiritualidade — 
e os arquivos do Oratório conservam as 70.000 cartas que escreveu. As obras que publicou sobre a Universidade de Dublin, tornaram-se clássicas para a literatura católica. Os seus Sermões espelham todos eles sólida piedade e grande amor pelas almas".
Sobre o desenvolvimento da doutrina
Uma contribuição muito importante do seu pensamento teológico foi o desenvolvimento da doutrina católica, que foi considerado pelo Papa Bento XVI como um "contributo decisivo [de Newman] para a renovação da teologia". Esta contribuição foi introduzida no livro Ensaio sobre o Desenvolvimento da Doutrina Cristã, escrita por Newman em 1845. Neste livro, Newman usou a ideia do desenvolvimento da doutrina para defender a doutrina católica de ataques e críticas feitas por alguns anglicanos e protestantes, que achavam que alguns elementos da doutrina católica eram corrupções ou inovações contrárias aos ensinamentos de Jesus Cristo.
Ele argumentou também que várias doutrinas católicas rejeitadas pelos protestantes (tais como a hiperdulia ou o purgatório) tinham uma história de desenvolvimento análoga às doutrinas que foram aceites pelos protestantes (tais como a Santíssima Trindade ou a união hipostática de Cristo). Este desenvolvimento foi, em sua opinião, as consequências naturais e benéficas do estudo e reflexão da razão humana sobre a Revelação divina, que é imutável. Ele defendia que este estudo teólogico levaria a Igreja Católica a aperceber progressivamente de certas realidades reveladas que antes não tinha compreendido explícita e totalmente.
Papa Bento XVI salientou que "a concepção de Newman sobre a ideia do desenvolvimento marcou o seu caminho rumo ao catolicismo. Contudo não se trata apenas de um desenvolvimento coerente de ideias. No conceito de desenvolvimento está em jogo a própria vida pessoal de Newman, [...] a própria experiência pessoal de uma conversão jamais concluída." O Papa afirmou ainda que, com esta concepção teológica, Newman "ofereceu-nos a interpretação não só do caminho da doutrina cristã, mas também da vida cristã".
Sobre a primazia e a infalibilidade papais
O cardeal Newman defendeu que "infalibilidade da Igreja é como uma medida adotada pela misericórdia do Criador para preservar a [verdadeira] religião no mundo e para refrear aquela liberdade de pensamento que, evidentemente, em si mesma, é um dos nossos maiores dons naturais, mas que urge salvar dos seus próprios excessos suicidas."
O cardeal Newman defendeu ainda que a primazia papal, cuja força provinha da Revelação divina, "completa a consciência natural iluminada de maneira apenas incompleta, e “a sua razão de ser é o facto de ser o campeão da lei moral e da consciência”". Logo, para Newman, a liberdade de consciência, que também implica o cumprimento obrigatório dos deveres divinos ditados pela própria consciência, é compatível com a primazia e infalibilidade papais.
Escritório do Card. Newman no Oratório de Birmingham
Conversão de Newman
No seu discurso por ocasião da troca de votos natalícios com a Cúria Romana, no dia 20 de Dezembro de 2010, o Papa Bento XVI salientou o percurso da conversão de Newman e o desenvolvimento do seu pensamento, que acompanhou a sua conversão:
"Devemos aprender das três conversões de Newman, porque são passos de um caminho espiritual que nos interessa a todos. Aqui desejo pôr em evidência apenas a primeira: a conversão à  no Deus vivo. Até àquele momento, Newman pensava como a média dos homens do seu tempo e como a média dos homens também de hoje, que não excluem pura e simplesmente a existência de Deus, mas consideram-na em todo o caso como algo incerto, que não tem qualquer função essencial na própria vida. Como verdadeiramente real apresentava-se-lhe, a ele como aos homens do seu e do nosso tempo, o empírico, aquilo que se pode materialmente agarrar. Esta é a «realidade» segundo a qual nos orientamos. O «real» é aquilo que se pode agarrar, são as coisas que se podem calcular e pegar na mão. Na sua conversão, Newman reconhece precisamente que as coisas estão ao contrário: Deus e a alma, o próprio ser do homem a nível espiritual constituem aquilo que é verdadeiramente real, aquilo que conta. São muito mais reais que os objectos palpáveis. Esta conversão significa uma viragem copernicana. Aquilo que até então lhe apareceu irreal e secundário, revela-se agora como a realidade verdadeiramente decisiva. Onde se dá uma tal conversão, não é simplesmente um teoria que é mudada; muda a forma fundamental da vida. De tal conversão todos nós temos incessante necessidade: então estaremos no recto caminho."
