Evangelho segundo S. Mateus 5,17-19.
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os
Profetas; não vim revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes que
passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais
pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só
destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens,
será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande
no reino dos Céus.
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
Orígenes (c. 185-253), presbítero,
teólogo
Homilias sobre o livro dos Números, 9, 4
Desejo recordar aos discípulos de Cristo a
bondade de Deus; que nenhum de vós se deixe abalar pelos hereges que, em
controvérsia, afirmam que o Deus da Lei não é bom, mas justo, e que a Lei de
Moisés não ensina a bondade, mas a justiça. Eles que observem, esses detratores
de Deus e da Lei, como o próprio Moisés e Aarão cumpriram antecipadamente aquilo
que o Evangelho depois ensinou. Vede como Moisés ama os seus inimigos e ora por
aqueles que o perseguem (Mt 5,44) [...]; vede como, «prostrando-se com o rosto
em terra», oram ambos por aqueles que se tinham rebelado e pretendiam matá-los
(Nm 17,10s). Deste modo, encontramos o Evangelho em potência na Lei, e temos de
compreender que os Evangelhos se apoiam no fundamento da Lei.
Por mim,
não dou o nome de Antigo Testamento à Lei, quando a considero em termos
espirituais; a Lei só é um testamento antigo para aqueles que não desejam
compreender o seu espírito. Para esses, a Lei tornou-se obrigatoriamente antiga,
envelheceu, porque perdeu a sua força. Para nós, porém, que a compreendemos e a
explicamos em espírito e em conformidade com o Evangelho, a Lei permanece nova;
para nós, os dois Testamentos são um novo Testamento, não pela data, mas pela
novidade de sentido.
E o apóstolo João é do mesmo parecer, quando exorta
na sua primeira epístola: «Caríssimos, amemo-nos uns aos outros» (4,7; cf Jo
13,34). Bem sabia ele que o preceito do amor se encontrava, desde há muito, na
Lei (1Jo 2,7s; cf Lev 19,18). Mas, como «a caridade nunca acabará» (1Cor 13,8),
[...] afirma a eterna novidade deste preceito que não envelhece. [...] Para o
pecador, e para aqueles que não observam o pacto da caridade, até os Evangelhos
envelhecem; pois não pode haver um Novo Testamento para aquele que não se
despoja do homem velho e não se reveste do homem novo, criado segundo Deus (Ef
4,22-24).
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