Evangelho segundo S. Mateus 16,21-27.
Naquele
tempo, Jesus começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém
e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos
escribas; que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro,
tomando-O à parte, começou a contestá-l’O, dizendo: «Deus Te livre de tal,
Senhor! Isso não há-de acontecer!». Jesus voltou-Se para Pedro e disse-lhe:
«Vai-te daqui, Satanás. Tu és para mim uma ocasião de escândalo, pois não tens
em vista as coisas de Deus, mas dos homens». Jesus disse então aos seus
discípulos: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas quem perder
a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Na verdade, que aproveita ao
homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Que poderá dar o homem em
troca da sua vida? O Filho do homem há-de vir na glória de seu Pai, com os
seus Anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras».
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do
dia:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África),
doutor da Igreja, Sermão 96
Quando o Senhor impõe ao homem que quer
segui-Lo que renuncie a si mesmo, achamos que os seus mandamentos são difíceis e
duros de ouvir. Mas, se aquele que ordena nos ajuda a cumprir o que ordena,
então esses mandamentos deixam de ser difíceis e penosos. [...] É igualmente
verdadeira aquela outra palavra saída da boca do Senhor: «O meu jugo é suave e o
meu fardo é leve» (Mt 11,30). Com efeito, o amor suaviza o que os preceitos
podem ter de penoso. Conhecemos todas as maravilhas que o amor pode realizar.
[...] Que dificuldades não enfrentaram os homens, que condições de vida indignas
e intoleráveis não suportaram para atingirem o objeto do seu amor! [...] Porque
nos admiramos se aquele que ama Cristo e quer segui-Lo renuncia a si mesmo para
O amar? Porque, se o homem se perde amando-se a si mesmo, deverá sem dúvida
alguma encontrar-se renunciando a si mesmo.
Que homem se recusaria a
seguir Cristo até à morada da felicidade perfeita, da paz suprema e da
tranquilidade eterna? É bom segui-Lo até aí; mas é preciso conhecer o caminho
para lá chegar. [...] O caminho parece-te cheio de asperezas, repugna-te, não
queres seguir a Cristo. Vai atrás dele! O caminho que os homens traçaram é
pedregoso, mas foi aplanado quando Cristo o percorreu ao voltar ao Céu. Que
homem se recusaria, pois, a avançar em direção à glória?
Todos gostamos
de nos elevar até à glória, mas temos de o fazer pela escada da humildade.
Porque levantas o pé acima da tua própria altura? Quererás cair em vez de subir?
Começa pelo primeiro degrau: já começaste a subir. Os dois discípulos que
diziam: «Senhor, permite-nos que, no teu Reino, nos sentemos, um à tua direita e
outro à tua esquerda» não deram atenção à escada da humildade. Visavam o cume,
mas não viam os degraus. Mas o Senhor mostrou-lhos. Na verdade, o que foi que
Ele respondeu? «Podeis beber do cálice que Eu vou beber? (Mc 10,37-38) Vós que
desejais atingir o cume das honras, podeis beber o cálice da humildade?» Foi por
isso que Ele não Se limitou a dizer, de uma maneira genérica: «Renuncie a si
mesmo e siga-Me», mas acrescentou: «Tome a sua cruz e siga-Me».
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