"Em Newman, a forma motriz que impelia pelo caminho da conversão era a consciência. Com isto, porém, que se entende? No pensamento moderno, a palavra «consciência» significa que, em matéria de moral e de religião, a dimensão subjectiva, o indivíduo, constitui a última instância de decisão. O mundo é repartido pelos âmbitos do objectivo e do subjectivo. Ao objectivo pertencem as coisas que se podem calcular e verificar através da experiência. Uma vez que a religião e a moral se subtraem a estes métodos, são consideradas como âmbito do subjectivo. Aqui não haveria, em última análise, critérios objectivos. Por isso a última instância que aqui pode decidir seria apenas o sujeito; e é isto precisamente o que se exprime com a palavra «consciência»: neste âmbito, pode decidir apenas o indivíduo, o individuo com as suas intuições e experiências. A concepção que Newman tem da consciência é diametralmente oposta. Para ele, «consciência» significa a capacidade de verdade do homem: a capacidade de reconhecer, precisamente nos âmbitos decisivos da sua existência – religião e moral –, uma verdade, a verdade. E, com isto, a consciência, a capacidade do homem de reconhecer a verdade, impõe-lhe, ao mesmo tempo, o dever de se encaminhar para a verdade, procurá-la e submeter-se a ela onde quer que a encontre. Consciência é capacidade de verdade e obediência à verdade, que se mostra ao homem que procura de coração aberto. O caminho das conversões de Newman é um caminho da consciência: um caminho não da subjectividade que se afirma, mas, precisamente ao contrário, da obediência à verdade que pouco a pouco se abria para ele."
"A sua terceira conversão, a conversão ao Catolicismo, exigia-lhe o abandono de quase tudo o que lhe era caro e precioso: os seus haveres e a sua profissão, o seu grau académico, os laços familiares e muitos amigos. A renúncia que a obediência à verdade, a sua consciência, lhe pedia, ia mais além ainda. Newman sempre estivera consciente de ter uma missão para a Inglaterra. Mas, na teologia católica do seu tempo, dificilmente podia ser ouvida a sua voz. Era demasiado alheia à forma dominante do pensamento teológico e mesmo da devoção. Em Janeiro de 1863, escreveu no seu diário estas palavras impressionantes: «Como protestante, a minha religião parecia-me miserável, mas não a minha vida. E agora, como católico, a minha vida é miserável, mas não a minha religião». Não chegara ainda a hora da sua eficácia. Na humildade e na escuridão da obediência, ele teve de esperar até que a sua mensagem fosse utilizada e compreendida. Para poder afirmar a identidade entre o conceito que Newman tinha da consciência e a noção subjectiva moderna da consciência, comprazem-se em fazer referência à sua palavra, segundo a qual ele – no caso de ter de fazer um brinde – teria brindado primeiro à consciência e depois ao Papa. Mas, nesta afirmação, «consciência» não significa a obrigatoriedade última da intuição subjectiva; é a expressão da acessibilidade e da força vinculadora da verdade: nisto se funda o seu primado. Ao Papa pode ser dedicado o segundo brinde, porque a sua missão é exigir a obediência à verdade."

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